Ativistas climáticos bloquearam entrada do Conselho de Ministros. 17 detidos, diz coletivo

A Unidade Especial da PSP retirou os estudantes que se tinham prendido às grades da entrada principal do IPMA e do Ministério do Mar. Ativistas usaram cola e alguns estiveram emparelhados com tubos de ferro.
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Vinte estudantes do grupo Greve Climática Estudantil estiveram na manhã desta quinta-feira a bloquear todas as entradas do local onde foi marcada a reunião do Conselho de Ministros, em Algés, no concelho de Oeiras. Porta-voz do coletivo disse à Lusa que foram detidos 17 ativistas.

"Sabemos que 17 (ativistas) foram detidos e levados para esquadras de Oeiras", disse Beatriz Xavier, porta-voz do grupo Greve Climática Estudantil acrescentando que as forças de segurança "recusaram" informar o coletivo dos locais onde se encontram as pessoas que bloquearam as várias entradas do complexo do Instituto Português do Mar e Atmosfera (IPMA).

Os ativistas climáticos bloquearam hoje as entradas do complexo do IPMA, junto ao rio Tejo, em Algés, atrasando a entrada dos trabalhadores e o início da reunião do Conselho de Ministros.

A reunião ministerial acabou por se realizar no mesmo local depois da intervenção da unidade especial da PSP que retirou os ativistas que tinham utilizado correntes e cola para impedirem a abertura das várias portas do local situado entre a avenida Dr. Alfredo Magalhães Ramalho e o Passeio Marítimo de Algés.

"Vemos mais uma vez que as instituições preferem prender ativistas do que adotar a ação climática. Mais uma vez, os nossos governos estão mais preocupados em reprimir-nos do que fazer alguma coisa. Vamos acompanhar os nossos colegas detidos. Não vamos deixar ninguém sozinho", lamentou Beatriz Xavier no final do protesto.

"Estamos a bloquear todas as entradas onde vai decorrer o Conselho de Ministros. Estamos colados aos portões e em outros casos usamos tubos de ferro", disse à Lusa, durante o protesto, Beatriz Xavier.

Os estudantes usaram cola e alguns estiveram emparelhados com tubos de ferro que tapam as mãos e os braços, estando agarrados uns aos outros nas portas de acesso ao edifício das instalações do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), para onde foi marcada a reunião interministerial, agendada para as 09:30.

A Unidade Especial da PSP retirou os estudantes que se tinham prendido às grades da entrada principal do IPMA e do Ministério do Mar, no concelho de Oeiras, distrito de Lisboa.

Chegou a ser noticiado que a reunião do Conselho de Ministros iria ser transferida para São Bento, devido ao protesto, mas acabou por manter-se no local previsto.

Pouco antes das 10:00, os portões da entrada principal foram abertos e alguns veículos civis entraram no complexo.

Os jovens detidos foram conduzidos, algemados, para os veículos policiais.

Um deles decidiu não caminhar, tendo sido arrastado por dois polícias.

"Estão mais uma vez a reprimir-nos", disse à Lusa Beatriz Xavier, do coletivo Greve Climática Estudantil de Lisboa.

Os elementos do coletivo não foram informados do local para onde estes quatro detidos foram conduzidos, disse à Lusa a porta-voz do coletivo, admitindo que todas as pessoas que se prenderam às grades de todo o complexo "foram ou vão ser detidas".

"Vamos saber em que esquadra estão e vamos manifestar-nos à porta", disse Beatriz Xavier.

Vinte ativistas impediram ao início da manhã todas as entradas do IPMA e do Ministério do Mar bloqueando a entrada do local, para onde foi marcada (para as 09:30) a reunião de hoje do Conselho de Ministros.

"É inaceitável que os governos não coloquem nas reuniões a crise climática no centro da mesa de discussão. A humanidade registou os meses mais quentes de sempre e vai ser mais intenso. Já sabíamos disto quando começámos os primeiros protestos em 2019", disse, ainda durante o protesto, Beatriz Xavier do coletivo.

A porta-voz afirmou ainda que os estudantes "não queriam estar aqui", mas precisam de se manifestar.

"Somos desprezados. Segundo o último relatório da ONU, estamos no limite. O ano 2023 é fulcral", acrescentou.

Na porta principal esteve colocado um cartaz que diz "último inverno de gás", alertando para os perigos da descarbonização.

Além dos ativistas que se prenderam às grades e aos portões, outros elementos do grupo de estudantes mantêm-se no exterior de forma pacífica.

"A nossa luta é pelo clima porque é urgente. Vamos ter de continuar a agir", acrescentou Beatriz Xavier.

A porta-voz do coletivo disse ainda que a ação pretendeu "uma disrupção da realidade" apesar de não se esperarem alterações governativas "de um dia para o outro" face à crise climática.

Beatriz Xavier recordou que o coletivo estudantil já organizou manifestações, ocupações de escolas e de universidades e que, mesmo assim, os ativistas foram "calados e ignorados".

"Daqui para a frente, com o aumento da crise climática os nossos protestos também vão ter de aumentar de escala porque os nossos governos não nos estão a ouvir e estão a continuar a sua vida e os seus conselhos de ministros", concluiu.

A polícia reforçou a presença no local desde as 09:00 com mais de 10 veículos, a maior parte da Unidade Especial da PSP.

A ministra da Presidência desdramatizou a manifestação à entrada para o Conselho de Ministros, , em Algés, promovida por jovens pela ação climática, contrapondo que o seu Governo assume o ambiente como uma causa prioritária.

"As manifestações de opiniões diversas fazem parte da democracia. Nada mais temos a assinalar", respondeu Mariana Vieira da Silva em conferência de imprensa, no final do Conselho de Ministros.

"O centro da atividade do Governo tem sido muito dedicado à ação climática. Esse foi um dos desafios estratégicos incluído no Programa do Governo logo em 2019 e, ao longo dos anos, temos tomado ações muito relevantes", declarou, numa alusão à aprovação em Conselho de Ministros, no passado dia 30, do Plano Estratégico de Ação Climática.

De acordo com Mariana Vieira da Silva, esse plano pretende atualizar "de forma mais exigente as metas a que o país está comprometido".

"Não é à toa que a Comissão Europeia considera que Portugal é o país mais bem posicionado para o cumprimento dos objetivos [do Acordo] de Paris", acrescentou.

Noticia atualizada às 16:00

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