Cidadãos contra alargamento da via rápida da Caparica para quatro faixas

Petição lançada há uma semana já conta com mais de 1400 assinaturas e é subscrita por associações nacionais e grupos locais. Obras devem começar na segunda-feira.
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O recente anúncio de alargamento da chamada via rápida da Caparica, em Almada, levou à criação da petição "Contra o alargamento do IC20", que em apenas uma semana conta já com mais de 1400 assinaturas. A obra tem o seu início previsto na segunda-feira e deverá terminar em maio de 2025.

"A população foi surpreendida na reunião de Câmara Municipal de Almada, do dia 18 de setembro de 2023, em plena Semana Europeia da Mobilidade, com informação sobre o alargamento do IC20 para 4 vias por sentido, conforme consta nos media locais. Esta obra é um compromisso que resulta de um contrato caduco, que deveria já ter sido renegociado pelo Estado junto da concessionária Baixo Tejo, de modo a ir ao encontro daquilo que são os objetivos estabelecidos a nível ambiental", pode ler-se na petição.

Esta recolha de assinaturas foi lançada simbolicamente a 22 de setembro, Dia Europeu Sem Carros, fruto de uma "revolta com a situação, com o seu curto prazo e sem qualquer consulta à população", o que levou a que "um grupo de munícipes, com o apoio de especialistas na temática urbana" se juntassem e criassem a petição contra o aumento do número de vias no IC20. O documento é subscrito então por por associações nacionais e grupos locais como Centro de Arqueologia de Almada, Estrada Viva, FPCUB - Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta, GEOTA - Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente, MUBi - Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta, Mulheres na Arquitectura, QUERCUS - Núcleo Regional de Setúbal e the Future Design of Streets Association, e ainda pela comunidade local Estuário Colectivo.

De acordo os signatários são várias as razões que os levam a estar contra o alargamento para quatro faixas da via rápida da Caparica. Entre elas está o facto de esta intervenção ir contra a estratégia climática nacional, que vincula o país a reduzir as emissões de gases com efeito de estufa (GEE) promovendo a utilização de transportes menos poluentes, em vez de promover a utilização automóvel, mas também de a solução apresentada não resolver o problema de congestionamento do IC20 em direção a Lisboa ou vice-versa, pois a capacidade deste troço é determinada pela capacidade da Ponte 25 de Abril, e só se estará a abrir mais vias de um funil.

"Há já várias décadas que estudos demonstram que aumentar o número de vias fará com que o volume de carros aumente, não solucionando a questão do congestionamento. Uma vez aumentada a capacidade, rapidamente será preenchida, até atingir os níveis de congestionamento atuais. Este fenómeno, amplamente estudado, é denominado de 'procura induzida'", defende ainda a petição. "Alargar a capacidade rodoviária é não apenas uma medida obsoleta num contexto de emergência climática, mas também inútil, já que os principais constrangimentos resultam das zonas onde a capacidade rodoviária afunila. O efeito de bottleneck tende mesmo a aumentar, já que mais automóveis chegarão a um mesmo estrangulamento, que ocorre nas horas de ponta de utilização da IC20, nas suas artérias principais de acesso às localidades (Costa >Almada>Lisboa>Almada>Costa). Vai ocorrer mesmo com quatro vias, pois a sobrecarga vai apenas acumular-se em mais uma fila (em vez de 300 carros parados teremos 400)", pode ler-se no mesmo documento.

Para este grupo de cidadãos e associações, a solução para os congestionamentos naquela zona "não deve passar por facilitar o acesso automóvel, mas sim, por diversificar as formas de acesso à Costa da Caparica, melhorando as redes de transportes públicos, o acesso a pé e de bicicleta e a interligação entre os vários modos de transporte que compõem um sistema de mobilidade sustentável".

Neste sentido, entre as medidas que consideram prioritárias para Almada estão o prolongamento da linha do MTS - Metro Transportes do Sul, desde a Universidade até à Costa da Caparica e Trafaria; a renovação da frota dos barcos da TTSL - Transtejo Soflusa e melhoria do serviço, "de modo a reaver a confiança neste serviço que foi perdido ao longo dos últimos anos, perante sucessivas falhas e inexistência de serviço previsto, assim como aumento da frequência e alargamento do horário dos barcos da Trafaria, permitindo fazer uma ligação mais eficaz a Lisboa"; a melhoria da ligação ferroviária na ponte 25 de Abril pela Fertagus por via do aumento da frequência e do número de carruagens por composição e alargamento do serviço desde Setúbal até ao Oriente, dado que atualmente vai apenas até Roma-Areeiro; o alargamento da rede ciclável desde Almada até à Costa da Caparica e requalificação da ciclovia Trafaria-Costa da Caparica, que está em avançado estado de degradação; a requalificação dos percursos pedonais existentes e que permitem efetuar a saída e a entrada na Costa da Caparica pelas pessoas que quotidianamente necessitam de fazer esse percurso a pé, nomeadamente estudantes e trabalhadores; e a melhoria da acessibilidade, baseada nas pessoas com deficiência física e visual, nos acessos pedonais de e para a Costa da Caparica, Trafaria e Almada, ligando, também, às restantes localidades entre estas, promovendo o acesso facilitado aos transportes públicos.

Há cerca de uma semana foi anunciado por um representante da empresa Auto-estradas do Baixo Tejo durante uma reunião da Câmara de Almada que a estrada que liga Almada à Costa da Caparica, conhecida por via rápida, vai passar a ter quatro vias de trânsito em cada sentido, uma obra que começa na segunda-feira, 2 de outubro, e que deverá terminar em maio de 2025.

A empresa Auto-estradas do Baixo Tejo é subconcessionária da Infraestruturas de Portugal responsável pela gestão de um conjunto de vias na margem sul do Tejo, entre as quais o IC20.

Segundo João Portela, a obra terá de ser realizada para dar cumprimento a uma obrigação do contrato que prevê que quando atingisse determinado limite de fluxo diário de circulação teria de ser feito um aumento no número de vias. O IC20 regista anualmente um tráfego médio diário superior a 60 mil veículos.

O aumento de três para quatro vias por sentido será realizado entre o Centro Sul e o nó das Casas Velhas (Universidade), numa extensão de 3,9 quilómetros.

A intervenção será dividida em oito fases e prevê ainda o aumento de duas para três vias na saída da rotunda do Centro Sul para o ramo de acesso a Lisboa, a construção de um novo ramo de acesso no sentido Costa-Almada e o aumento para duas vias dos ramos de ligação do IC20 à A33 no nó de Casas Velhas (junto à Universidade Nova) de e para Almada.

Ainda no âmbito desta obra, que começa segunda-feira com a montagem do estaleiro, mas cujos efeitos se começam a sentir no final de outubro ou inicio de novembro, está prevista a relocalização de algumas paragens de autocarro.

"Temos profunda noção de que é uma obra com impacto na gestão rodoviária daquela via e das vias anexas. É impossível contornar esta situação", disse, adiantando que a empresa quer com o município de Almada construir uma ponte de comunicação para mitigar os impactos.

Após a apresentação, a presidente da Câmara Municipal de Almada fez também referência ao impacto desta obra na circulação rodoviária. "Não nos vamos iludir. São obras de um eixo estruturante. O IC20 não vai fechar, mas vai ter impacto numa via já muito carregada e está tudo mobilizado para ao longo da obra ir trabalhando alternativas para minimizar o impacto", disse Inês de Medeiros.

A autarca reconheceu a importância da obra, mas lembrou que não é suficiente para compensar a necessidade de uma nova travessia entre a margem norte e a margem sul.

"Quero deixar claro que esta obra não vai resolver em nada aquilo que é uma prioridade até para a criação de um metro entre a margem sul e a margem norte, além da Fertagus, e é nessa perspetiva que temos estado em conversações com o município de Oeiras e com o anterior executivo da Câmara Municipal de Lisboa e com o atual", declarou.

com Lusa

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