Descoberto um quadro de Bosch num pequeno museu
O quadro passará a pertencer a um muito restrito grupo de 25 pinturas atribuídas ao mestre holandês, entre as quais se encontram "As Tentações de Santo Antão", que se encontram no Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), em Lisboa. Mas, até agora, estava nas reservas do museu Nelson Atkins, em Kansas City, Missouri. E nem sequer aparece entre as suas obras mais destacadas no site da instituição, onde se pode ver Caravaggio, Monet, entre outros mestres da pintura antiga.
Até agora o quadro era atribuído ao atelier de Bosch ou a um dos seguidores do mestre, conhecido pelas suas representações do céu, inferno e purgatório, surrealistas antes do surrealismo.
A descoberta pertence ao Bosch Research and Copnservation Project, uma equipa sediada em Hertogenbosch, na Holanda, terra natal do pintor, a partir dos múltiplos exames realizados nas obras atribuídas a Bosch ou sobre as quais existia a suspeita de que poderiam pertencer ao mestre, como é o caso deste.
Foram estudados os desenhos sob a pintura, foram feitas análises ao pigmento, os detalhes foram vistos ao microscópio. A conclusão final do grupo é que esta é a sua mão. O quadro terá sido pintado entre 1500 e 1510.
"É o mesmo quadro e de repente vemo-lo com mais afeição", resumiu o diretor do museu de Kansas City, Julián Zugazagoitia, ao New York Times. "É como se o nosso filho tivesse ganho o prémio Nobel. Gostamos o mesmo dele, mas gabamo-nos mais aos primos e amigos".
As conclusões do comité do Bosch Research and Conservation Project, que ainda terão de ser validadas por académicos (o que pode levar alguns anos), elevam a cinco o número de obras de Bosch que estão nos Estados Unidos, juntando-se ao Metropolitan Museum of Art, National Gallery of Art, em Washington, Galeria de Arte da Universidade de Yale. Na Biblioteca-Museu Morgan há um desenho do pintor.
O Museu Nelson-Atkins é uma pequena instituição com um orçamento anual de 30 milhões de dólares (cerca de 28 milhões de euros) e 500 mil visitantes anuais. A coleção tem entre 40 e 50 mil obras e (até agora) as estrelas eram Caravaggio, Monet e Gauguin.
O "Santo António" deste museu foi adquirido a marchand de arte, em Nova Iorque, em 1935, dois anos depois da abertura do museu Nelson Atkins Entrou na lista de obras a investigar pelo comité holandês quando o seu coordenador, Matthis Ilsink, apenas no outono. O investigador viu-o no catálogo de uma exposição e rcebeu informações de um historiador amador que se tinha interessado por esta obra, mas havia uma longa distância entre Amesterdão e Kansas City, pelo que inicialmente não estava entre as 35 obras que os investigadores estudaram.
O diretor do museu diz que este é o sonho de que qualquer pessoa num museu. "E por um lado é bom estar nesta situação afortunada em que um quadro passa de ser do atelier para ser um original. Mas a obra não mudou. O que é interessante é que nosso olhar sobre ela vai mudar."
Levanta dúvidas sobre os quadros do Prado
O Bosch Research and Conservation Project (BRCP) trabalhou nos últimos seis anos na investigação e catalogação das obras do pintor, cujo quinto centenário da morte se assinala este ano. Estiveram em Lisboa, onde durante alguns dias se detiveram sobre As Tentações de Santo Antão, concluindo que possui "o ADN da mais pura linhagem" nas palavras de António Filipe Pimentel, diretor do MNAA.
O mesmo não se passa com alguns dos quadros do Museu do Prado, em Madrid, sobre os quais recai agora a dúvida. Terão sido mesmo pintando pela mão de Jheronimus Bosch? O grupo de peritos do BRCP considerou que A Extração da Pedra da Loucura, As Tentações de Santo António Abade e A mesa dos Pecados Capitais não foram pintados por El Bosco, como o pintor é conhecido em Espanha, reduzindo para metade o número de obras atribuídas ao pintor.
O museu considerou as conclusões do BRCP "para rir", "Qual a proporção de desenho necessária para se considerar que uma obra é de Bosch?", questionou Pilar Silva, chefe do departamento de pintura flamenga do Prado, em declarações ao jornal espanhol ABC, em janeiro. Os investigadores afirmam que a paisagem de fundo não é do holandês.
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O Prado reúne a maior coleção conhecida da obras de Bosch, um artista muito amado pelo rei Felipe, II de Portugal, e prepara a maior exposição que alguma vez foi feita da obra deste pintor. El Bosco: A exposição do Centenário reunirá 65 obras, 25 das quais da autoria do mestre ou a ele atribuídas. Inclui, aliás, o empréstimo do exemplar de Bosch que pertence ao Estado português, assim como obras do Louvre, do Met, em Nova Iorque, Washington e o Albertina e o Kunsthistorisches de Viena. Começa no dia 31 de maio e prolonga-se até 11 de setembro.
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Nesta exposição não se prevê a presença do quadro agora descoberto que estará a partir de 13 de fevereiro na exposição Jheronymus Bosch: Visões de um Génio, uma retrospetiva da obra do artista que inaugura no dia 13 de fevereiro a 8 de maio, no museu Noordbrabants, em Hertogenbosch, uma das instituições que patrocinou o projeto de investigação. Serão mostrados 20 quadros e 19 desenhos de Bosch. De Madrid seguirá o Tríptico Haywain.