Dos 60 deputados do Chega, eleitos no passado mês de maio, 44 serão candidatos à presidência de autarquias um pouco por todo o país. Se se alargar a análise às assembleias municipais, a ‘razia’ é ainda maior: há mais 15 deputados como cabeças-de-lista.Ou seja: à exceção de André Ventura, todos os deputados do Chega serão candidatos a cargos no poder local. No entanto, o líder do partido concorreu nas eleições autárquicas em 2021. No caso, André Ventura candidatou-se à Assembleia Municipal de Moura, tendo mesmo sido eleito deputado no concelho alentejano há quatro anos.Agora, a estratégia do partido passa por “valorizar o poder local e o trabalho desenvolvido a nível nacional”, segundo disse à Lusa a coordenação autárquica do Chega que justificou com a “mais-valia para as comunidades” dos deputados. Segundo a coordenação autárquica do partido, os 59 parlamentares podem “trazer para a governação municipal a experiência, o conhecimento e a responsabilidade” que adquiriram na Assembleia da República.Mas há mais. Além dos 59 deputados, o Chega escolheu também dois assessores de imprensa (Rita Soares Cordeiro e Filipe Duarte) para encabeçarem, respetivamente, as listas às autarquias de Mértola e Aljustrel.A 28 de julho, aquando da apresentação pública da candidatura de Bruno Mascarenhas à Câmara Municipal de Lisboa, André Ventura anunciou em primeira mão que o seu partido iria ter candidatos autárquicos em todos os 308 municípios.Entre estes, estão alguns rostos com peso dentro da bancada parlamentar e da direção do Chega, como Rita Matias (candidata a Sintra), Pedro Pinto (Faro) ou Rui Paulo Sousa (Amadora). Além disso, há outros deputados, como Bruno Nunes, que é candidato a Loures, onde já é vereador.Faro, a possibilidade entre as ambições de crescerPara as autárquicas do próximo dia 12 de outubro, a intenção do Chega é clara: crescer. O próprio André Ventura já falou no assunto, dizendo que o partido quer tornar-se na maior força do poder local, recordando que nas legislativas de maio o Chega venceu 60 concelhos. “O dia 12 de outubro é um sinal do processo de mudança em que o país se encontra. [As autárquicas] são o último degrau. Antes de conseguir mudar este país a nível nacional, temos de o conseguir governar a nível local”, disse Ventura durante a apresentação do candidato autárquico do Chega a Lisboa.Na capital, como já foi referido, o partido escolheu Bruno Mascarenhas, até aqui deputado municipal na cidade. A intenção expressada do Chega é a de ganhar a autarquia a Carlos Moedas (PSD/CDS/IL), mas a tarefa mostra-se algo hercúlea, uma vez que o autarca lisboeta deverá conseguir a reeleição para um segundo mandato e, há quatro anos, o Chega não elegeu qualquer vereador.Uma opção semelhante - de alguém com experiência deputado municipal - foi tomada no Porto (onde também tem zero vereadores), com o Chega a candidatar Miguel Côrte-Real, que foi eleito deputado municipal pelo PSD, cuja bancada liderou entre 2021 e 2024.Mais a sul, no entanto, há várias autarquias que são vistas pelo partido como conquistáveis, nomeadamente Faro, onde joga uma cartada forte. Pedro Pinto, líder parlamentar do Chega, vai tentar vencer a autarquia. Em maio, Faro não foi um dos concelhos conquistados (o Chega ficou em segundo a 271 votos do PSD). No entanto, o autarca farense (Rogério Bacalhau) está em fim de ciclo, por cumprir o terceiro mandato consecutivo e, em média, 40% das autarquias nesta situação acaba por mudar de cor - o que poderá vir agora a favorecer o Chega..Ventura apresentou Bruno Mascarenhas, o candidato que rejeita ser “moderado”.Duas dezenas de candidatos do Chega a presidências de câmara foram (ou são) autarcas por outros partidos