A discordância absoluta entre Ventura e Mortágua, que até Legos usou para explicar “economia”
André Ventura, que já o tinha dito a meio da tarde e repetiu, voltou a encontrar uma explicação para o que disse há quase cinco anos: “Não concordei em tudo com João Paulo II ou Bento XVI, cristianismo é liberdade”. O “mau serviço” e a destruição ficaram, agora, ausentes. O Papa, afinal, é um “exemplo de humildade e fé”.
Mariana Mortágua, que vê no Papa Francisco uma figura maior do século XXI, traça um retrato simples: “Um sábio que abraçou a humanidade”.
A segunda discórdia chegaria segundos depois. Ventura acusou o BE de querer “engrossar” o Estado com “cargos que não interessam para nada” e classificou como “disparate” a ideia de “limitar salários” no “setor privado”.
Mariana Mortágua, que acusa Ventura de querer “fazer igual e imitar o chefe da extrema-direita” Donald Trump no “ataque” à economia portuguesa, desafiou o líder do Chega a dizer “às pessoas lá em casa que uma tarifa sobre importações teria como efeito imediato aumentar o preço dos combustíveis. Mais 20% no preço, são a terceira importação (…) Era importante que explicasse ao país o que pretende com as tarifas. Na pressa para imitar Trump, a única coisa que faz é propor um imposto escondido”.
Resposta, para além das queixas sobre a moderação do debate? Há, diz, um programa do BE para nacionalizações que é “uma irresponsabilidade”.
Passo seguinte? Mariana Mortágua insiste. E sem resposta conclui que Ventura “não tem soluções” e que nem “um pio” se ouviu do líder Chega, nessa altura um “PSD”, quando EDP e REN foram privatizadas com a “direita” a “apertar a mão ao Estado Chinês”.
Na troca de argumentos, mais acusações – “socialismo cego”, “colapso” – e garantia de Ventura de que será “protecionista” na “agricultura, economia e indústria têxtil”.
E aqui surgem os Legos para explicar a Ventura, que nem “ordem” consegue na bancada parlamentar quanto mais “pôr ordem no país”, que “se fizesse política com factos e menos com preconceitos percebia um bocadinho mais de como se faz a política e a economia”.
A economia traduzida em Legos serviu para explicar ao líder do Chega que as importações da UE, do Brasil, China, Estados Unidos e Índia “são só 1%” e que do Paquistão e Bangladesh somente 0,2%.
André Ventura ignorou a economia em Legos alegando que a “economia chinesa não é uma brincadeira” e que vai exigir da “Europa produtos europeus” e “proteger os produtos portugueses”. A conclusão? “A Mariana está a brincar à política”.
A líder do BE explica novamente a proposta bloquista de impor “tetos” para as rendas de modo a “controlar os preços”. Ventura acusa o BE de defender a “invasão de propriedade privada” e recorda que “o muro mudou, o muro caiu, vivemos num mundo das redes sociais, economia de mercado. É como dizia António Costa, habitue-se”.
“Nada o comove e a sua política é da crueldade e do medo. A mim comove-me ver pessoas em tendas, na rua, e é por isso que defendo tetos das rendas, para que toda a gente possa ter uma casa legal. Não é capaz de me dar uma política para baixar o preço das casas”, respondeu Mariana Mortágua. Um acrescento: “Além do ódio, só defende a especulação”.
“O país fica a saber que o Bloco defende a invasão de casas com propriedade legítima”, acusa de imediato André Ventura.
“Ventura tem uma única política, que é o racismo, e eu tenho uma política para todos”, argumenta a líder do BE.
E assim se fechou uma discussão sobre “imigrantes”, “quotas”, “direitos de voto” e a “economia” gerada dos que “são chamados pela economia”.
Para Ventura, os bloquistas “são uma fraude política e na imigração querem um país em que não haja regras, controlo e segurança”. “É moda atacar os imigrantes, mas eu não cedo”, retorquiu Mariana Mortágua.