Decorria o ano de 2010 quando um grupo de jovens de Palmela se reuniu e percebeu que o poder da mudança poderia surgir através do incentivo para que crianças e adolescentes em risco de exclusão social explorassem o próprio talento. Foi nesta época que surgiu a Associação Juvenil Transformers, que, 14 anos depois, foi distinguida na tarde de ontem no parlamento com o Prémio Direitos Humanos, em ocasião marcada por discursos solidários e muita emoção na Assembleia da República. “Hoje, na Casa da Democracia e da construção coletiva, eu trago a voz de quase 10 mil jovens e centenas de seniores que encontraram no movimento Transformers uma rede para acreditar e poder participar da mudança”, começou por dizer Joana Moreira, presidente da Associação Transformers, destacada por unanimidade pelo parlamento como a organização não governamental que se distinguiu na defesa dos direitos humanos no ano de 2024, em discurso na cerimónia realizada no parlamento. Focando nos talentos e hobbies das pessoas através de workshops que fomentam atividades como dança, gastronomia, música ou teatro, a Transformers notabilizou-se nos últimos 14 anos pela intervenção e capacitação de crianças e jovens em risco de exclusão social. Há dois anos, a associação já tinha sido premiada pela Comissão Europeia com o Civic Society Prize, além de ter sido reconhecida como uma das melhores mediadoras sociais do mundo. O Prémio Direitos Humanos já é uma tradição da última quinzena do ano na Assembleia da República e faz parte do calendário da casa desde 1998, quando foi instituído o Dia Nacional dos Direitos Humanos - comemorado a 10 de dezembro - para marcar o 50.º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos. A distinção neste ano foi celebrada por Joana Moreira. “Este prémio é a confirmação de que um grupo de miúdos pode encontrar a forma efetiva de fazer a diferença e mudar a sociedade. [...] Nascer numa família pobre nunca deveria ser uma sentença de exclusão. Ninguém deveria ser invisível neste país. Ninguém deveria ficar para trás apenas porque nasceu sem condições socioeconómicas, porque cresceu numa casa de acolhimento ou devido à sua idade”, apontou Joana Moreira, destacando também o trabalho da associação para com pessoas de diferentes faixas etárias. No seu discurso na abertura da cerimónia, a deputada Paula Cardoso (PSD), presidente do júri e da Comissão de Assuntos Constitucionais destacou que a Transformerss “é uma organização de referência na área da juventude voluntariada e da educação não formal”. A social-democrata decidiu a entrega do prémio à Transformers em conjunto com os parlamentares Cláudia Santos (PS) Pedro Neves de Sousa (PSD), Rui Paulo Sousa (Chega!), Patrícia Gilvaz (IL), Fabián Figueiredo (BE), António Filipe (PCP), Paulo Muacho, (Livre) João Pinto Almeida (CDS-PP) e Inês Sousa Real (PAN). Além da entrega do Prémio Direitos Humanos, também faz parte da cerimónia desde 1998 a atribuição de duas medalhas de ouro para instituições que se destacam anualmente pelo papel de intervenção solidária. A Associação Coração Amarelo, que luta contra o isolamento dos mais idosos, representada por Liliana Gonçalves, e a Associação Nacional Cuidadores Informais, dedicada à dignificação dos cuidadores informais, representada por Rosa Araújo, foram as duas galardoadas. Já a Associação Transformers, além do reconhecimento do parlamento, também recebeu do Governo uma verba de 25.000 euros pelo Prémio Direitos Humanos. “Há 14 anos, só queríamos usar o que as pessoas mais gostam de fazer para impulsionar as suas comunidades. Há 14 anos, diziam que nós éramos um grupo de miúdos cheios de sonhos, que queriam mudar o mundo. Hoje, nós já o estamos a fazer”, finalizou Joana Moreira sob aplausos e testemunhando a emoção dos presentes. Esta foi a 25.ª vez que a Assembleia da República atribuiu o Prémio de Direitos Humanos, um acontecimento que sob a ótica dos parlamentares tem-se consolidado como uma tradição e, de acordo com o presidente da AR José Pedro Aguiar-Branco “já faz parte do ritmo do próprio parlamento”. “Chegados a dezembro, em data próxima do aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, escolhemos um momento para parar. Um momento em que olhamos para a sociedade, em busca dos bons exemplos, um momento em que celebramos os nossos melhores. São pessoas e instituições que se entregam à defesa dos direitos humanos, seja na intervenção política ou nas causas cívicas, seja no trabalho jurídico ou na solidariedade social: é uma feliz coincidência que esta cerimónia aconteça neste tempo de Natal”, destacou Aguiar-Branco. nuno.tibirica@dn.pt