A aventura humana no espaço aterrou em Belém

203 objetos originais e réplicas de módulos de naves, foguetões e veículos robotizados contam a odisseia espacial.
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Um robusto e grande cone cinzento ao qual foi cortado o topo. É este o aspeto da peça que José Araújo aponta como "uma das minhas favoritas". Com um luna rover ali mesmo ao lado, o entusiasmo do produtor executivo da exposição Cosmos Discovery vai para esse objeto com um ar algo tosco. "É um motor de ascensão lunar, com o qual os astronautas saíam da Lua." E convida a um olhar para dentro da peça durante a visita guiada à comunicação social: "O combustível usado é tão corrosivo que [e aponta para as irregularidades no interior] não podiam ser testados. Só quando os astronautas iniciavam o regresso eram postos a trabalhar pela primeira vez. Só pessoas muitos especiais se podiam dedicar a este desafio."

Estamos na segunda das seis salas da tenda de 2500 metros quadrados que em Belém serve, até data ainda incerta, de casa à exposição Cosmos Discovery e esta história, uma das muitas que contou ao longo da visita, ilustra o que disse logo no início. "Esta exposição conta a história da exploração espacial e mostra também a importância das investigações feitas nesta área, os ganhos para a humanidade em avanços tecnológicos, desde circuitos de computadores, scanners, velcros, microondas e até as fraldas descartáveis, coisas que são hoje usadas no dia-a-dia." Por isso, defende, "aqui conta-se uma aventura humana, não são só objetos, não são só máquinas, são sobretudo pessoas e histórias de pessoas".

E embora a primeira sala exiba réplicas do Sputnik e da Mercury Seven que prendem a atenção, o que aí se apresenta são sobretudo histórias de pessoas. Começando pelos primeiros sonhadores: o escritor francês Júlio Verne (1828--1905), fundador da ficção cientifica, e o também francês George Méliès, um dos precursores do cinema e aqui apresentado como "o pioneiro dos efeitos especiais".

Depois surge uma extensa galeria dos pioneiros desta odisseia, desde a cadela Laika (primeiro ser vivo em órbita, em 1957) ao chimpanzé Enos (que foi enviado ao espaço em 1961 a bordo de um foguete Mercury-Redstone), passando pelo cosmonauta russo Yuri Gagarin e a russa Valentina Tereshkova, primeira mulher a viajar no espaço. Uma galeria onde não falta o grupo Mercury Seven, com destaque para John Glenn, primeiro americano em órbita, em 1962, e que, 35 anos mais tarde, se tornou o mais velho ser humano a ter voado no espaço a bordo do vaivém espacial Discovery, e para Alan Sheppard, primeiro americano no espaço.

Sobre as réplicas de módulos de naves, de foguetões, dos antigos vaivéns da NASA ou ainda dos veículos robotizados enviados para a superfície de Marte, José Araújo explica a impossibilidade de mostrar as verdadeiras numa exposição: "Nem os americanos nem os russos deixam sair do país as naves. Por isso, replicamos ao detalhe, mas ao detalhe exaustivo do último parafuso, a realidade à escala 1/1 para que as pessoas possam ver a dimensão e percebam o espaço confinado em que os astronautas fizeram as suas missões."

Logo à entrada da segunda sala, dedicada às várias missões Apollo, mais uma peça à qual só a história contada por Jorge Araújo dá brilho: "Parece uma peça de ferro-velho, mas é a parte de um motor F1 que foi resgatado ao fim de 50 anos no fundo do oceano. Continua a ser a máquina mais complicada jamais feita pela humanidade com mais de três milhões de peças amovíveis, cada motor consome três toneladas de combustível por segundo, e são cinco motores", debita.

Esta é uma das 203 peças originais da exposição, pertencendo a esmagadora maioria ao museu do espaço do Arkansas, Cosmosphere. De fatos de voo a comida liofilizada (desde amendoins a cocktail de camarão, passando por cereais e doce de pêssego), câmaras fotográficas da Hasselblad e até gravadores de voz criados especialmente para funcionarem na Lua, de tudo um pouco de pode ver nesta sala.

No espaço seguinte, é dado protagonismo ao programa espacial russo, podendo ser visto um modelo da nave Soyuz, atualmente utilizada no transporte de astronautas e cosmonautas para a Estação Espacial Internacional, mas também a escotilha original de uma nave Vostok. Na quarta sala, as estrelas são os fatos dos astronautas. "Muito importantes", diz José Araújo. "Com 13 camadas, pesam 82 quilos na atmosfera terrestre. Na Lua são só 14 quilos", sublinha.

A reconstituição do cockpit de um vaivém serve de entrada na quinta sala onde está montada uma daquelas salas de controlo de missão que nos habituámos a ver em filmes e um exemplar dos primeiros portáteis criados, em 1979. Deixando o vaivém Endeavour para trás, esta aventura termina com a exploração de Marte, para onde se é conduzido através de uma réplica do robô Opportunity. Questionado sobre a ausência de uma experiência de falta de gravidade, José Araújo promete: "É o meu próximo projeto, mas ainda não posso revelar."

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