Sociedade
02 dezembro 2021 às 17h42

Daniel Sampaio e Laborinho Lúcio integram comissão de estudo de abusos na Igreja

A Comissão Independente, coordenada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht, foi apresentada na Fundação Calouste Gulbenkian.

DN/Lusa

O psiquiatra Daniel Sampaio e o Álvaro Laborinho Lúcio, antigo ministro da Justiça, integram a Comissão Independente para o Estudo dos Abusos de Menores na Igreja, sob a coordenação do médico pedopsiquiatra Pedro Strecht.

Numa conferência de imprensa realizada na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, o coordenador desta entidade criada pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) anunciou ainda os nomes da socióloga e investigadora Ana Nunes de Almeida, da assistente social e terapeuta familiar Filipa Tavares e, finalmente, da cineasta Catarina Vasconcelos, admitindo que venham a ser integrados mais profissionais no futuro.

"Em Portugal, nos últimos tempos e tal como em diversos países, registou-se uma saudável onda de indignação, movida pela procura de uma verdade histórica, sobre o que poderá ter acontecido a um número incontável de menores no campo dos abusos sexuais em diversos contextos da sociedade, em especial no seio da própria Igreja Católica", começou por dizer o médico pedopsiquiatra.

E continuou: "É para isso que aqui estamos, neste momento, a dar início a um trabalho que naturalmente se prevê complexo, longo, difícil de definir quanto a resultados finais, mas que verdadeiramente teria que ser feito, mesmo que ainda assim venha a ser olhado como origem de outros que se lhe possam vir a seguir no futuro, procurando sempre a necessidade de reforço de verdadeiras políticas de proteção e promoção da infância e adolescência".

Apelando às vítimas "destes crimes hediondos" para que falem sobre os abusos que sofreram, Pedro Strecht vincou a "utilidade" da partilha desses casos para evitar repetições futuras, sem deixar de assegurar o "absoluto respeito e sigilo", bem como o anonimato das vítimas.

"Não podemos mudar o passado, mas podemos sempre construir um futuro melhor e livre da repetição deste tipo de situação junto dos vossos filhos, netos ou simplesmente de todas as crianças e adolescentes em que certamente podemos rever partes de nós mesmos", afirmou.

De acordo com Pedro Strecht, o trabalho desta comissão independente vai decorrer ao longo de 2022, num espaço físico "descaracterizado" e "autónomo" da Igreja, estando prevista a apresentação de um relatório no final do próximo ano. O financiamento dos trabalhos será assegurado pela CEP, mas estará aberto a eventuais contribuições de outras instituições.

Por sua vez, o presidente da CEP, o bispo José Ornelas, reivindicou a importância de se trilhar "um caminho de verdade, sem preconceitos nem encobrimentos" para a Igreja Católica portuguesa.

"A continuação deste caminho e as transformações que forem necessárias têm de partir do conhecimento da realidade", frisou, acrescentando: "É essa realidade que pretendemos conhecer, nas suas dimensões, mas também e sobretudo nos dramas que esconde, a fim de que se possa ir ao encontro das pessoas que sofreram estes dramas, oferecendo a oportunidade de ter vez e voz, para verem reconhecida a sua justiça e a sua dignidade".