Rui Paulo Sousa, presidente da comissão de inquérito ao caso das gémeas, admitiu esta sexta-feira a possibilidade de ser apresentada uma queixa contra o advogado da mãe, caso o parecer da Ordem dos Advogados que alegou ter não exista..Wilson Bicalho foi ouvido esta sexta-feira na comissão de inquérito que decorre no parlamento e fez uma declaração inicial, mas recusou-se a responder a qualquer questão, alegando sigilo profissional. O advogado disse ter pedido um parecer à Ordem dos Advogados para que esse sigilo fosse levantado e que tal foi recusado..Esta postura foi criticada pelos partidos e a audição foi suspensa ainda antes de acabar o tempo de inquirição do primeiro partido, o Chega, e não retomará hoje. O presidente da comissão sugeriu a realização de uma reunião de mesa e coordenadores logo a seguir, que está a decorrer..Em declarações no final da audição, o presidente da comissão de inquérito explicou que nesta reunião os partidos vão abordar o que se passou: "Se ele realmente não apresentar o tal parecer, poderemos eventualmente avançar com uma queixa junto da Ordem dos Advogados, junto do Ministério Público, do seu comportamento hoje aqui nesta audição, atendendo que ele é obrigado a dizer a verdade perante esta comissão".."Se não apresentar o parecer, começou logo por mentir com o próprio parecer que diz que existe e que não existe", disse Rui Paulo Sousa..A comissão vai esperar até ao final do dia que esse documento seja enviado à Assembleia da República, indicou, referindo que para já só têm a sua palavra de como essa resposta da Ordem dos Advogados existe..Rui Paulo Sousa indicou que os deputados vão também deliberar se aceitam "o depoimento nos moldes em que foi feito" e se será incluí-lo nas atas da comissão..O deputado do Chega referiu que, "numa conversa informal com a comissão, há cerca de uma semana atrás, [o advogado] mencionou que era possível que houvesse algum parecer negativo de Ordem dos Advogados para participar nesta audição, mas nunca concretizou isso, nunca enviou nenhum parecer para a comissão, nunca informou a comissão oficialmente"..Rui Paulo Sousa indicou que esse parecer só foi mencionado por Wilson Bicalho após a declaração inicial que, na sua opinião, "não foi mais do que um espetáculo para as televisões, em que ofendeu gravemente vários deputados desta comissão, a própria comissão e o próprio parlamento, porque quando se está a referir a deputados deste parlamento como ele se referiu está a ofender todos os deputados deste parlamento"..O deputado do Chega assinalou ainda que Wilson Bicalho deu várias entrevistas à comunicação social nas quais "emitiu opiniões sobre o caso, fez uma declaração inicial onde falou sobre o caso, quando saiu há pouco dirigiu-se aqui à comunicação social e voltou a falar sobre o caso, portanto", concluindo que "ele falou com toda a gente do caso, exceto com os deputados da comissão de inquérito".."Portanto, é um pouco estranha a maneira como ele encara o que é que pode falar ou não pode falar, eu acho que ele apenas encara o que lhe interessa a ele ou à sua cliente e vai agindo conforme acha que consegue mais protagonismo junto à comunicação social ou não", sustentou..Caso o parecer exista, "pode ser suscitado pela comissão de inquérito uma quebra de sigilo profissional junto ao Ministério Público e a um tribunal e, caso seja aceite essa quebra de sigilo, ele pode ser chamado novamente" para dar explicações, disse Rui Paulo Sousa, admitindo que essa audição decorra à porta fechada..Audição ao advogado da mãe das gémeas suspensa.A comissão parlamentar de inquérito ao caso das gémeas luso-brasileiras foi suspensa esta sexta-feira uma hora e meia depois de ter começado, após o advogado da mãe das crianças invocar o direito ao sigilo profissional para não responder aos deputados..Todos partidos políticos votaram favoravelmente a suspensão dos trabalhos, com alguns a qualificar a audição de Wilson Bicalho como "uma farsa"..Wilson Bicalho invocou o artigo 92.º do Estatuto da Ordem dos Advogados, em que o "advogado é obrigado a guardar segredo profissional no que respeita a todos os factos cujo conhecimento lhe advenha do exercício das suas funções ou da prestação dos seus serviços", para não responder às questões da comissão..A audição ao mandatário da mãe das crianças, no entanto, já não será retomada hoje..O presidente da comissão parlamentar de inquérito, Rui Paulo Sousa, disse que o advogado da mãe não fez chegar à comissão o parecer da Ordem dos Advogados que lhe permite levantar o seu direito ao sigilo profissional e que lamentava a atitude de Wilson Bicalho.."Lamento a atitude de Wilson Bicalho atendendo que não teve uma participação correta para comissão, pois não fez chegar o parecer da Ordem dos Advogados a tempo e de maneira que esta comissão pudesse decidir antes sequer de ter começado a audição, ale da falta de respeito com diversos deputados, para com a própria comissão e para com o próprio parlamento, que lamento imenso", disse..Rui Paulo Sousa pediu que o parecer chegasse à comissão sob risco de ser apresentada uma queixa contra Wilson Bicalho à Ordem dos Advogados e ao Ministério Público, considerando seu "comportamento inaceitável"..A mesa e coordenadores estão reunidos esta tarde para discutir a situação depois de o também deputado do Chega ter suspendido os trabalhos..Durante a discussão, o coordenador do PSD, António Rodrigues, propôs que a "reunião fosse retirada da ata da comissão".."Estamos a ser confrontados com uma situação que desprestigia a Assembleia da República", salientou, enquanto João Almeida, do CDS, disse que "é uma farsa e não uma audição"..Também o deputado do PS André Rijo corroborou com a suspensão dos trabalhos.."Devemos suspender os trabalhos e redefinir com retomá-los", observou..Já o líder do Chega, André Ventura, solicitou a suspensão dos trabalhos, mas não a eliminação da ata, reforçando o pedido do parecer à Ordem dos Advogados para que seja possível prosseguir os trabalhos.."Nunca vi nada assim em toda a minha vida que a Ordem [dos Advogados] autorizasse um primeiro depoimento para falar até ao minuto dez e depois não pode falar mais, e se lhe fizerem perguntas", realçou, pedido que o depoimento do mandatário da mãe das gémeas luso-brasileiras chegasse à Ordem dos Advogados..Também os deputados Alfredo Maia, do PCP, Inês de Sousa Real, do PAN, e Paulo Muacho, do Livre, disseram que Wilson Bicalho deveria entregar o parecer. .Daniela Martins foi alvo de "mentira calculada".Antes disso, Wilson Bicalho afirmou que Daniela Martins foi alvo de uma "mentira calculada" por parte de um deputado e também de um "assassinato mediático"..Estas críticas foram deixadas por Wilson Bicalho na intervenção inicial que fez na comissão de inquérito sobre o caso das gémeas luso-brasileiras tratadas no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, com o medicamento Zolgensma..O advogado aproveitou esse momento para "fazer a defesa" da sua cliente, que foi ouvida na comissão de inquérito na sexta-feira passada..Wilson Bicalho disse que Daniela Martins "foi covardemente confrontada" por "um deputado desta casa" com documentos que diziam "que tinha entrado com uma ação na justiça brasileira" para aceder a um medicamento que não o Zolgensma em "agosto de 2019", e indicou que "o processo em questão é datado de 17 de setembro de 2019", salientando que é posterior à atribuição da nacionalidade portuguesa às duas crianças..O pedido para as crianças terem acesso ao Zolgensma foi feito "em 10 de dezembro".."É triste dizer isso, mas a minha cliente foi confrontada com uma mentira calculada, contada sem demonstrar compaixão humana", e com o objetivo de alimentar "jogos de bastidores", criticou..O advogado da mãe das gémeas criticou também a comunicação social pelo tratamento do caso, defendendo que Daniela Martins foi alvo de um "assassinato mediático" e um "ataque grosseiro, desumano, covarde".."É inaceitável e desprezível", afirmou..Partidos rejeitaram pedido do advogado da mãe das gémeas para audição ser à porta fechada.Antes de ter invocado o sigilo profissional, Wilson Bicalho começou por fazer uma intervenção inicial na comissão de inquérito, mas pediu que a audição continuasse à porta fechada, proposta que foi rejeitada pelos partidos..No final da sua intervenção inicial, Wilson Bicalho invocou o direito à imagem e ao bom nome para pedir que a reunião continuasse sem a presença da comunicação social e sem transmissão pública..O advogado invocou também o estatuto da Ordem dos Advogados, dizendo ser obrigado ao sigilo profissional..Nenhum dos partidos anuiu e este pedido foi rejeitado por unanimidade..Comissão suspende trabalhos no mês de agosto.Os trabalhos da comissão de inquérito ao caso das gémeas luso-brasileiras vão decorrer até 26 de julho, sendo suspensos durante o mês de agosto, e retomam no dia 10 de setembro, aprovaram hoje os partidos..A deliberação da interrupção dos trabalhos foi conhecida antes de ser ouvido o advogado da mãe das crianças, Wilson Bicalho..Em relação à aprovação das audições aos ex-ministros Augusto Santos Silva e Francisca Van Dunem, propostas por IL e Chega, o Grupo Parlamentar do PS pediu o adiamento da votação..Os partidos políticos também votaram favoravelmente para ouvir os representantes da companhia de seguros brasileira Amil Assistência Médica Internacional LTD à data dos factos a pedido do PSD.."As deputadas e os deputados do Partido Social Democrata vêm pelo presente requerer a documentação relativa à celebração do contrato de seguro de saúde em causa, a apólice, com eventuais anexos donde conste a data de celebração do seguro, o objeto e a respetiva cobertura e/ou tomadores do seguro e seus beneficiários", lê-se no documento, ao qual a agência Lusa teve acesso.."Requerem, ainda, e caso a empresa não disponha de representação em Portugal, que os dirigentes máximos (nomeadamente o respetivo CEO) sejam ouvidos por videoconferência para obter informações e prestar esclarecimentos sobre o seu interesse e acompanhamento do processo no Brasil e em Portugal", acrescenta o PSD..Em causa no processo, que tem como arguidos o ex-secretário de Estado da Saúde Lacerda Sales e Nuno Rebelo de Sousa, filho do Presidente da República, está o tratamento hospitalar das duas crianças luso-brasileiras que receberam o medicamento Zolgensma. Com um custo de dois milhões de euros por pessoa, este fármaco tem como objetivo controlar a propagação da atrofia muscular espinal, uma doença neurodegenerativa..O caso está ainda a ser investigado pela Procuradoria-Geral da República, mas a Inspeção-Geral das Atividades em Saúde já concluiu que o acesso à consulta de neuropediatria destas crianças foi ilegal..Também uma auditoria interna do Hospital Santa Maria concluiu que a marcação de uma primeira consulta hospitalar pela Secretaria de Estado da Saúde foi a única exceção ao cumprimento das regras neste caso.