A psilocibina está presente nos cogumelos mágicos.
A psilocibina está presente nos cogumelos mágicos.Freepik

Fundação Champalimaud vai estudar o uso de cogumelos mágicos em doentes paliativos

É a primeira vez que a União Europeia mobiliza fundos para um estudo deste tipo. Ao todo, são 6,5 milhões de euros para procurar perceber como a psilocibina atua na mente de pessoas com condições de sofrimento psicológico.
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O objetivo é estudar a forma como a psilocibina - composto encontrado nos cogumelos alucinogénicos - pode atenuar os sintomas de dor psicológica em doentes paliativos não-oncológicos. Para isso, a União Europeia (UE) atribuiu mais de 6,5 milhões de euros a um consórcio de 19 países, no qual Portugal está incluído através da Fundação Champalimaud.

Aquilo que se pretende é perceber como esta substância pode ajudar no tratamento daqueles sintomas emocionais que configuram quadros de depressão ou de ansiedade, o chamado sofrimento psicológico e existencial”, explica ao DN Albino Maia, o psiquiatra que será o investigador principal deste ensaio.

No centro do estudo, que combina Psicoterapia com Farmacoterapia, estarão 100 doentes, com cada centro a analisar condições diferentes. No caso português, serão estudadas as “perturbações do movimento em fase avançada”. Outros países, como os Países Baixos, a República Checa e a Dinamarca, vão analisar outros problemas, como a doença pulmonar obstrutiva crónica, e as escleroses múltipla e lateral amiotrófica.

O estudo com psicadélicos - ainda que não-inédito - será o primeiro do género a que União Europeia garante financiamento. Segundo Albino Maia, “há muito entusiasmo à volta das substâncias psicadélicas”. Se os resultados deste ensaio forem positivos, “certamente que vai estimular a investigação nesta área”, alargando até a outro tipo de compostos.

Esta investigação será, no entanto, diferente. “Se o desenho do estudo for aprovado, será uma inovação sobretudo pelo tipo de população. Já foram feitas coisas seme- lhantes com o cancro, mas com este tipo de doenças será a primeira vez”, explica Albino Maia.

Planeado para durar quatro anos, o primeiro passo acontece já este mês, ao ser submetido o desenho da investigação às entidades que regulam este tipo de ensaios. Este desenho aproveitará, segundo o diretor da Unidade de Neuropsiquiatria da Fundação Champalimaud, o que já foi investigador nesta área. Todo este ano será “de preparação”. Seguem-se “dois, três de condução do estudo”, ou seja, de aplicação da psilocibina e da recolha de dados. O quarto e último será focado em analisar todos os dados, escrevendo depois os artigos científicos.

Em comunicado, a Fundação Champalimaud explica que “os participantes que receberem psilocibina começarão com uma dose mais baixa para avaliar a sua resposta, seguida de uma dose mais alta”. “Aqueles designados aleatoriamente para o grupo placebo também terão a oportunidade de realizar uma sessão de tratamento com psilocibina”, esclarece a instituição.

Seguem-se depois três sessões de integração, onde será realizado um apoio psicológico contínuo. Segundo Carolina Seybert, psicóloga clínica e investigadora na fundação, “todos os terapeutas serão minuciosamente treinados e seguirão um manual padronizado, essencial para fornecer cuidados consistentes juntamente com a medicação”. 

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