Documentário sobre Amadeo de Souza Cardoso enche Gulbenkian
O documentário foi exibido em Portugal pela primeira vez ontem, no grande auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, perante cerca de 1200 pessoas, e com muitas a ficarem à porta. Facto que surpreendeu o próprio realizador, Christophe Fonseca. "Numa noite de futebol, se tivessem 20 pessoas...", disse na sua apresentação, antes do filme começar a passar, aludindo ao Benfica-Bayern de Munique de ontem.
"O objetivo deste filme é dar a conhecer a nível internacional a vida e obra de um artista genial que se mantém praticamente desconhecido", sublinhou o realizador, em Lisboa para a primeira exibição pública.
Amadeo de Souza Cardoso: O último segredo da arte moderna traça o percurso do artista português nascido no concelho de Amarante, em 1887, e falecido em Espinho em 1918, com apenas 30 anos, foi realizado no âmbito da exposição que o Grand Palais, em Paris, dedica ao artista, a partir do dia 20 de abril.
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Christophe Fonseca disse que tinha sido difícil encontrar especialistas estrangeiros que conhecessem Souza Cardoso, mas quando apreciaram os trabalhos do artista "a reação foi de grande surpresa perante a qualidade, a genialidade e o caráter revolucionário".
"Consideraram que a História da Arte Moderna deveria ser reescrita", indicou o realizador lusodescendente à Lusa, considerando que a falta de conhecimento sobre o valor do artista "é uma injustiça".
Além da narrativa biográfica do documentário, há uma apresentação das investigações científicas recentes sobre Amadeo, de uma equipa orientada por Helena de Freitas, comissária da exposição do Grand Palais e consultora científica do filme.
Nessa investigação, revela-se a pesquisa realizada aos arquivos pessoais do artista, com novos documentos e fotografias, e a descoberta de uma obra inédita, e as peritagens realizadas na Universidade Nova de Lisboa, que trazem uma nova luz sobre o uso da cor no trabalho de Souza Cardoso.
Amadeo de Souza Cardoso privou com artistas como Modigliani, Brancusi, o casal Sonia e Robert Delaunay e expôs a sua obra ao lado dos maiores do seu tempo, nomeadamente Braque, Picasso, Duchamp, Matisse, Kandinsky, ou Léger na primeira grande exposição de artistas modernos, em Nova Iorque, um evento que ficou conhecido como Armory Show, onde vendeu sete das oito obras apresentadas.
Questionado sobre o que mais o impressionou sobre a figura do artista portuguê, que morreu precocemente, aos 30 anos, vitima da gripe pneumónica, Christophe Fonseca respondeu que foi "a atitude corajosa de, com apenas 19 anos, ter partido para Paris e apresentar-se sem qualquer complexo de inferioridade".
"Ele quis sempre fazer o próprio caminho, e embora tenha sido influenciado pelos artistas da sua época, acreditou no próprio talento e na singularidade da sua obra", disse.
As filmagens passaram por Lisboa, Amarante e Porto, e continuaram depois em Paris, Nova Iorque, Washington, Chicago e Berlim, num projeto financiado pela rede France Télévisions, pelo organismo público francês Réunion des Musées Nationaux et du Grand Palais des Champs-Élysées, com apoio da Fundação Calouste Gulbenkian.
Este documentário reúne contributos de mais de uma dezena de curadores, historiadores de arte, e investigadores, entre os quais Catarina Alfaro, Maria João Melo, Raquel Henriques da Silva, Ana Vasconcelos, Laurette McCarthy, Laurent Salomé, e também da família do artista.
O realizador Christophe Fonseca, fundador da Imagina Produções juntamente com o realizador e ator Ruben Alves (A Gaiola Dourada), criou mais de quatro dezenas de documentários e grandes reportagens, tendo obtido vários prémios e distinções em França, onde reside.
O documentário será exibido na RTP a 20 de abril, e no Canal France5 no dia 8 de maio.
Posteriormente será exibido nos canais da France Télévision, cuja rede internacional fará chegar o documentário a mais de 150 países. "Ainda não sabemos quais, estamos a começar esse processo agora":