Mais de 20% dos condutores de TVDE não falam português
Pedro Correia/Global Imagens

Mais de 20% dos condutores de TVDE não falam português

A Uber marcou uma revolução nos transportes em dez anos, que se cifra num mercado de 700 milhões de euros, 22 mil empresas e mais de 70 mil motoristas, muitos deles imigrantes. Ontem lançou uma solução nova para partilha de viagens e reforçou a aposta na segurança.
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Dez anos depois de ter revolucionado a mobilidade urbana em Portugal, a Uber opera hoje num mercado totalmente diferente, onde existem cerca de 22 mil empresas de TVDE e mais de 70 mil motoristas. Destes, mais de 70% eram portugueses ou oriundos de países de língua oficial portuguesa, de acordo com dados de 2023 do Instituto de Mobilidade e Transportes (IMT), indicando que mais de 20% não são falantes de português. Esta quinta-feira, entretanto, fica marcada pelo protesto em Lisboa e no Porto de motoristas que reclamam por mais fiscalização e formação, bem como pela revisão das tarifas de transporte.

Depois dos portugueses, a mão-de-obra destes serviços de transporte ocasional por plataformas eletrónicas é composta maioritariamente por brasileiros, indianos, paquistaneses e bengalis. Esta afluência de imigrantes ao setor é causa e consequência do crescimento em flecha de 50% deste mercado em 2022 que só num ano atraiu mais de 21 mil novos motoristas.

“Saber falar a língua portuguesa não é um requisito que esteja previsto na lei que rege o setor do TVDE, nem é uma condição para a prestação do serviço de transporte”, disse ao DN o diretor-geral da Uber Portugal, em entrevista à margem do lançamento de uma nova funcionalidade de partilha de viagens. Francisco Vilaça garantiu, no entanto, que os passageiros que não se sintam confortáveis com a situação, têm modos de compensar o incómodo: “Em primeiro lugar, a identidade do condutor consta na informação disponível na app bem como os idiomas que fala, pelo que quem ache este tópico relevante pode escolher outro condutor, ou, em alternativa, fazer uso da tradução simultanea disponível na app”.

O diretor geral da Uber faz questão de sublinhar a “aposta contínua, sempre melhorada e sem paralelo” da empresa na segurança dos passageiros, dos motoristas e do próprio sistema, dispondo de mais de 20 ferramentas que prevêm, por exemplo, canais de ligação direta às autoridades policiais, em caso de acidentes ou de outras situações. Em casos de investigação criminal, os dados da geolocalização quer de motoristas, quer de passageiros são um contributo importante.

Face a notícias vindas a público sobre cartas de condução falsificadas nos TVDE, Francisco Vilaça contrapõe um “sistema muito rigoroso de verificação da autenticidade dos títulos de condução cruzando informação com várias fontes”. Apesar de a verificaçao dessa autenticidade ser “feita online”, há casos em que “também passa por uma análise física”, acrescentou aquele responsável. Também tem um sistema de reconhecimento facial para tentar impedir utilização inapropriada.

O mesmo rigor é aplicado no próprio acesso dos motoristas, que “têm de submeter um total de 15 documentos”, uma das quais é uma declaração médica. “Estão obrigados a comprovar o registo criminal atualizado no Ministério da Justiça de três em três meses”, sem o que ficam suspensos da aplicação. Francisco Vilança diz que o mesmo acontece com os veículos, obrigados a inspeções anuais, sendo que, logo no dia a seguir ao fim do prazo, também ficam imediatamente suspensos do exercício da atividade.

Os incidentes mais comuns que a área de suporte da Uber tem de tratar são os acidentes e as altercações verbais ou físicas, mas também podem ocorrer situações de assédio sexual, embora residuais, disse ao DN Paula Melo, responsável do Centro de Excelência da Uber, em Lisboa, que dá apoio a 12 países europeus.

Imaginemos um caso de assédio sexual que comece ainda antes da viagem, com uma mensagem imprópria do condutor para a/o passageiro, este pode fazer imediatamente o reporte na aplicação para o sistema e cancelar a viagem. A equipa de suporte confirma posteriormente os dados, com recurso à geolocalização em tempo real, ouve as partes por contacto telefónico, em caso de ser possível confirmar a acusação, suspende ou cancela o acesso do motorista à aplicação e, consoante a gravidade dos fatos, pode participar às autoridades. O mesmo tratamento pode ser dado ao passageiro, em caso de se provarem comportamentos inadequados, ajudando também a reforçar a segurança dos condutores.

Embora questionado pelo DN, o diretor-geral da Uber Portugal não avança informação sobre o número de incidentes registados nem sobre a sua evolução.

As equipas especializadas que ajudam a tratar destes problemas em 12 países estão reunidas no Centro de Excelência da Uber, em Lisboa, que emprega perto de 450 trabalhadores maioritariamente estrangeiros, onde se falam sete línguas diferentes.

Solução para partilhar viagens

Ao mesmo tempo que assinala a sua primeira década em Portugal, a Uber lançou ontem uma nova funcionalidade de viagens partilhadas, que está por enquanto apenas disponível em Lisboa, margem Sul e Grande Porto. O UberX Share permite que pessoas que não se conheçam entre si possam partilhar a viatura para um percurso mais ou menos idêntico com a garantia de poderem beneficiar de uma redução da tarifa até 30%, se houver uma correspondência bem sucedida com outro utilizador, anunciou Francisco Vilaça, na sua apresentação ontem, em Lisboa. O limite máximo de passageiros nesta modalidade é de três e o período estimado da viagem não deverá ultrapasse os 8 minutos previstos na viagem pela tariga regular. Embora já existisse uma modalidade para grupos de amigos, esta permite juntar pessoas desconhecidas entre si. Será um contributo para reduzir o congestionamento e reduzir emissões, mas, sobretudo, para garantir maior capacidade de resposta em horas de ponta ou à saída de eventos de grande dimensão, acreditam os responsáveis da empresa.

“Para os motoristas, a nova solução representará sempre um ganho, pois todo o percurso será remunerado, podendo também atrair mais gente para este serviço”, garante o diretor geral. Esta “é uma maneira indireta de ir um pouco ao encontro das reivindicações apresentadas pelos motoristas TVDE” , diz aquele responsável, num momento em que aqueles profissionais se preparam para avançar com uma greve contra as condições de trabalho.

Francisco Vilaça diz compreender e respeitar as reivindicações, mas lembra que “há uma grande heterogeneidade de situações neste setor, com muitos casos de pessoas satisfeitas com esta atividade, que se tornou uma boa e fácil solução para muita gente, às vezes para uma família inteira. Uns trabalham todos os dias, outros só em regime pós-laboral e outros só ao fim de semana”.

Presente em 195 municípios, a Uber já transportou 12 milhões de passageiros tendo numa década contribuiído para duplicar o volume de negócios, num aumento de 480 milhões de euros, que atingem hoje cerca de 711 milhões de euros. A receita fiscal aumentou 248%.

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