Educar com ar (livre)
Vamos dar-lhe uma informação para a qual se calhar não está preparado e que provavelmente vai querer discutir: as crianças que vivem em sociedades consideradas desenvolvidas, à semelhança da nossa, são os cidadãos com maior carga horária laboral. Pense nisso, não são só as cinco horas de aulas (em média) a que uma criança do 1º ciclo assiste.
Juntando as atividades extracurriculares, os TPC e as explicações - e de certeza que ainda podíamos acrescentar alguma coisa à lista - as crianças têm mais de 8 horas diárias preenchidas com obrigações. Se dormirem um mínimo indispensável de 8 horas, sobram 8 horas para distribuir pelas refeições, higiene, deslocações... quanto sobra para brincar livremente sem imposições?
Temos hoje uma sociedade melhor, sem dúvida. Podemos hoje oferecer mais aos nossos filhos, dar-lhes mais objetos, experiências e conhecimento, mas em troca estamos a exigir também mais, muito mais. Estamos a exigir-lhes mais maturidade numa fase de desenvolvimento em que provavelmente estaríamos nós, na nossa infância, mais preocupados com trocas de autocolantes e em dominar o melhor arremesso de uma bola contra as redes da baliza lá da escola. Mais ainda, o aumento da utilização de gadgets tecnológicos, mais do que fomentar a aprendizagem, parece fazer desaparecer as outras brincadeiras, as que há 20 ou 30 anos faziam as delícias das crianças, como a "apanhada" ou as "escondidas".
Com tudo aquilo que estamos a oferecer às nossas crianças, estamos a roubar-lhes o tempo para brincar, para serem verdadeiramente crianças.
Este problema ficou patente de forma chocante num estudo que a marca Skip levou a cabo recentemente, onde apurou que cerca de 70% das crianças portuguesas passa menos tempo ao ar livre do que um recluso detido numa prisão. Vamos parar um minuto para pensar no que isso significa.
Significa menos desenvolvimento físico, menos desenvolvimento cognitivo, menos perceção espacial, menos raciocínio lógico, menor relação com o mundo real, com o qual acabam por ter um contacto frugal, no caminho para a escola, através da janela do carro.
Como é que uma marca de detergentes se envolve num estudo sobre o tempo que as crianças passam ao ar livre? Bem, se calhar por achar que o seu conhecimento não estava a ser desafiado o suficiente, até porque crianças que não saem à rua também não se sujam. Sejam quais forem os motivos, em boa hora a marca Skip virou o foco para esta questão, que não só é urgente como estrutural, como nos conta o Professor Carlos Neto, neste vídeo.
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É a opinião deste especialista que precisamos de fomentar a atividade das crianças ao ar livre, em contacto com a natureza e a interação entre pais/educadores e as crianças. A partilha de valores não se resume à literacia, tem de envolver sentimentos como a alegria, a surpresa, a descoberta, a frustração e a superação, conceitos que nem sempre estão nos livros. Se conseguirmos juntar a formação escolar com a formação empírica, ao ar livre, então, conseguimos o melhor de dois mundos.
Foi com base nesse desafio que a marca Skip criou o Dia de Aulas ao Ar Livre em parceria com a Associação Nacional de Professores e com o Apoio da Make a Wish, envolvendo crianças, professores e pais num movimento que quer levar as crianças lá para fora, para aprenderem, entre outras coisas, a brincar. Esta iniciativa comprova o potencial pedagógico de ensinar ao ar livre, mostrando de forma imediata os ensinamentos dos livros, num ambiente em que as crianças se sintam motivadas a questionar e a formular raciocínios lógicos. O próximo Dia de Aulas ao Ar Livre é já no dia 18 de maio. Pergunte na escola do seu filho se a mesma já está inscrita neste movimento e quais as atividades previstas. Se por acaso o seu filho não tiver essa oportunidade na escola tome a iniciativa e leve-o a descobrir o mundo que existe lá fora. O ar puro vai fazer-lhe bem.