"No ano passado, o investimento empresarial cresceu 6% e está a aproximar-se dos níveis anteriores à crise", disse ontem o ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral, num debate em Lisboa dedicado ao tema da capitalização e reestruturação de empresas, no âmbito das medidas implementadas pelo Programa Nacional de Reformas (PNR)..No documento sobre o PNR apresentado pelo governo, o eixo da capitalização das empresas conta com nove medidas e um orçamento total de 3,4 mil milhões de euros, com aumento dos capitais próprios das empresas na ordem dos 2,78 mil milhões de euros. O Programa Nacional de Reformas reforça assim as metas de capitalização das empresas: capitalizar 9300 empresas até 2020..Na perspetiva do ministro da Economia, os problemas das empresas são "um entrave ao crescimento da economia portuguesa" e devem ser assumidos e resolvidos..Para isso, Caldeira Cabral sublinhou os vários eixos de atuação do programa Capitalizar, tais como as linhas de financiamento para PME, "com uma enorme adesão", e as medidas fiscais como a remuneração convencional do capital e o crédito fiscal ao investimento. "Queremos que a reestruturação empresarial comece mais cedo, que o processo seja mais rápido e mais flexível e que permita uma maior recuperação dos créditos", afirmou o ministro, sublinhando a introdução de um mecanismos de early warning (aviso prévio) que permite às empresas entrarem mais cedo em processos de reestruturação e também a nova figura do mediador, uma espécie de assessor que ajuda "a empresa a encontrar novas soluções para propor aos credores e à banca".."Estamos a trabalhar com as empresas para que tenham acesso a financiamento mais adequado, seja capital de risco ou crédito seja em financiamento em mercado de capitais, mas um financiamento com prazos mais longos e em melhores condições", defendeu Caldeira Cabral no encerramento do debate, lembrando que as mais recentes medidas de apoio às empresas são resultado de trabalho conjunto com outros ministérios..Do lado da Justiça, a secretária de Estado Helena Mesquita Ribeiro destacou as medidas tecnológicas, como o acesso dos administradores judiciais ao Citius e a antecipação da verificação dos créditos não impugnados e a possibilidade de antecipação do momento de graduação de créditos. Lembrando que "o funcionamento da Justiça tem sido apontado como entrave ao investimento em Portugal, à criação de emprego, ao crescimento e à viabilidade das empresas", a secretária de Estado adjunta e da Justiça prometeu ser agora "parte da solução"..Por seu lado, o ministro do Planeamento e Infraestruturas, Pedro Marques, também presente no debate, destacou o Programa Qualificar, que prevê a qualificação de 600 mil adultos, seja escolar seja profissional, o Programa Interface, com vista a promover a inovação por aproximação das empresas às universidades, e ainda os cinco mil milhões de euros do Portugal 2020 já aprovados para apoiar o investimento das empresas. "Três quartos do investimento são destinados a setores transacionáveis, a empresas expostas à concorrência. E para empresas com alta intensidade tecnológica esse investimento é multiplicado por sete", disse Pedro Marques..No debate, Pedro Siza Vieira deu a perspetiva da Estrutura de Missão para a Capitalização de Empresas e defendeu que se deve "olhar para o mercado de capitais com outros olhos", tendo em conta o baixo nível de autonomia financeira (30% abaixo da média europeia) e a grande dependência do financiamento bancário. Pelo contrário, Salomé Rafael, da associação empresarial Nersant, defendeu que o "capital de risco não funciona para necessidades reais das empresas e por isso não é uma alternativa", apontando o dedo à banca por não resolver os problemas das PME e das microempresas.