As 30 horas de espera para doentes urgentes e as seis a oito para doentes muito urgentes registadas no último fim de semana de janeiro no Serviço de Urgência do Hospital Fernando da Fonseca (Amadora-Sintra), levaram à demissão do Conselho de Administração (CA) da Unidade Local de Saúde (ULS). Mas não só. O facto de esta não ter conseguido resolver a situação no Serviço de Cirurgia Geral, que, em outubro perdeu dez cirurgiões, devido à reintegração de dois outros médicos que estavam afastados da unidade, também ajudou. A Ordem fez vários alertas sobre a situação na cirurgia geral ameaçando mesmo retirar a idoneidade para formação, já que o serviço tem internos da especialidade. Como se não bastasse, na semana passada, ficou a saber-se que o diretor do Serviço de Urgência se tinha demitido, por razões pessoais e com efeito a 1 de fevereiro. A tutela só o soube dias depois. Depois disto tudo, o Conselho de Administração reuniu com a ministra na quarta-feira e na quinta-feira demitiu-se. Ontem, a ministra da Saúde reuniu com a Ordem dos Médicos, assumindo que o Serviço de Cirurgia precisa de “um plano para continuar a funcionar e a dar formação”, disse aos jornalistas o bastonário. Mas se a cirurgia precisa de um plano, no hospital dizem que a urgência também. O DN soube que o diretor que se demitiu, Hugo Martins, tinha como projeto de tornar a Urgência um Centro de Responsabilidade Integrada (CRI), como já funciona em São José a titulo de projeto piloto. Ou seja, um serviço com gestão e financiamento próprio, com equipas próprias e com incentivos para os profissionais. Segundo nos foi explicado, o diretor acreditava que assim seria “mais fácil atrair e fixar profissionais”. .Espera de doentes urgentes no Hospital Amadora-Sintra ultrapassou as 30 horas este fim de semana. O projeto pode não ir para a frente, porque “no estado em que está o serviço de cirurgia geral, que é essencial nas urgências, esse modelo não adianta muito”, disse ao DN o bastonário, Carlos Cortes, referindo que, na reunião que teve com a ministra da Saúde, “essa hipótese não foi colocada em cima da mesa”.No hospital, e segundo nos foi referido, este projeto era muito comentado, “até se pensava que iria ser aplicado a partir de janeiro deste ano”, mas “a situação nas urgências começou a complicar-se e nada foi para frente”, disseram-nos. Recorde-se que o modelo de CRI nas urgências tem como objetivo, segundo é referido na portaria que o criou (Portaria n.º 28/2024, publicada a 30-1-2024), dar mais “acesso, qualidade, eficiência e integração de cuidados nas urgências, funciona com “equipas dedicadas” a este serviço e com incentivos aos profissionais. Na reunião de ontem com a ministra, a situação vivida na urgência foi também referida, mas a grande preocupação foi o Serviço de Cirurgia Geral e o seu funcionamento. E vai ser preparado um plano pela tutela, Direção Executiva e Ordem dos Médicos para manter o serviço a funcionar, assegurando a idoneidade da formação. Carlos Cortes reforçou ontem que “a cirurgia está a funcionar “abaixo do limite técnico”. “O hospital deveria ter entre seis e sete médicos na equipa cirúrgica. Em muitos dias só tem um médico na equipa cirúrgica com dois internos da especialidade. Qualquer pessoa, mesmo que não seja entendida nesta matéria, percebe que há aqui um comprometimento da segurança dos doentes e dos próprios profissionais”, salientou. O DN questionou o ministério sobre a equipa que irá substituir a liderada por Luís Gouveia na ULSAS, mas não obteve resposta.