“Mais uma aleivosia do padre Hastings”

 “Mais uma aleivosia do padre Hastings”

O “ratinho branco” não era na verdade um ratinho, antes uma ratinha. E chamava-se Winnie e em investigações britânicas tinha espantado os investigadores ao recusar “persistentemente” viciar-se em heroína, ao contrário dos outros ratos todos.
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A Guerra Colonial prosseguia, com dezenas de oficiais já nessa altura conspirando para derrubar o regime, mas o DN continuava a não dar muito espaço - ou mesmo quase nenhum - ao que se passava nos territórios rebeldes (Angola, Moçambique e Guiné-Bissau), muito menos a eventuais sinais de esgotamento das tropas.

Na edição de 7 de janeiro de 1974, o jornal limitava-se a dedicar ao tema meia coluna na página 2, transcrevendo uma notícia da ANI (Agência Nacional de Informação, a agência de notícias do regime).

O que importava reportar era o que dizia um matutino católico de Moçambique, o Diário. O alvo era o padre católico britânico Adrian Hastings, que em julho de 1973 denunciara , no The Times,  o massacre do Wiriyamu, em Moçambique, perpetrado por comandos portugueses.

Escrevia o jornal: “Se o padre Hastings tivesse oportunidade de ver com os seus olhos turvos de maldade os milhares de desgraçados civis e militares vítimas da Frelimo, e de outras organizações do mesmo quilate, que jazem nos hospitais ou nas suas casas mutilados, muitos sem possibilidade de recuperação, cremos que talvez a sua consciência o fulminasse pela mentira e injustiça das duas afirmações”.

Hastings, dizia o Diário moçambicano, lançara em julho de 1973 em Londres “uma campanha portuguesa” e agora voltava “a atacar a política ultramarina de Portugal, visando desta vez a criação de aldeamentos em Moçambique, em Angola e na Guiné”.

Ora esses aldeamentos eram na verdade “uma obra ímpar em terras africanas”: “A eles se acolhem, livremente, os povos pacíficos que pretendem trabalhar e viver em paz”. E “por isso mesmo” estavam nesta altura a ser “alvo dos elementos da Frelimo”, procurando estes “desmoralizar e aterrorizar as populações”.

Ainda sobre Moçambique, o DN alardeava a natureza  supostamente tolerante do regime, do ponto de vista religioso, dizendo que o ministro do Ultramar iria receber seis dignitários islâmicos de Moçambique, de passagem por Lisboa a caminho de Medina e Meca, numa viagem “patrocinada” pela autoridades coloniais.

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