"O grande papel das universidades é contribuir para criar uma sociedade melhor e mais justa"

O diretor da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa (FCH-Católica), Nelson Ribeiro, fala ao DN sobre os 50 anos da instituição de ensino privada, que se comemoram durante o atual ano letivo.
Publicado a
Atualizado a

A Faculdade de Ciências Humanas celebra até ao final do ano letivo 50 anos desde a sua fundação. Quais foram os cinco momentos mais importantes na história da instituição?

50 anos não são fáceis de resumir, mas se tivesse de destacar cinco momentos começaria por 1972, a fundação da própria Faculdade de Ciências Humanas que coincidiu também com a fundação da Universidade Católica Portuguesa em Lisboa. Um dos novos cursos que a faculdade na altura criou e que foi uma inovação no panorama universitário português foi Gestão e Administração de Empresas. Esse curso veio depois dar origem a uma nova faculdade dentro desta universidade e isto leva-me a uma segunda data, 1991, que nós consideramos como um ano de refundação da FCH, em sequência da saída dos cursos de Gestão e Direito. Além disso, é quando a faculdade passa a ter, a par da sua oferta de Filosofia, uma Licenciatura em Comunicação Social e Cultural, que na época foi a primeira licenciatura da área da comunicação a ter um ensino integrado de línguas estrangeiras.

O ano de 2000 também foi importante devido ao lançamento do nosso Mestrado e Doutoramento em Ciências da Comunicação, que se transformaram num curso "âncora" da faculdade e que depois, mais recentemente, é um dos nossos cursos melhor posicionados em termos de rankings.

Já 2010, foi a criação do Lisbon Consortium, uma rede que junta os programas de mestrado e doutoramento em Estudos de Cultura, com um conjunto alargado de instituições em Lisboa. Este ano permitiu a criação de programas que fazem a interface entre a academia e o mundo artístico e cultural, que hoje leva a que o nosso mestrado seja considerado o terceiro melhor do mundo na área de Arts and Cultural Management.

Por fim, escolho 2021, o lançamento da nossa nova licenciatura em Filosofia, Política e Economia, porque acredito que é um curso de futuro. Oferece uma formação multi e transdisciplinar e irá contribuir para uma nova geração de líderes que Portugal precisa.

Que iniciativas marcaram este ano de celebração na faculdade?

No âmbito dos 50 anos tivemos algumas atividades durante o ano. Um dos momentos especialmente marcantes foi a atribuição do grau de Doutor Honoris Causa à professora Barbie Zelizer, da Universidade da Pensilvânia, que é considerada uma das maiores especialistas mundiais na área dos estudos de jornalismo e memória. É uma pessoa que tem uma relação com a Faculdade de Ciências Humanas há pelo menos 15 anos e em 2019 ajudou a fundar a Lisbon Winter School for the Study of Communication, que nos tem permitido trazer a Lisboa os maiores especialistas mundiais em diferentes áreas da comunicação e também estudantes de doutoramento de todo o mundo para debaterem temas centrais sobre os estudos de comunicação.

Destaco também duas grandes conferências, uma delas com o professor Gilles Lipovetsky, que veio falar sobre autenticidade e outra com o filósofo Byung-Chul Han, que discutiu sobre a necessidade de esperança na sociedade de hoje em dia.

Como diretor, quais são os principais desafios do ensino superior em Portugal?

Um dos maiores desafios é as universidades conseguirem formar em simultâneo trabalhadores altamente qualificados para conseguirem ter um desempenho no mercado de trabalho, mas ao mesmo tempo formar pessoas. Hoje em dia vivemos numa lógica muito utilitarista no ensino superior, em que aquilo que se valoriza é se estamos a conseguir formar pessoas para exercerem determinadas profissões. Isso é muito importante... mas mais importante que isso é conseguirmos oferecer uma formação integral da pessoa. É isto que vai permitir haver espírito analítico, crítico e dar capacidade de compreensão da realidade independentemente de ser agora ou no futuro. Temos de formar pessoas para o futuro, para pessoas que ainda não existem e capazes de analisar o que está à sua frente e comprometidas eticamente. O grande papel das universidades é contribuir para criar uma sociedade melhor e mais justa.

Outros desafios são conseguirmos incorporar melhor as tecnologias no ensino e ensinar os estudantes a saber gerir a informação que recebem. Este último cruza-se com as questões relacionadas com a desinformação. Se não conseguirmos formar pessoas para perceberem como é que esta nova realidade informacional funciona, não estamos a ser competentes a formar pessoas para o futuro.

Tendo em conta o constante aumento das candidaturas ao Ensino Superior, como é que esta realidade se tem aplicado à FCH-Católica?

Felizmente temos tido um crescimento sustentado dos nossos cursos, com algumas tendências curiosas. Nas licenciaturas cresceu a procura sobretudo por jovens portugueses. Nos mestrados também há uma procura crescente, mas por alunos internacionais. Os nossos estudantes estrangeiros vêm de 42 países, mas com uma grande prevalência na Alemanha, Itália, Estados Unidos, Suécia e França. É um grande privilégio conseguir ter tantos alunos diferentes a estudar connosco.

Já nos doutoramentos, a procura tem sido crescente também por alunos internacionais. Uma explicação para isto, segundo o feedback que recebemos dos alunos, está relacionado com o perfil diferenciador dos nossos cursos.

Quais são os principais objetivos que a faculdade quer alcançar num futuro próximo?

Na Faculdade de Ciências Humanas queremos sedimentar os cursos que lançamos recentemente, nomeadamente a licenciatura em Filosofia, Política e Economia e o doutoramento em Psicologia das Emoções e do Bem-Estar.

Consolidar propostas de valor centrais na faculdade, sobretudo a nível dos mestrados que são cada vez mais internacionais e queremos continuar esse caminho. Desejamos ser uma faculdade que forma para o mundo e não apenas para Portugal.

Temos também como objetivo continuar a trabalhar em parceria com empresas e instituições. A empregabilidade dos alunos é algo que preservamos e queremos continuar a ser um parceiro relevante em termos da transmissão do conhecimento.

ines.dias@dn.pt

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt