Enfermeiros decretam mais dez dias de greves e prometem agosto “quente”

A classe da enfermagem promete um agosto quente. O mês começa hoje com uma greve nacional decretada pelo Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), que vem agora anunciar mais dez dias de greves regionais em unidades que vão do Minho ao Algarve, mais concentrações, plenários e sessões de esclarecimento. E os protestos podem agravar-se ainda mais, em primeiro lugar porque a proposta que a ministra da Saúde, Ana Paula Martins, colocou em cima da mesa, na reunião de quarta-feira à tarde, é “absolutamente inaceitável”. Depois, porque há ULS que não estão sequer a cumprir o que está na lei ou a garantir “condições de trabalho” em “segurança”. Ao DN, a dirigente nacional do SEP, Guadalupe Simões, diz mesmo que “os enfermeiros estão exaustos” e “cansados de discriminação”.. De acordo com o mapa de ações de luta do SEP para o mês de agosto, são poucas as regiões que ficam de fora, mas aquelas que ficam “estão a ser avaliadas” para saberem se nestas avançam também com protestos ou não. Esta estrutura sindical, uma das mais antigas da classe, tem vindo a criticar a forma como a tutela “tem conduzido as negociações com os enfermeiros”. Uma atitude que levou a sua direção a decretar um dia de greve nacional para hoje, dia 2 agosto, e à qual acredita que “a classe irá responder com adesão elevada”. .Recorde-se, e segundo explicou o SEP, este pré-aviso de greve levou a ministra a informar que as negociações estariam suspensas, mas Ana Paula Martins acabou por chamar ao ministério o SEP e outras estruturas da classe de enfermagem na terça-feira, na quarta e ontem mesmo. Só que a proposta colocada em cima da mesa não tem agradado aos sindicatos..Aliás, o SEP conta que esta “nem foi apresentada formalmente, foi só explicitada oralmente”, considerando que o seu conteúdo “é absolutamente inacreditável”. “Se há coisa que os enfermeiros se queixam é da discriminação a que têm sido votados e o que o Governo fez foi precisamente aumentar essa discriminação”, comentou ao DN..Guadalupe Simões reconhece que “houve alguma evolução no que foi apresentado” pelo ministério, mas, mesmo assim, “está muito longe de qualquer dos objetivos que o SEP considera como justos”. E argumenta: “A questão prioritária tem a ver com o facto de o ministério avançar com uma alteração nas posições remuneratórias que preveem um ajustamento salarial da ordem dos 52 euros para os enfermeiros generalistas, e alterações nas posições remuneratórias para os enfermeiros que já estão na categoria de especialistas, chefes e até gestores da ordem dos 200 a 250 euros, o que cria maior divisão e discriminação na classe”. .A dirigente sindical diz: “Temos andado nos serviços e sabemos o que a classe pensa. Isto é um absurdo. E não se compreende que o Governo ande a negociar com outras classes profissionais, como a dos professores em que aceitou a contagem de todos os anos de serviço, e a acordar aumentos de 300 euros para as forças policiais e militares e que aos enfermeiros nem sequer pondere a atribuição de retroativos a 2018”..Para o SEP, a proposta avançada foi a gota de água e agora promete um agosto quente que pode agravar nos meses seguintes. O calendário das ações de luta está feito e as greves, desta vez, regionais e parciais, nalguns casos, regressam já na próxima na segunda e terça-feira, dias 5 e 6, na Beira Alta, na Guarda com concentração junto à ULS, e em Viseu, com greve. Segundo justifica o sindicato, estas ações têm ainda por base o número elevado de profissionais precários na região, a falta de pagamento de retroativos, de trabalho extraordinário, etc. .Depois segue-se, o Alentejo com greves nos dias 9 e 14, nas ULS do Alentejo Central e Norte Alentejano, das 12 às 16 horas com concentrações também. Em Castelo Branco há greves nos dias 14 e 16 nas ULS desta cidade e na da Covilhã. Em Santarém, as greves são nos dias 16 e 21 nas ULS Médio Tejo e Lezíria. No Algarve, os protestos começam em Faro, na área hospitalar, com greve no dia 22 nos cuidados hospitalares e dia 23 nos cuidados primários, em causa a carência de mais de mil profissionais na região, a falta de pagamento de folgas e feriados, a ausência de avaliação e de até de falta material clínico para desem-penharem as suas funções..Para dias 26 e 27, estão agendadas greves nos hospitais de Famalicão e Braga. No dia 28 no Hospital de São João e no IPO do Porto. Em Trás-os-Montes, há concentrações a 13 e 29 agosto. No dia 30, os enfermeiros fazem ação de sensibilização de rua na Paria da Tocha. .Guadalupe Simões destaca que estes protestos são também para assinalar “os problemas institucionais, que são cada vez maiores. Até porque, os mapas de profissionais não foram renovados”. O DN tentou contactar o Ministério da Saúde para saber se haverá alterações nas negociações, mas não conseguiu obter resposta.

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