Sensação de dever cumprido

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Nunca antes se falou tanto em Portugal sobre preservação do património e reabilitação urbana como nos últimos quatro anos. Este foco tem permitido revitalizar um setor que passou por um período mais frágil, assim como devolver vida a algumas das mais emblemáticas artérias e bairros da cidade, como por exemplo a Avenida da Liberdade, a Rua Rosa Araújo, o Chiado, Alfama, Bairro Alto ou Avenida dos Aliados, mais a norte.

Até há pouco tempo, ao passear pelas ruas da capital era difícil imaginar a vida esquecida de tantos e tantos edifícios que se encontravam abandonados e degradados, à espera de uma nova oportunidade. Hoje, ao passarmos por algumas dessas mesmas ruas, sentimos orgulho no trabalho que tem vindo a ser feito, e que tem contribuído para devolver a vida ao centro da cidade, iniciando mais um capítulo na história dessa mesma rua e edifício. No nosso caso, por cada escritura que fazemos e por cada nova chave entregamos, sentimos a sensação de dever cumprido e de mais um pequeno contributo para a Cidade e para o País.

O atual regime jurídico de reabilitação urbana está na base de toda esta transformação, uma vez que estrutura as intervenções com base no conceito de “área de reabilitação urbana”, a exemplo da restante Europa, que há muito se preocupa com a sustentabilidade das políticas urbanas e a recuperação da economia de proximidade. Este decreto lei pressupõe uma visão mais abrangente de bairro/quarteirão, muito além do individual. Para nós, também promotores desta mudança, somos responsáveis por muito mais do que o edifício que nos propomos reabilitar, somos responsáveis pela requalificação da área envolvente, para que, no final, sobressaia a cidade no seu todo.

Até então, a falta de aposta na reabilitação tinha consequências, muito além da degradação física dos edifícios e das cidades. A não intervenção implica riscos para a segurança das pessoas e bens (face ao risco de ruína, vandalismo e ocupações clandestinas), contribui para o despovoamento das cidades, para o envelhecimento de quem ainda resiste e tornas estas zonas pouco competitivas, afastando o turismo. Deslocaliza a população para as periferias, com prejuízo de tempo de lazer e de apoio à família. A falta de preservação do edificado desvaloriza um legado arquitetónico de elevada importância, introduz danos ambientais, como o aumento do consumo de combustíveis e a edificação de bairros residenciais em terrenos que poderiam ser destinados a outros fins. Contribui ainda para o empobrecimento e desvalorização dos centros históricos.

Se a primeira parte do percurso está iniciada, é agora tempo de superar cada vez melhor os desafios que a reabilitação urbana apresenta e assegurar a sustentabilidade do processo. Um dos grandes desafios dos nossos tempos é saber como reduzir as necessidades energéticas dos edifícios num espaço de tempo que tenha efeitos positivos na economia e no meio ambiente global. É um trabalho que é da responsabilidade de todos os que intervêm no edificado e que só é alcançável com um contributo global e multidisciplinar.

Hoje, as maiores cidades nacionais já convidam a passear, a reviver a nossa história e a escrever o futuro. Há que contribuir agora com novas ideias e abordagens inovadoras para que as nossas cidades sejam, também, cada vez mais sustentáveis. Muito já foi feito, muito mais há ainda por fazer.

Margarida Alves - Project Management Director AVENUE

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