Portugal na linha da frente para conectar 250 milhões de carros autónomos

Para estes veículos singrarem, é necessário, por exemplo, que os sistemas sejam suaves para os passageiros
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Os dois bancos da frente estão de costas para a estrada e virados para os passageiros de trás. No tablier, apenas existe um volante, muito mais pequeno do que é habitual, e dois pedais, que apenas serão usados em caso de emergência. O Mercedes F015 é a visão do futuro da condução autónoma e deverá chegar às estradas a partir de 2030. Preparado para ser uma sala de estar volante, este veículo é o protótipo da substituição do homem pelas máquinas na condução. Só que até esse dia chegar, há uma estrada de desafios.

Até 2030, é necessário que todos os sistemas usados para guiar um carro possam ter uma resposta suficientemente suave para não assustar os passageiros: nesta altura já reagem mais depressa que um ser humano, mas ainda decidem mais devagar.

Para os carros autónomos conviverem no mesmo espaço é necessário instalar uma bateria de procedimentos de segurança. Será necessário ensinar os computadores a lidar com dilemas éticos em situações limite, como a decisão entre proteger os ocupantes do veículo e acertar num peão ou deixar o peão vivo e colocar em perigo os passageiros. Há ainda a questão da proteção dos dados dos veículos contra piratas informáticos, para evitar que estes assumam o controlo do automóvel.

A conectividade será um dos pontos essenciais da condução autónoma. Portugal tem uma palavra a dizer neste âmbito, graças ao Ceiia - Centro de Excelência para a Inovação da Indústria Automóvel. “As soluções de conectividade serão baseadas em eletrónica embebida dos veículos (no interior e na estrutura), permitindo a sua ligação a redes de objetos (Internet of Things) e a redes sociais.

Esta conectividade possibilita a interatividade com outros veículos (V2V), com os seus utilizadores (V2U) e com a cidade (V2X), funcionando em ambiente de gestão de mobilidade em tempo real”, explica Helena Silva, diretora técnica deste centro, ao Dinheiro Vivo.

Atualmente, a eletrónica já representa cerca de 30% do valor total de cada carro e perspetiva-se que até 2020 cerca de 250 milhões de veículos estarão conectados. “Cada vez mais o carro será um objeto de mobilidade física conectado em tempo real, com capacidade de interagir com outros veículos, utilizadores e a envolvente”, garante a especialista.

Para resolver estas situações e antes de o automóvel tornar-se numa sala de estar, a Bosch está agora a testar a condução autónoma com um Tesla no seu circuito de Boxberg, perto de Estugarda. As diferenças face ao protótipo usado em 2015 são notórias.

https://www.youtube.com/watch?v=9PGgYl_CJng

Nos últimos dois anos, o sistema humanizou-se: os radares e sensores conseguem antecipar os obstáculos com mais rapidez. São mais rápidos do que o ser humano, conseguem travar mais cedo e com muito mais suavidade, reduzindo os impactos para os ocupantes, graças ao sistema HMI - human machine interface - permite uma condução autónoma cada vez mais suave. Mas o ser humano ainda é mais rápido a decidir, nomeadamente as tais questões éticas.

Nesta fase, estão programados para adotar uma condução muito defensiva e uma postura muito conservadora, por motivos de segurança. “É preciso treinar os carros para que possam ter reações a todas as situações. O computador está constantemente a aprender e a melhorar”, assinala Stephan Strass, vice-presidente da Bosch com o pelouro dos assistentes de condução.

Convívio com outros carros

Os carros autónomos começam lentamente a entrar nas estradas. Atualmente, e por alguns momentos, já podemos deixar o veículo a andar na autoestrada na via certa e a manter a distância correta para o automóvel da frente. Só que este é apenas o nível 2 da condução autónoma.

Para os próximos 10 anos são esperadas as mais variadas evoluções, em que o ser humano apenas será necessário se houver uma falha do sistema. Isso será possível graças à instalação de várias ferramentas, que atuarão em conjunto. É necessário conjugar radares com sistemas de ultrassons.

https://www.youtube.com/watch?v=USrQgSKawFM

Os radares são o melhor equipamento para detetar pessoas na estrada, mesmo em condições atmosféricas extremas. Só que não são capazes de identificar materiais como a madeira, e tem de ser complementado com sistemas como o Lidar, que permite detetar estes objetos. Mas que por sua vez ainda não funciona em condições atmosféricas extremas.

O GPS é outro equipamento que tem de ser complementado. Como este sistema de localização tem margens de erro, são necessários mapas de alta precisão para evitar erros e a informação terá que ser sempre atualizada através da cloud. Com isso, podem ser identificadas e apresentadas obras na estrada, por exemplo.

Proteção de dados

É um dos principais desafios da condução autónoma: será possível um hacker assumir o controlo do meu carro autónomo? A Bosch garante que isso é praticamente impossível, graças ao uso de chaves de encriptação diferentes para cada automóvel.

No interior do veículo, há uma unidade ECU e se esta for afetada de alguma forma, ninguém poderá aceder aos dados do veículo. Além disso, os carros estão equipados com um sistema de firewall e as próprias chaves de encriptação são atualizadas frequentemente.

O jornalista viajou a convite da Bosch Portugal

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