"É uma honra estar aqui, especialmente por saber que estão de partida numa missão muito importante, em duas embarcações - uma no Sul de Itália e outra na Grécia. Apesar de a missão da Frontex ser a segurança fronteiriça, a outra parte da vossa missão é salvar vidas", destacou Melissa Fleming no decorrer da cerimónia de despedida dos militares portugueses, em Lisboa..Fleming, que trabalhou com o português António Guterres no ACNUR, encontra-se em Portugal para o lançamento do seu livro "Uma esperança mais forte do que o mar", que narra a história de uma refugiada síria, Doaa al-Zamel.."É por causa de pessoas como vocês que a Doaa está aqui nesta sala. Doaa chegou num barco de refugiados com 500 pessoas, 100 das quais crianças", provenientes da Síria, da Palestina e de vários países africanos, contou a autora..O barco foi "intencionalmente abalroado" e Doaa assistiu à forma como centenas de passageiros se afogaram "quase instantaneamente".."Ao longo dos quatro dias e quatro noites em que esteve na água, à espera de resgate, numa boia de criança, ela também teve de assistir à forma como o amor da sua vida, o seu noivo, se afogou diante dos seus olhos", contou Melissa Fleming, acrescentando que Doaa acabaria por ser salva por um navio mercante que tinha sido chamado ao local..Quando foi recolhida, a jovem síria trazia ao peito dois bebés pequenos, que não eram seus. Um deles tinha nove meses, chama-se Malik e tinha-lhe sido confiada pelo avô [da criança].."O avô [da criança] disse-lhe que o mar já lhe tinha levado 27 membros da família", realçou a porta-voz do ACNUR, num discurso diante dos elementos da Polícia Marítima e voluntários da Plataforma de Apoio aos Refugiados..O outro bebé, de 18 meses, foi passado a Doaa por uma mãe "à beira da morte" e a jovem assistiu posteriormente ao afogamento não só da mãe da criança como também do pai e da irmã mais velha.."Só vos queria dizer que aquilo que vocês estão a fazer é uma missão muito, muito nobre. Porque nenhuma pessoa a fugir da guerra ou da perseguição deveria ter de morrer no Mar do Mediterrâneo, à procura de segurança", salientou Melissa Fleming..A autora também sublinhou que ninguém subiria a bordo dos barcos de refugiados se pudesse ter segurança e prosperidade na sua terra de origem.."Temos uma situação de 65 milhões de pessoas em migração, desenraizadas de suas casas. É um número recorde. Não as queremos ver no Mediterrâneo, mas já que lá estão temos de salvar-lhes as vidas. Já que estão lá temos de encontrar outras soluções", concluiu..De acordo com a Organização Mundial de Migrações, até ao final do mês de março chegaram à Europa por via marítima 27.850 migrantes, tendo 655 morrido no mesmo período.