Dinai, o rapaz com "cara de anjo" que fintou a polícia
Michele, Lidiana e a amiga Thayane estariam mortas há meses. Os corpos estavam intactos. Dinai é procurado no Brasil
Dinai Gomes, o principal suspeito na morte da companheira, Michele, da irmã desta, Lidiana, e da amiga Thayane, terá sido muito rápido a matar e a esconder os corpos na fossa de esgoto do hotel para cães da quinta em Tires, onde trabalhou como empregado. Nas primeiras buscas da PJ ao local, em abril, a fossa também foi vista mas nada foi encontrado. Dinai continuava ontem a ser procurado pela Polícia Federal brasileira e ainda não tinha sido detido, segundo informações recolhidas pelo DN. As autópsias aos corpos serão feitas na segunda-feira, bem como outros exames complementares que sejam necessários.
Segundo apurou o DN, os corpos das três mulheres foram resgatados intactos a meio da manhã de sexta-feira pela Judiciária, mas em avançado estado de decomposição. A mãe de Michele e Lidiana não virá a Portugal recolher os corpos por falta de condições financeiras. "O que eu queria mesmo era encontrar minhas filhas vivas. Só vou a Portugal se a polícia daí me disser que tenho de ir para exames de ADN ou algo do género", contou Solange Santana, em contacto telefónico com o DN a partir da sua casa em Minas Gerais.
Michele, de 28 anos, que estava grávida de Dinai, a irmã Lidiana, de 16, e a amiga desta, Thayane, de 22, já deveriam estar mortas pelo menos desde fevereiro, altura em que a amiga Flávia, residente m Portugal, foi à quinta confrontar Dinai e este respondeu que elas tinham saído de casa, para irem viver com um outro brasileiro. Flávia achou estranho e apresentou queixa às autoridades. O desaparecimento das três brasileiras foi reportado à Interpol. Dinai voltou então para o Brasil.
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Judiciária percorreu hectares
Por causa da suspeita de rapto, entrou em ação a Unidade Nacional Contra Terrorismo da PJ. Os inspetores vasculharam a quinta de Tires em abril, quando já se tinha evoluído das suspeitas do rapto das três brasileiras desaparecidas desde janeiro para morte violenta. Na altura, soube o DN, também foi vista a fossa de esgoto da quinta que alberga um hotel de cães mas nada foi encontrado. Dinai, que trabalhara como empregado de limpeza no hotel, tinha acesso fácil aos recantos da quinta e soube como colocar os cadáveres na fossa por forma a não levantar suspeitas. Foram ainda esvaziados três poços e percorridos a pé largos hectares na zona e noutros locais que se tornaram suspeitos, soube o DN.
A Polícia Judiciária persistiu sempre na investigação, em articulação com informações cruzadas com a Polícia Federal brasileira. Quatro meses depois das primeiras buscas, a nova deslocação à quinta em Tires permitiu fechar o caso, na última sexta-feira.
Falta agora descortinar melhor a motivação para o crime e a forma como Dinai as matou. Suspeita-se que tenha morto a namorada Michele, que estava grávida, porque a mulher com quem ainda está legalmente casado no Brasil terá vindo a Portugal no início do ano. Também por explicar estão as mortes da irmã de Michelle, Lidiana, e da sua namorada Thayane. Lidiana, de 16 anos, estava à guarda legal de Dinai. O suspeito chegou a prestar declarações à Polícia Federal brasileira, quando voltou ao seu país, mas nada esclareceu.
Inicialmente suspeitava-se que Dinai poderia ter raptado as três mulheres e a Polícia Federal chegou a mesmo a considerar a hipótese de tráfico internacional de pessoas. Solange Santana, mãe de Michele e Lidiana, apelou nas redes sociais a informações sobre o paradeiro de Dinai, considerando-o sempre o único suspeito.
"A mais nova queria ser pediatra"
Solange Santana, 50 anos, a mãe de Michele e Lidiana, continua inconsolável. Recorda os sonhos das filhas que criou a pulso, sem a ajuda de ninguém. "A mais nova queria ser pediatra. E Michele trabalhava como interna numa casa mas tirou curso de inglês e queria um serviço melhor".
Preferia que Dinai fosse preso em Portugal. "Queria que a polícia daí tivesse pegado ele. Aqui no Brasil a pena é de 30 anos mas ele sai ao fim de cinco com bom comportamento", lamenta. Em Portugal, a pena máxima por homicídio qualificado é 25 anos.
Solange está separada do pai das filhas há muitos anos e tem ainda a seu cargo, em casa, dois outros filhos, uma neta e um genro. Só ela trabalha, em limpezas numa escola estadual. Porque Dinai terá cometido este crime é a pergunta que não lhe sai da cabeça. "Ele chegou a ligar no fim de 2015 a pedir minha filha em casamento. Tinha uma cara de anjinho ele. Como eu ia adivinhar?"