Os movimentos contra a instalação de centrais fotovoltaicas no concelho de Santiago do Cacém (Setúbal) pediram hoje a suspensão dos projetos e anunciaram que vão constituir-se assistentes no processo ligado ao lítio, hidrogénio e centro de dados..Num comunicado conjunto, enviado à agência Lusa, os movimentos Juntos pelo Cercal do Alentejo e Vamos Salvar os Sobreiros, a Associação Proteger o Alentejo e o Grupo de Ação e Intervenção Ambiental (GAIA) pediram "a suspensão imediata dos licenciamentos" das centrais fotovoltaicas previstas para aquele concelho..Os movimentos revelaram ainda que vão "constituir-se assistentes no processo de inquérito n.º581/19.5 TELSB", que investiga negócios relacionados com a exploração de lítio no concelho de Vila Real e um projeto de hidrogénio verde e outro da construção de um centro de dados em Sines.."Vamo-nos constituir como assistentes no processo que está a decorrer, porque achamos que temos um conjunto de informações relevantes para o processo", argumentou à Lusa a porta-voz do movimento Juntos pelo Cercal do Alentejo, Kaya Schwemmlein..A responsável lembrou que "há mais de três anos" que o movimento está no terreno: "Temos demonstrado que as nossas reivindicações são reais e concretas e que 'vivemos na pele' as consequências desta transição, que acaba por ser injusta nos atuais moldes".."Estamos agora numa posição em que, finalmente, podemos dizer que já não estamos a ser ignorados e que a verdade veio um pouco à luz e que as nossas reivindicações fazem sentido", disse a porta-voz do movimento, que luta contra a instalação de uma central fotovoltaica em Cercal do Alentejo..Segundo os subscritores do comunicado, "nos últimos dias", assistiu-se "a um conjunto de detenções de altos funcionários da administração pública, empresários e advogados e ainda à constituição como arguidos de ministros ainda em funções, ex-ministros e empresários".."O pano de fundo de toda esta agitação judicial são três projetos de grande dimensão, com muitos milhões de euros envolvidos, beneficiários de declarações de impacte ambiental, favorável condicionada, e todos, mas muito concretamente dois deles, com especiais necessidades energéticas", pode ler-se..Além da exploração de lítio, em Montalegre e Boticas (Vila Real), os movimentos 'apontaram o dedo', em Sines, a um projeto de produção de hidrogénio verde e ao centro de dados que está em construção.."Estes dois últimos projetos são altamente consumidores de energia. Mas não uma energia qualquer, tem que ser energia 'limpa'. Não pode ser maculada com a nódoa dos hidrocarbonetos, muito menos com a do carvão que, entretanto, desapareceu do mapa das fontes de energia", afirmaram..Mas, "para alimentar toda esta voracidade energética, são necessários milhares de hectares de painéis fotovoltaicos, quilómetros de linhas de alta e muito alta tensão, muitas torres eólicas, muitos sobreiros abatidos, muita destruição de biodiversidade, de solo agrícola, de serviços do ecossistema, muitos impactes em espécies protegidas, alterações radicais na paisagem e no uso do solo".."Tudo isto com consequências incalculáveis na saúde e no bem-estar das populações", disseram, alegando que "a energia a produzir seria destinada a alimentar projetos que, sabe-se hoje, estão sob um manto de suspeição, localizada precisamente ao nível das declarações de impacte ambiental emitidas"..Reclamando a suspensão dos projetos fotovoltaicos de "Cercal do Alentejo e Fernando Pessoa", em São Domingos, e do "parque eólico de Morgavel", em Sines, os movimentos dizem que, quando estes "iniciam o seu percurso em direção à aprovação ambiental, já os respetivos promotores sabem para onde irá a energia produzida". Não é para "milhares de habitações", mas para a "produção de hidrogénio verde e o Data Center".."As populações residentes nas zonas dos projetos não são obrigadas a suportar, além de projetos altamente danosos para o ambiente, a circunstância de os mesmos terem sido construídos em cima de alegados crimes" e "têm o direito de saber se o sacrifício que lhes está a ser imposto tem na sua base a prática de alegados crimes", defenderam.