Afirmação de Moedas é "desprovida de qualquer verdade", acusa Associação de Proteção Civil

A declaração de Moedas em que afirma que, à exceção dos bairros antigos, Lisboa está "extremamente preparada" para risco sísmico é desmentida pela APROSOC, Associação de Proteção Civil. A afirmação é "falsa e ilusória" e pode "criar uma falsa sensação de segurança onde ela não existe, sendo eventualmente por isso passível de enquadramento criminal", considera.
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"Desprovida de qualquer verdade". É assim que a APROSOC, Associação de Proteção Civil, classifica a declaração do presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML), Carlos Moedas. O autarca afirmou que, à exceção dos bairros mais antigos, a cidade está "extremamente preparada" para a possibilidade de um sismo como o que ocorreu na Turquia e na Síria

A associação afirma, em conclusão, que a frase de Moedas é "falsa e ilusória" e pode "criar uma falsa sensação de segurança onde ela não existe, sendo eventualmente por isso passível de enquadramento criminal".

Trata-se de "uma afirmação desprovida de qualquer verdade e que contraria aquilo que a comunidade científica vem alertando há vários anos", considera, em comunicado, a APROSOC, presidida pelo técnico de proteção civil João Paulo Saraiva.

Numa reunião pública da Câmara Municipal de Lisboa, realizada na quarta-feira, Carlos Moedas, afirmou que gostava de deixar "alguma tranquilidade sobre a preparação que Lisboa tem em relação a potenciais sismos". "Todos nós sabemos que vivemos numa zona do país em que estes sismos podem acontecer. Como engenheiro civil e como alguém que trabalhou nesta área, a nossa cidade está extremamente preparada depois dos anos de 1980, infelizmente não nos bairros mais antigos, mas muito, muito, preparada em termos de engenharia e de construção", declarou Carlos Moedas.

Um dia depois, a afirmação do autarca é desmentida pela APROSOC. A Associação de Proteção Civil recorda que na quarta-feira a CML "levou a efeito" uma "sessão do ciclo de capacitação do programa RESIST de 2022", que tinha sido "adiada em dezembro devido às cheias e, uma vez mais, técnicos, cientistas e população identificaram precisamente o oposto daquilo que o sr. presidente da autarquia agora afirma".

No comunicado, a APROSOC diz que "de facto é notório um esforço de preparação por parte da autarquia de Lisboa. Mas "daí a poder dizer-se que, face ao estado da arte e ao nível das cidades mais desenvolvidas da Europa, 'a cidade está extremamente preparada para' é no mínimo muito rebuscado".

A associação sustenta a sua posição indicando que, por exemplo, "a capacidade de resposta de algumas unidades locais de proteção civil" face a um evento sísmico é "totalmente inócua". Refere que a "adequação dos veículos de socorro em caso de sísmo é etérea, já que a esmagadora maioria da frota do Regimento Sapadores Bombeiros, corporações de Bombeiros Voluntários, INEM e demais entidades que no município concorrem para as atividades de proteção civil não dispõe de tração adequada". Acrescenta que "as que possuem serão manifestamente insuficientes".

Em caso de sismo, a APROSOC refere que o quartel da Avenida D. Carlos I "ficará muito provavelmente inoperacional, e os seus meios inoperacionais, o mesmo podendo acontecer com outros quartéis que podem ruir ou, ainda que tal não aconteça, estão em zonas em que outros edifícios podem muito provavelmente colapsar impossibilitando os acessos rodoviários".

"Lisboa é, do ponto de vista rodoviário, face a um sismo, muito provavelmente uma ilha, já que todos os acessos de rodoviários de comunicação com a cidade passam por pontes, viadutos, e túneis em alguns casos cuja construção não teve em conta o risco sísmico. Aliás, precisamente por isso, por exemplo, a ponte Eng.º Duarte Pacheco está, e bem, a ser intervencionada para lhe conferir um reforço sísmico", pode-se ler no comunicado.

Considera a associação que "as pessoas não estão minimamente preparadas para fazer parte da solução, pelo que serão parte do problema e, a multiculturalidade que tão importante é para a cidade torna-se em caso de sismo um problema maior".

A APROSOC diz que a CML "não investiu nas Unidades Locais de Proteção Civil nas freguesias, não sensibilizou os cidadãos nos bairros, não possibilitou a preparação das pessoas para a sua autoproteção e para a entreajuda".

Reconhece, no entanto, que "foi realizado de facto algum trabalho de qualidade, contudo inexpressivo face à população existente em Lisboa num qualquer dia ou noite".

A associação termina o comunicado esperando que "nenhum sismo e tsunami ocorra durante as Jornadas Portuguesas da Juventude para que não venhamos a descobrir o erro crasso da sua localização, bem como as inocuidades do dispositivo planeado".

"Nenhuma cidade está suficientemente preparada para um sismo, quanto mais "extremamente preparada"!", sublinha a associação presidida pelo técnico de proteção Civil João Paulo Saraiva.

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