Paulo Carmona, presidente da Entidade Nacional para o Mercado de Combustíveis (ENMC), defende que o mercado português está mais competitivo. Prefere não comentar a escassa diferença de preço entre os combustíveis simples e os aditivados, mas garante a qualidade dos primeiros..Como avalia a decisão da Organização dos Países Exportadores de Petróleo de manter a produção? Vamos ter petróleo e combustíveis baratos até ao final de 2016? .É positivo para o consumidor português e negativo para quem vai trabalhar para Angola. Mas é evidente que uma descida muito grande no petróleo não se reflete proporcionalmente no preço final dos combustíveis. As refinarias têm ficado com uma grande margem. Os produtores querem vender o petróleo e as refinarias conseguem preços mais baixos para escoar o produto. No entanto, o preço final do gasóleo não baixa tanto. A margem de refinação triplicou desde o ano passado. Anteriormente, essas margens estavam muito comprimidas, mas agora passaram dos oito para os oitenta. É o mercado a funcionar. No caso do gasóleo, há também o efeito euro/dólar. O efeito fiscal é relativamente fixo. Se o petróleo custasse zero dólares por barril, o consumidor português continuaria a pagar na ordem dos 56 cêntimos por litro. E a gasolina tem ainda mais fiscalidade do que o gasóleo..Os impostos acabam por ter um efeito relevante no preço final..Os governos europeus financiam-se muito com os combustíveis. Repare-se na importância do Imposto Sobre Produtos Petrolíferos (ISP) em Portugal. No nosso caso, até serve para financiar estradas..Se as petrolíferas abdicassem de parte das suas margens, que eram mais escassas quando o petróleo estava em alta, o preço final dos combustíveis seria ainda mais baixo neste momento? .Sim, mas isso não depende diretamente da vontade de cada petrolífera. O preço do gasóleo tem uma correlação linear de 80% relativamente ao crude. Ou seja, quando há aumentos ou baixas dos preços do gasóleo, esses movimentos explicam-se em 80% pela variação da cotação do petróleo..Estamos com valores historicamente baixos do euro. O dólar está mais caro. O preço de referência do gasóleo, sem margem de comercialização ou de logística, está nos 89 cêntimos por litro, estando a relação euro/dólar em 1,09. A margem em cima disso anda pelos 8 cêntimos, no caso das grandes superfícies, ou 18 a 19 cêntimos, no caso das outras marcas. Ora, 89 cêntimos é um preço muito semelhante ao de 2009, mas nessa altura o euro estava mais forte, a 1,50. Entre 2009 e agora, houve um aumento do ISP um pouco por toda a Europa, nomeadamente em Portugal..A Q8, que acaba de chegar a Portugal, vai trazer mais competitividade entre os operadores? .O mercado passou por uma reforma relativamente profunda. Começou com a lei dos combustíveis simples e, recentemente, com a regulamentação que derrubou algumas barreiras à entrada de novos operadores, já para não falar da própria criação da ENMC, que serve de balcão único e de apoio a quem quer investir. Tudo isto contribuiu para a vinda da Q8, petrolífera que estava em Espanha mas que sempre olhou para Portugal como um mercado competitivo. Aliás, o mercado ibérico funciona como um só. Os operadores são os mesmos de um lado e do outro da fronteira..Tem notícia da vinda de mais multinacionais do setor para Portugal?.É provável que o país receba mais uma ou duas multinacionais petrolíferas. Há contactos nesse sentido..O Governo vai promover uma nova campanha de sensibilização sobre os combustíveis simples, que prevê a distribuição de um milhão de folhetos junto aos postos de abastecimento. Se os simples representam 86% das vendas, qual é o problema que justifica a campanha. A fraca diferença de preços face ao aditivado? .A campanha justifica-se com a necessidade de sensibilizar os automobilistas. Algumas denúncias que nos chegam relatam o facto de os consumidores estarem convencidos de que o combustível simples não é bom e que até pode fazer mal aos motores. A ENMC vem cá para fora com essa campanha para dizer que o combustível simples é bom e certificado. Nós estamos a controlar por ano 1000 dos 2700 postos existentes. Detetamos um grau muito baixo de não conformidade. Nós garantimos que o combustível simples é fiável..Os consumidores queixam-se, frequentemente, dos preços dos preços altos dos combustíveis. Esse diferencial face a outros países e à média europeia deve-se só à elevada carga fiscal portuguesa? .As estatísticas da União Europeia dizem-nos que nós estamos à frente de Espanha e um pouco acima da média antes de impostos. Uma vez aplicados os impostos, estamos na média europeia. Portugal tem uma fiscalidade média para o setor dos combustíveis. O que preocupa a ENMC é o preço antes de impostos. Esse preço deriva de questões logísticas, de proximidade dos centros, dos biocombustíveis incorporados, entre outros aspetos.