Este vai ser o melhor Natal desde o início da crise
As ruas da Baixa de Lisboa foram pequenas para acolher as primeiras famílias que saíram à rua para as compras de Natal. O primeiro fim de semana de dezembro marcou um arranque muito positivo da época natalícia, que o comércio espera que se mantenha. Basta um passeio pelo Amoreiras ou pelo El Corte Inglés para perceber o reforço de clientes - e de ajudantes aos balcões, para garantir que os embrulhos são feitos e os clientes bem atendidos. E no Freeport, em Alcochete, as filas para estacionar não enganam: o espírito de Natal está aí. Um movimento que não se fica pelos passeios de loja em loja e que, segundo os comerciantes, já se sente nas caixas registadoras.
O otimismo provocado pelos resultados das primeiras compras de Natal criou a expectativa de que, com o país a registar um crescimento económico de 1,4%, a diminuição do desemprego e o fim dos cortes no subsídio de Natal, as compras superem as do ano anterior. Em 2014, os portugueses gastaram mais de seis mil milhões de euros entre 24 de novembro e 28 de dezembro. Neste ano, com a saída limpa da troika e a evolução económica positiva a criarem confiança, tudo deve melhorar. No fim de semana, a Baixa de Lisboa "esteve cheia de famílias que já aproveitaram para fazer compras. Houve muita gente na rua e muitas vendas", diz Manuel Lopes da Associação de Dinamização da Baixa pombalina. Garantindo já ser visível "uma melhoria", que espera "seja para continuar".
Nos armazéns El Corte Inglés também se espera que a procura "suba ligeiramente em relação ao ano passado". É por isso, explica a diretora de comunicação Susana Santos, que se mantém a aposta em promoções e campanhas publicitárias específicas. Também o Continente aposta numa "oferta muito alargada de descontos" e serviços, incluindo encomendas da ceia de Natal.
Onde o aumento da procura tem alimentado as melhores expectativas é no Freeport, em Alcochete. "Face aos primeiros resultados e com o reforço da nossa oferta, estamos muito otimistas", admite a diretora de marketing do maior outlet nacional, Catarina Tomaz.
A Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP) segue o mesmo rumo. "Há alguma expectativa de que as coisas corram melhor", admite o vice-presidente Vasco Mello, assinalando no entanto que "há mais gente a circular mas ainda poucas a comprar". O responsável acredita que é cedo para ver resultados e "as coisas podem ainda animar", já que esta época representa "uma grande fatia do negócio". E sublinha: "Sem dúvida que o último trimestre e em especial o último mês representam uma grande fatia das vendas."
As lojas dizem que há mais portugueses a comprar, mas também mais turistas, "especialmente espanhóis". Entre os locais que registaram mais movimento no fim de semana estão os mercados da Praça da Figueira e do Rossio, dinamizados pela associação, que "tiveram muitas vendas", diz Manuel Lopes.
À espera de mais movimento está a Casa Havaneza. "Esperamos sempre que o Natal seja melhor do que o anterior e este ano, como tivemos bons meses de setembro e outubro, não há razão para dezembro não ser também melhor", referiu uma funcionária da loja de tabacos. Certo é que nos últimos dias tem-se tornado cada vez mais difícil chegar ao balcão da chocolataria Godiva, também no Amoreiras.
Mas não é só para as vendas que o Natal é bom. Também traz um aumento do emprego, nem que seja apenas temporário. Os últimos dados divulgados pelo DN/Dinheiro Vivo revelam que nesta época aumenta em 50% o número de vagas de emprego. Marisa Duarte, da Hays Response, admite mesmo uma subida do número de contratações neste Natal face a anos anteriores, depois de uma redução do número de vagas durante a crise. "Com a recente recuperação dos níveis de consumo, este ano poderá trazer já um maior dinamismo na procura deste tipo de contratações."
Também nos blocos publicitários na TV se vê o efeito. Fonte do mercado espera um crescimento de um ou dois pontos percentuais este ano, apesar do investimento muito forte em publicidade que já houve no ano passado. A evolução económica e a saída limpa criaram confiança e o mercado teve logo um boom. E agora voltará a crescer.
Dias de semana ainda calmos
Ana Braz costuma começar a fazer as compras de Natal no verão. Desta vez atrasou-se e só ontem pôde finalmente riscar da lista de presentes os primeiros nomes de amigos e familiares. Contrariando o sentimento geral, a lisboeta de 51 anos refere que os presentes este ano serão mais pequenos. "Há menos dinheiro", justifica, enquanto aproveita para descansar em plena Rua Garrett, no coração de Lisboa.
A menos de três semanas da noite da consoada, o Chiado está vestido a rigor mas o movimento de turistas e de portugueses não é sinónimo de muitos sacos na mão.
Alguns comerciantes falam em pouca procura, outros asseguram que estão a vender mais do que em 2014. "Está muito melhor do que no ano passado", afirma Marlene Rosa, funcionária há quatro anos numa loja de brinquedos na Rua do Carmo. Prova disso, acrescenta, é que até está a ter clientes mais cedo do que é habitual. "Normalmente, é só a partir de dia 15 de dezembro."
Na Nicklaus, uma loja que por esta altura se dedica exclusivamente a produtos natalícios, "há sempre muita gente. Está igual ao ano passado", frisa Margarida Rodrigues, funcionária no espaço da Rua dos Correeiros.
A geografia repete-se no Rossio, onde desde sexta-feira funciona um mercado de Natal. No espaço de Francisco Centeno de Mendonça, um dos responsáveis pela marca de roupa Amulet the Riders Luck, até têm entrado clientes, mas ainda não a pensar na época natalícia. "No fim de semana houve muitos portugueses e fizeram algumas compras, mas não para o Natal", conta.
Olhando em redor, é sobretudo a presença do Pai Natal que atrai mais curiosos. As bancas estão bem mais vazias, apesar de o entusiasmo de quem está de visita a Lisboa ser percetível. Ainda assim, não parece ser suficiente para beneficiar a loja de Miguel Abreu, de venda de peças de cerâmica. Nada que assuste o gerente da The Ceramic Heart, na Rua Augusta, na Baixa. "Há sempre esta quebra. É normal", garante, ressalvando que espera, como é habitual, que a tendência se inverta entre o último fim de semana do ano e 6 de janeiro. "Nessa altura, temos muitas pessoas. Vêm os barcos de cruzeiro."