Sua excelência o ministro do Ultramar, Baltasar Rebelo de Sousa, chegou em 16 de janeiro a Bissau para uma visita de cinco dias à “província” da Guiné. Foi recebido em festa pelo novo governador e comandante-chefe, general Bettencourt Rodrigues – que o sossegou sobre a situação militar : “A despeito das ferozes e insidiosas tentativas do inimigo para perturbar e inquietar, a população vive na normalidade”. O ministro gostou de ter sido enganado.A Guiné estava a ferro e fogo. O dispositivo militar, cada vez mais recuado e retraído, entregara vastas zonas do território à guerrilha e já defendia Bissau. A derrota pairava como uma ameaça real desde, pelo menos, março de 1973, quando o PAIGC lançou a Operação Amílcar Cabral – uma poderosa ofensiva em forma de alicate com uma ponta no norte, na Região de Guidage, e a outra ponta no sul, em Guilege. Parecia o fim. O então comandante-chefe, general Spínola, conseguirá conter a vaga da guerrilha. Mas sabe que está tudo perdido. Era uma questão de tempo.Há muito que Spínola perdera a esperança numa solução política. Um ano antes da grande ofensiva do PAIGC, em maio de 1972, encontrara-se secretamente com o presidente do Senegal, Leopold Shengor, em Cape Skirrine. Shengor estava mandatado por Amílcar Cabral. Spínola saiu do encontro com uma proposta de paz: cessar-fogo imediato com vista à realização de um referendo dentro de 10 anos – e das três uma: a Guiné continuava como uma província integrante de Portugal; evoluía para uma autonomia alargada no espaço de uma comunidade luso-africana (solução federalista); ou a independência total.Pede ao presidente do Conselho uma audiência em Lisboa. Marcello arrasou-lhe todas as esperanças: “Mais vale uma derrota militar com honra a um acordo com terroristas.” Caetano proíbe o general de negociar – razão por que não respondeu à proposta de Amílcar Cabral para um encontro. Cabral será assassinado, em Conacri, em janeiro de 1973. Spínola perdeu o interlocutor no PAIGC.Depois de suster a guerrilha na grande ofensiva de março, fez saber que não queria ser reconduzido. No verão, vem à metrópole, em gozo de licença, para o habitual tratamento de águas no Luso. Não voltará a Bissau. Foi substituído por Bettencourt Rodrigues