De Paris a Lisboa: a alta-costura de Tony Miranda

O estilista português Tony Miranda já vestiu nomes como Brigitte Bardot, Mohammad Reza Pahlevi e Jacques Brel. A sua nova nova coleção Recomeçar 2023, sobre a liberdade e paz, é apresentada esta quarta-feira em Lisboa.
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É na entrada dos TM Luxury Apartments, na rua São José 55, em Lisboa, que está a primeira máquina de costura que Tony Miranda utilizou. Pertencia à sua mãe que era costureira e que impulsionou a sua entrada no mundo da Moda. No entanto, foi só após ver o desfile da Dior na televisão num salão paroquial, quando tinha 18 anos e trabalhava como alfaiate em Torrados, em Felgueiras, que decidiu mudar-se para Paris para a sua carreira de designer.

Acabado de chegar à capital francesa, começou a trabalhar na casa de Joseph Camps, um dos maiores mestres da alta-costura parisiense. Por este ateliê passaram também outros designers como Emanuel Ungaro, Francesco Smalto, Dominique Rosseau, Claude Rosseau, Henry Hurbain ou Benuchi. E foi em 1967 que chegou a sua oportunidade ao entrar na Ted Lapidus, onde chega a diretor da área criativa e de modelismo. Mais de uma década depois abre o seu ateliê na Avenue Suffren a que juntou, mais tarde, a boutique Tony Miranda na Rue Cambon, ambas em Paris.

Ao longo da sua carreira vestiu grandes personalidades internacionais, desde políticos a artistas. "A que me marcou mais Brigitte Bardot pela beleza e à vontade que ela tinha. A simpatia e a simplicidade dela marcaram-me. Depois houve outras pessoas, como o rei do Irão, Mohammad Reza Pahlavi. Era mais que um cliente, um amigo", relembra Tony Miranda numa conversa com DN.

Foi só no final da década de 1980, que instalou um ateliê em Portugal, em Guimarães, ainda hoje aberto, a que acrescentou, no final dos anos 90, a sua loja em Lisboa, na Avenida da Liberdade.

Os quatro andares desse prédio na Avenida da Liberdade eram dedicados à sua boutique, em nome próprio. Atualmente, funciona apenas por marcações e não esta aberta ao público.

Tony Miranda que vive entre Lisboa e Guimarães já não tem atelier em Paris mas continua a visitar a cidade regularmente. "Tenho necessidade de ir a Paris. Quando estou um mês sem ir lá já me faz falta. Gosto de me sentar no terraço da minha casa e ver as pessoas a passar."

"Tento sempre conquistar o povo português há alguns que até correm bem sobretudo em casamentos e festas, mas não poderia manter o negócio só do público daqui", explica. Questionado sobre nunca ter participado numa Moda Lisboa, por exemplo, responde que na altura em que fazia alta-costura "não fazia sentido nenhum. Mas depois quando comecei a fazer pronto-a-vestir nunca me convidaram..."

Tony Miranda apresenta hoje, 19 de outubro, no jardim dos TM Luxury Apartments às 20h, a nova coleção Recomeçar 2023 com cerca de 80 peças femininas e masculinas, baseadas na Liberdade e Paz, "uma mensagem e desejo que se vive cada vez mais na atualidade", afirma

A coleção surgiu durante a pandemia quando Tony Miranda ia à janela do seu ateliê em Guimarães e não via ninguém no jardim em frente. "A tristeza de ver o espaço vazio levou a uma primeira fase de criação apenas com cores como preto e cinzento. "não tinha inspiração para fazer outra coisa", explica.

A guerra na Ucrânia levou-o a mudar de perspetiva, colocando mais cor nas peças de roupa. "Acabei por completar a minha coleção com os dois temas. Um bocadinho triste e outro onde quis criar uma coleção que as mulheres tenham vontade de sair, de voltar às festas e voltar à paz". Para Tony Miranda, a liberdade e paz na coleção representa o que se quiser. "Hoje há aquela liberdade que é espetacular em que cada um cria a sua tendência, cria a sua cor faz as suas formas e as suas linhas. É muito importante. Antigamente as tendências eram muito fixadas pelos costureiros. Na altura quando se apresentava a coleção quase todas tinham a mesma coisa porque as tendências eram sagradas."

Os apartamentos de luxo TM Luxury localizados na Rua de São José mostram também outra vertente do designer: a sua paixão pela renovação e decoração. Em Paris, comprava, vendia e renovava edifícios. Quando abriu a sua loja em Lisboa quis transformar o local. "Quando vi estes espaço decidi que o tinha de o comprar, não foi fácil, andei atrás deste projeto durante 15 anos.

Finalmente adquiridos, os blocos de apartamentos funcionam agora como uma espécie de hotel, com T0 a T3, um duplex e uma Suite

Master no último piso. Apesar de serem negócios distintos, a moda e a construção estão interligadas nestes apartamentos. Desde fotografias de antigos desfiles nas paredes a manequins nos corredores do prédio. E dentro de cada apartamento estão móveis que pertenceram ao designer e que trouxe da sua própria casa.

mariana.goncalves@dn.pt

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