Administradores Hospitalares consideram viável concentração de urgências em Lisboa

Administradores Hospitalares consideram viável concentração de urgências em Lisboa

O diretor executivo do SNS admitiu concentrar de forma definitiva as urgências de obstetrícia e pediatria na região de Lisboa.
Publicado a
Atualizado a

A Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares (APAH) considerou esta quinta-feira "viável" a ideia de concentrar de forma definitiva as urgências de obstetrícia e pediatria na região de Lisboa, medida "tecnicamente difícil", mas que defende "há muito tempo".

"Do nosso ponto de vista [é uma medida viável] e já devia ter acontecido há mais tempo. É uma medida que já defendemos há muito tempo, uma medida que pode resultar em benefício da população, em benefício das grávidas. Faz muito mais sentido termos uma resposta mais efetiva e mais capaz num conjunto de maternidades", disse o presidente da APAH.

Em declarações por telefone à agência Lusa, Xavier Barreto comentou a entrevista dada na quarta-feira pelo diretor executivo do Serviço Nacional de Saúde (DE-SNS) ao Expresso, considerando que "a reorganização é tecnicamente difícil, mas mais difícil ainda é sustentá-la politicamente", razão pela qual pediu um "consenso político alargado".

"Encerrar urgências em Portugal tem oposição dos autarcas, dos partidos da oposição que usam isso como arma de arremesso político (...). Temos apelado a um consenso alargado para as reformas na saúde que são necessárias fazer. Mas infelizmente, pelo que temos assistido, parece que estamos ainda muito longe disso", disse Xavier Barreto.

António Gandra D´Almeida admitiu revisitar o plano da anterior direção executiva e tentar potenciar a rede das urgências de obstetrícia e pediatria na região de Lisboa.

"Faz todo o sentido que concentremos a nossa resposta do que termos um conjunto maior de maternidades, mas a funcionar de forma deficiente, de forma intercalada e rotativa com problemas de previsibilidade. Temos defendido esta medida e ficamos muito satisfeitos pelo facto de o diretor executivo estar a considerá-la e estar a trabalhar nesse sentido", reagiu o presidente da APAH.

Xavier Barreto disse que na região de Lisboa e Vale do Tejo, está-se a falar, "provavelmente, do encerramento de uma ou duas maternidades" porque "não há obstetras para ter todas as maternidades em funcionamento, com equipas completas".

"O que faz sentido é perceber o que pode ser encerrado de uma forma temporária ou definitiva e passar a encaminhar as grávidas para locais tenham condições para acomodar esse aumento da procura", referiu.

Sem, "arriscar dizer", como o próprio disse, quais as maternidades a fechar, Xavier Barreto mostrou-se confiante no trabalho da comissão anunciada por Gandra D´Almeida por esta "ser constituída por técnicos e especialistas" e alertou para "todas as variantes a ter em conta".

"É preciso ver as equipas de cada um dos hospitais, a complexidade, as instalações e até a rede viária (...), o tempo que se demora a chegar de um ponto ao outro. Tudo tem de ser ponderado", concluiu.

Plano de inverno pronto não garante ausência de problemas

Xavier Barreto alertou ainda que o facto de o plano de inverno estar "prestes a sair", como foi na quarta-feira anunciado, não é garantia de que não haverá problemas. "Este planeamento com tanta antecedência é bom, mas que não se crie a ideia de que não vamos ter problemas", disse à Lusa.

O presidente da APAH aplaudiu os anúncios de Gandra D´Almeida fez, na entrevista ao Expresso, sobre a reorganização de urgências e sobre o plano de inverno, entre outras medidas, mas pediu cautela.

"Não gostava que embandeirássemos em arco achando que por termos o plano de inverno divulgado com três ou quatro meses de antecedência que isso é garantia de um inverno sem problemas. Isso não é verdade, lamento dizê-lo. Os nossos recursos vão continuar a faltar no próximo inverno e talvez no próximo verão", referiu.

Para Xavier Barreto, "a não ser que se façam mudanças estruturais com impacto como a reforma da rede de urgências, o enceramento de algumas urgências ou a alteração das equipas tipo, não se resolve o problema".

O presidente da APAH considerou que "cumprindo os requisitos de qualidade, é possível uma redução das equipas", mas alertou para a dificuldade em prever o que acontecerá no inverno.

"A DE SNS pediu, e bem, ontem [quarta-feira] à noite aos hospitais que informem quais são as escalas que têm previstas para o inverno. Mas com quatro meses de antecedência não é possível fazer previsões. Há profissionais que não sabem se daqui a quatro meses estão doentes ou de licença", exemplificou.

O responsável lembrou, ainda, que parte significativa das escalas dos hospitais é garantida por prestadores de serviço, profissionais sem vínculo que se faltarem não podem ser responsabilizados disciplinarmente.

"Em alguns hospitais, mais de metade dos turnos são garantidos por prestadores de serviço (...) Se faltarem, legalmente não há consequências. Podemos não contratar, mas não podemos agir disciplinarmente. Há muitos fatores de incerteza", disse.

Ressalvando que a situação na saúde "não é culpa da DE SNS", mas "sim das políticas de saúde de vários governos em vários anos", Xavier Barreto resumiu: "Vamos continuar a ter problemas e cá estaremos para os resolver".

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt