A superintendente chefe Paula Peneda, desde ontem designada a nova diretora nacional adjunta (DNA) da PSP para os Recursos Humanos, já se habituou a ser notada por ser a "primeira mulher" em várias fases do seu percurso..Numa instituição em que os 8,8% de polícias do género feminino está muito abaixo da média europeia (Portugal é o 5.º dos 27 com menos mulheres) isso acontece sempre que uma oficial chega a funções dirigentes ..Estreia-se agora como DNA, mas também foi a primeira mulher a comandar a PSP do Porto e de Santarém, já tinha sido a primeira oficial de ligação do ministério da Administração Interna (MAI), no caso em Marrocos, e foi ainda quem inaugurou o Gabinete Coordenador de Segurança Escolar do ministério da Educação..A sua escolha não é consensual na PSP e as opiniões dividem-se, entre os que a caracterizam por ter "excelente trato pessoal, muito humana e perspicaz", e quem duvide das suas "capacidades e competências" para esta função de topo..De vários oficiais que o DN ouviu, há mais opiniões positivas, destacando qualidades como ter "a mais valia de ser excelente no relacionamento institucional", podendo "ser excelente para abrir portas e melhorar o relacionamento com diversas entidades"..Mas há também quem saliente a coincidência de ter sido sempre em governos do PS que teve as nomeações mais importantes - no ministério da Educação com a então ministra Maria de Lurdes Rodrigues, do governo de José Sócrates; para oficial de ligação com Constança Urbano de Sousa, já com António Costa; para o comando do Porto, com Eduardo Cabrita e agora para DNA com José Luís Carneiro..Não surpreende que o seu nome já tenha até sido considerado para ser diretora nacional, hipótese que tem sido objeto de ponderação desde o tempo de Cabrita, que nunca escondeu a sua admiração pela oficial que trabalhou no seu gabinete..Mas o critério de género, de possíveis "quotas" em cargos dirigentes, não é de todo aceite pelo presidente do maior sindicato desta força de segurança.."Apenas se espera competência e eficiência na decisão. Nem sequer quero colocar a mais recôndita hipótese de isso ter pesado na nomeação (ser mulher). Aliás, colocar a tónica em questões de género até é ofensivo para as mulheres e para a Polícia", sublinha Paulo Jorge Santos, da Associação Sindical de Profissionais de Polícia (ASPP)..Este dirigente sindical salienta que Peneda terá uma "área fulcral" numa altura em que "a falta de recursos, de agentes" está "a atingir um ponto de rutura, agravado pela transferência de dezenas de elementos para as fronteiras aeroportuárias, para substituir o SEF"..Também o presidente do Sindicato Nacional dos Oficiais da PSP (SNOP) desvaloriza que pela primeira vez haja uma mulher polícia como DNA.."Sou solidário com as causas feministas, mas chegados a este ponto da hierarquia é a competência que conta e não o género", afirma o comissário Bruno Pereira..Valoriza, isso sim, o "sinal de rejuvenescimento" na direção nacional "com a nomeação de oficiais que nunca tinham estado nessas funções"..Evidencia "o impulso às novas gerações, que esperamos se venha também a refletir na escolhas para os comandos distritais"..Paula Cristina da Graça Peneda tem 56 anos e nasceu no Porto. Licenciou-se em Ciências Policiais, pelo Instituto Superior de Ciências Policiais e Segurança Interna (na ocasião, Escola Superior de Polícia), tendo frequentado uma Pós-graduação em Ciências Criminais, na Universidade Moderna de Lisboa..É casada com um oficial da PSP, já aposentado, que liderou vários anos a brigada de negociadores do Grupo de Operações Especiais (GOE)..É uma oficial com opinião formada sobre os problemas do sistema de segurança interna, considerando que "o cidadão teria a ganhar com uma única polícia"..Numa entrevista ao Jornal de Notícias, quando foi destacada para liderar o comando de Santarém, foi perentória: "Somos um país pequenino demais para haver tantas polícias [forças de segurança]"..Assumiu que ser mulher num mundo de homens "até beneficia". Além disso, considerou, o seu "talento" nato "é mesmo "comandar"..Sob as ordens do novo diretor nacional, José Barros Correia, Peneda vai integrar uma equipa de direção totalmente renovada, com os camaradas superintendentes chefes Paulo Lucas - o mais popular e consensual do grupo -, que já tinha ocupado este cargo de DNA para as Operações e Segurança; José Bastos Leitão, que já dirigiu a Investigação Criminal e comandou a PSP Setúbal nos conturbados anos de 2008/2009, com a criminalidade violenta a atingir números recorde, para a Logística e Finanças; e Paulo Pereira, até agora comandante do Comando Metropolitano de Lisboa (COMETLIS), para Inspetor-Nacional..A próxima etapa será a substituição destes oficiais superiores - os "generais" da PSP - nos postos que ocupavam nos vários comandos, o que vai implicar uma movimentação sem precedentes em todo o dispositivo..O DN sabe que já foram feitos convites e que nem todas as escolhas vão ser pacíficas. O COMETLIS é o mais disputado e é certo que será escolhido um oficial, que não será um superintendente chefe (mais um sinal do rejuvenescimento dos comandos) com conhecimento e experiência na capital..Mas um critério que tem estado a pesar mais nas opções de José Luís Carneiro, conforme o DN já referiu, é a capacidade de criar sinergias e cooperar com as outras forças e serviços de segurança.