A Portugal Telecom tem 5,4 mil milhões de eurosem caixa e em linhas bancárias já negociadas, o que lhe permiteolhar com alguma indiferença - por estar menos exposta - para aelevada probabilidade de as agências financeiras lhebaixarem o rating nos tempos mais próximos na sequência do quefizeram ao País. É, aliás, quase inevitável que um downgrade daRepública acabe por ter um efeito dominó e arraste as principaisempresas nacionais.Ainda assim, Zeinal Bava, chief executive officer da PT, preferesublinhar a liquidez da empresa - a venda da participação na Vivofoi essencial - e a capacidade que tem para atravessar os temposmais próximos sem sofrer o impacto de uma nova queda na notaçãoque faria subir os custos de financiamento. "A verdade é que nãose pode ignorar o impacto do risco soberano, mas a PT estáfinanciada até Abril de 2014. Temos um custo de dívida de 3,5% e asnossas taxas de juro são fixas", justificou Zeinal, no dia em quea operadora apresentou os resultados provisórios do primeirosemestre, ainda sem consolidar os números da brasileira Oi (queserão conhecidos a 15 de Agosto e que só entram nas contas da PTduas semanas depois).Como foram, então, os resultados, no primeiro semestre, ainda semBrasil? Receitas de 1,74 mil milhões de euros, menos 5,3% do que nomesmo período do ano passado (menos 6,5% do que nos primeiros trêsmeses do ano); e um EBITDA - resultados antes de juros, impostos,depreciações e amortizações - também em queda, para os 708,1milhões de euros. Apesar destes números, o cash flow operacional deu um saltosignificativo de 164,7% (401 milhões de euros) e a dívida líquida,de novo também graças ao encaixe da Vivo, baixou 20,6%, e fica-sehoje pelos 4,25 milhões, uma posição confortável num período definanciamento escasso.O cenário macroeconómico nacional, onde a PT já só tem 40% donegócio - as agências de rating não valorizam por inteiro esteaspecto, porque a PT não tem uma posição de controlo na Oi -,afectou naturalmente os resultados. O pior desempenho recaiu sobre aárea móvel. A TMN teve uma quebra de receitas de 10,7% face aotrimestre anterior, apesar de ter chegado ao final de Junho com 7,334milhões de clientes, mais 65 mil do que no período homólogo de2010. Esta subida deve-se, a cima de tudo, ao aumento de clientes nabanda larga móvel. No entanto esta tendência não foi suficientepara contrabalançar a pressão provocada pela forte concorrêncianos tarifários pré-pagos, que representam 68,4% dos clientes daTMN. Ainda assim, a operadora aumentou o número de clientes pós-pago(mais 0,7% do que no mesmo trimestre do ano passado), o que reduz aexposição aos segmentos menos fiéis à marca e mais atentos àspromoções. As receitas por cliente, embora em queda, já estão acair mais devagar há dois trimestres. No entanto, apesar deste sinalpositivo, o aumento do IVA tem prejudicado os resultados. As boas notícias estão no Meo. O semestre acabou com 919 milclientes, um aumento de 212 mil face ano mesmo período do anopassado, o que dá ao Meo um quota de mercado à volta dos 32% (a Zontem 54%, tina 67% nem Junho de 2009), apesar de só ter chegado aomercado em Abril de 2008. A este ritmo, o cliente um milhão do Meochegará a meio de 2012.Adeus acção dourada, olá mercadoDepois de anos e anos de pressão da UniãoEuropeia para que o Estado português abdicasse da 500 accõesepeciais que detém na PT, chegou finalmente o dia em que isso vaiacontecer - é esse o objectivo da assembleia-geral marcada parahoje. Quais as consequências? Por um lado, a empresa fica menospolitizada, já que o Estado deixa de estar representado nos órgãossociais; mas por outro lado, num país tão pequeno uma empresa com adimensão da PT dificilmente escapa às correntes que atravessam opaís. Sobra, no entanto, uma dúvida: a estabilidade accionista temsido uma das características da empresa, com a saída do Estado ocapital vai ter mais tendência a mudar de mãos? É isso queveremos.