Formas com gente dentro, o segredo do Design Italiano
Stefano Ferroni

Formas com gente dentro, o segredo do Design Italiano

Selo de qualidade e arrojo estético, o made in Italy há muito que conquistou os amantes de Moda e do Design. Nas vésperas do Salão de Mobiliário de Milão (14 a 20 de abril), o DN falou com a curadora Maria Cristina Didero.
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Em 2017, a revista AD-Architectural Digest considerou-a a curadora de Design mais cool de Milão. Sete anos depois, Maria Cristina Didero reforçou ainda mais um percurso que combina solidez conceptual com inovação, a tal ponto que foi a convidada deste ano da Embaixada de Itália em Portugal para celebrar o Dia do Design Italiano no mundo, sob o lema “Fabricar valor - inclusividade, inovação e sustentabilidade”.

Embora, por motivos pessoais, Didero tenha participado por streaming na sessão, realizada no atelier QuartoSala, em Lisboa (onde habitualmente são expostas várias marcas italianas), moderou um debate com Giusi Tacchini, responsável da marca italiana Tacchini, Arianna Lelli Mami, do atelier de Milão, StudioPepe, e a portuguesa Guta Moura Guedes, fundadora da ExperimentaDesign.

Apesar do curriculum impressionante, não se pense, no entanto, que Maria Cristina Didero tem uma concepção demasiado formal do Design, como nos disse: “Acredito que a “estrela” é sempre o designer e que depois dele estão os objetos. O curador é um amigo, ou um guia, que ajuda a contar uma história, a desenvolver um projeto. Comecei a fazer este trabalho numa época em que ele ainda não era tão popular como hoje. Não havia formação específica ou escolas que nos preparassem para o desempenhar. Posso dizer que aprendi tudo no terreno, desde o modo como se prepara uma apresentação à logística necessária ao transporte das peças, passando pela antecipação da possível reação do público. Hoje, isso já não é assim e fico muito contente que muitos jovens já possam receber formação nestas áreas.”

Da Vitra para a Wallpaper

Maria Cristina Didero trabalhou na Vitra Design Museu durante 14 anos, depois disso tornou-se diretora executiva da Fondazione Bizassa e foi consultora nesta área para instituições e empresas como Design Singapore Council, Fritz Hansen, Lexus, Fendi, Louis Vuitton e Valextra. Tem colaborado como mentora e júri de prémios atribuídos por plataformas internacionais como a Design Anthology, Dezeen, a Lexus Design Award e a portuguesa Experimenta Design. 

Neste momento, é editora em Milão da revista Wallpaper, curadora da Miami Design, para além de ser autora de dezenas de estudos sobre o tema e ainda de um filme em parceria com Francesca Moltani, SuperDesign. Italian Radical Design 1965-1975. Nele, Maria Cristina desenvolve a sua concepção socialmente comprometida da disciplina a que se dedicou: “Costumo dizer que o meu mantra é considerar que o Design é sobre as pessoas e não sobre cadeiras”, diz-nos. “Com isso, quero dizer que procuro sempre investigar e perceber por que razão os objetos aparecem (e como) e que necessidade vêm preencher. O meu foco é pensar no gesto e depois no seu resultado. Sei que há outros críticos e curadores que fazem o processo inverso, o que é perfeitamente legítimo.”

Como o documentário de que é co-autora sugere, Maria Cristina tem uma predileção pelo Movimento de Design radical italiano dos anos 1960. Fascina-a “o modo como as pessoas reagiam aos objetos, como desenvolveram ideias criativas.” Acredita no poder das artes, design e tecnologia e da combinação entre todas. “A minha paixão por este movimento tem a ver com o modo como os valores sociais e políticos estão presentes nestas peças. O bom Design reflete sempre a cultura e o tempo em que surgiu e o modo como as pessoas viveram.” E acrescenta, a propósito das asperezas da vida de hoje: “Acredito que o Design é um instrumento fundamental para melhorar o mundo, estimula a nossa mente, leva a que façamos muito mais perguntas do que respostas. É essa a sua magia.”

Nesta ocasião, o antigo embaixador de Itália em Portugal, Carlo Formosa, sublinhou a importância de encontros como este para o desenvolvimento do Design e garantiu o empenho do seu governo em apostar neste setor, hoje fundamental para a economia italiana.

dnot@dn.pt

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