Os responsáveis conseguiram vender um lote de Vale do Lobo por 4,5 milhões de euros, sem uma casa construída mas com autorização para o novo proprietário construir. "Foi o melhor negócio de Vale do Lobo de sempre" e vai mais longe "eu diria que foi o melhor negócio de sempre [de venda de um lote] em Portugal""Foi sempre dito que não havia qualquer hipótese de haver dinheiro de fora", pelo que diz que "é falso" que tal tenha acontecido, a respeito da acusação nesse sentido Diogo Gaspar Ferreira quer abordar "a base de sustentação da acusação do Ministério Público" nesta matéria, o que fica adiado para depois de almoço. A juíza Susana Seca anunciou uma pausa que deverá durar até às 14 horas..Após uma pausa de 15 minutos na sessão, Diogo Gaspar Ferreira assinala que a situação de incumprimento se estendeu para o ano seguinte, ou seja, 2010."Todos os resorts em Portugal foram à falência com exceção de dois", que eram detidos por entidades "ricas". Dos 17 que faliram, todos os outros passaram a ser geridos por fundos de reestruturação, o que significa que optaram por "adiar o problema", descreve. O mesmo não aconteceu com Vale do Lobo, já que era detido pela Caixa, que não o quis fazer.Ora, as negociações entre outros bancos e outros resorts permitiram baixar as taxas de juro e estender os períodos de amortização, entre outras medidas que ajudavam as empresas imobiliárias. Porém, a CGD não tomou a mesma posição relativamente a Vale do Lobo.Em 2011, não apenas não baixou a taxa de juro, como até a aumentou, "de 2,4% para 4%", pelo que "começamos a sentir problemas que se foram agudizando", diz Gaspar Ferreira. "Não percebemos" estas tomadas de posição da Caixa, explica o próprio. A participação em causa no empreendimento de Vale do Lobo acabaria por ser vendida à ECS, em 2018..Poucas semanas se passaram até que ficou estabelecido que a CGD entrava com "suprimentos" e ficava com 25% do capital, de acordo com Diogo Gaspar Ferreira. "O grande objetivo da Caixa era ganhar dinheiro", frisa.Neste âmbito, a Caixa tinha direito a ter um administrador "que ia lá regularmente", de forma a estar a par de toda a atividade. Tratava-se de Jorge Guimarães, que participava nas reuniões mensais do Conselho de Administração e recebia os relatórios mensais sobre a atividade."O ano de 2007 correu bastante melhor do que nós tínhamos previsto", salienta, de tal forma que "estava tudo muitíssimo bem", em resumo. "Em 2008, a coisa começou a correr bem no primeiro trimestre", recorda, até que a situação se deteriorou, na segunda metade do ano.Aquele que seria o maior contrato de Vale do Lobo até à data foi cancelado pelo potencial comprador, em função de receios de uma futura crise imobiliária, diz o próprio Diogo Gaspar Ferreira. O cenário veio a confirmar-se, primeiramente com o colapso do Lehman Brothers, no terceiro trimestre de 2008."Conseguimos ainda em 2008 e 2009 fazer algumas vendas (...) mas logo em 2008 conseguimos ver que vinha uma crise que podia ser muito grave". O impacto foi de tal forma significativo que, "a partir de 2009, entramos em incumprimento"..O arguido confirma que os promotores concordaram em avançar com um valor total na ordem de 8 milhões de euros, ao passo que a CGD entrava com um financiamento de 220 milhões"O que foi combinado foi que eu enviaria o modelo financeiro para o senhor Armando Vara", então na administração da CGD. Tal acabaria por acontecer "por volta de junho ou julho de 2006", recorda Diogo Gaspar Ferreira.No que diz respeito a avançar para a compra de Vale do Lobo (como um dos acionistas), "nunca senti qualquer influência de natureza política", sublinha. Em simultâneo, deixa a garantia de que nunca foi mencionada uma eventual alegada interferência do Governo da altura ou de José Sócrates, então primeiro-ministro, fosse de forma direta ou indireta, com o propósito de os responsáveis obterem crédito da CGD."Não houve assim tantas reuniões [com Armando Vara]", reitera Gaspar Ferreira, deixando claro que só teve uma reunião com Armando Vara, numa altura em que este último integrava a administração da Caixa. Daí para a frente, as reuniões foram realizadas entre o antigo CEO de Vale do Lobo e Alexandre Santos. Recorde-se que este último desempenhava, na Caixa Geral de Depósitos, o cargo de diretor responsável pela área do segmento de empresas do sul do país..Diogo Gaspar Ferreira iniciou a sua primeira intervenção com uma exposição do seu percurso pessoal e académico. Seguiu-se uma esplanação referente ao que está envolvido na Operação Marquês.Em 2006, o arguido queria entrar no capital do empreendimento Vale do Lobo. Com este propósito, falou com Rui Horta e Costa (foram colegas na Universidade Católica e eram amigos) e propôs-lhe que entrasse no projeto.Garante ao Tribunal que tinha consciência de que uma crise imobiliária nos primeiros dois anos de projeto seria altamente prejudicial. Por outro lado, salienta que Vale do Lobo, à data, era "o maior resort português" e tinha um "potencial de venda de um bilião de euros" beneficiava de um grande prestígio no estrangeiro.Ali vendiam-se, por um lado, lotes (espaços de terreno para construção) e, por outro, construíam-se e vendiam-se casas. "Nunca as vendas em Portugal tinham corrido tão bem no imobiliário residencial", recorda, remetendo para aquilo que descreve como alto grau de "otimismo" do setor. Grande parte das vendas eram feitas a estrangeiros, para quem as casas passam a ser segunda habitação.O objetivo "era vender todos os lotes", o que Gaspar Ferreira acreditava que fosse concretizado em 10 anos. "A grande questão era saber o preço e o ritmo de venda".Ora, naquela altura, era frequente os bancos financiarem este tipo de construção. “BES não queria, fomos tentar CGD e Santader”, afirma.Ficou estabelecido um empréstimo de entre 230 a 250 milhões de euros, da parte da Caixa Geral de Depósitos (CGD). A proposta final ficaria fixada em 230 milhões de euros. "Cada um de nós entrava com capital próprio de dois milhões de euros", assinala..A audição, agendada para as 9h30, tem início pelas 10h16. Diogo Gaspar Ferreira é o primeiro arguido a ser ouvido. Durante 12 anos, foi CEO e acionista de Vale do Lobo e, em 2015, foi constituído arguido da Operação Marquês.Posteriormente, será ouvido Rui Horta e Costa, que também está presente na sala de audiências, no Campus de Justiça, em Lisboa.