Pedro Nuno Santos pisca ao centro para ganhar as legislativas
O ex-ministro das Infraestruturas Pedro Nuno Santos apresentou a sua candidatura a secretário-geral do PS, na sede do socialista do Largo do Rato em noite de enchente, esquecendo quase completamente as eleições internas em que terá de derrotar o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, cuja candidatura "enriquece o debate e dá força ao partido", e saltando de imediato para o desafio de conduzir o partido à vitória nas legislativas. Um objetivo que o levou a apresentar-se como homem de diálogo, negociação e concertação, afastando-se da imagem de radical de esquerda.
Sem passar ao lado do seu papel na experiência que em 2015 permitiu "derrubar o muro erguido entre o PS e a esquerda parlamentar", Pedro Nuno Santos centrou-se várias vezes na necessidade de trabalhadores e empresários contribuírem para o desenvolvimento da economia. Para tal recorreu ao exemplo do seu concelho natal, São João da Madeira, "terra de trabalhadores e de empresários" que "não baixaram a cabeça" aquando do ocaso da indústria de chapelaria, transformando-se num polo de indústria do calçado. Mas também ao que considerou ser a necessidade de diálogo entre inquilinos, senhorios e bancos para dar resposta aos problemas da habitação.
Num clima que poderia ser confundido com o de uma vitória eleitoral nas próximas legislativas, tamanho o entusiasmo das centenas de militantes que vitoriaram o candidato por largos minutos, Pedro Nuno Santos apresentou-se como alguém a quem "conhecem as minhas qualidades e os meus defeitos", bem como "os meus erros e as minhas cicatrizes", sublinhando ainda assim a vontade de "fazer acontecer".
Algo que, no caso da habitação, área que tutelou enquanto ministro, se traduziu em 2500 casas entregues, com mais 26 mil previstas até 2026. Mas também não foi esquecido o apoio às rendas de que beneficiam 185 mil famílias, já depois de ser substituído no Governo pela sua ex-secretária de Estado Marina Gonçalves. Ainda assim, realçou que "mente aos portugueses quem disser que tem uma solução única, rápida e eficaz"
Além da habitação, Pedro Nuno Santos apresentou como prioridades de uma futura governação o aumento dos salários, necessária para "estancar a emigração de jovens", e a valorização do território. Segundo o candidato à liderança socialista, "damo-nos ao luxo de não aproveitar mais de 70% do nosso território", havendo motivos para que os cidadãos se sintam abandonados "fora da estreita faixa do litoral".
No discurso do "neto de sapateiro e filho de empresário" não foi esquecido o ainda primeiro-ministro, defendendo que "seria errado e injusto esquecer o legado dos governos liderados por António Costa". Apresentando-se como o primeiro líder distrital a apoiar a sua candidatura à liderança do partido, contra António José Seguro, destacou os mais de 600 mil empregos criados desde que o PS assumiu o poder, em 2015, bem como a redução da dívida pública.
Sublinhando o "momento difícil para o país e para o partido" decorrente da investigação judicial que levou à demissão de António Costa, Pedro Nuno Santos disse que vê o combate à corrupção como uma prioridade e defendeu a independência da Justiça. "Mas o PS não vai passar os próximos meses a discutir um processo judicial", ressalvou.
Para aqueles que pretende enfrentar nas urnas a 10 de março de 2024, nas próximas eleições legislativas, Pedro Nuno Santos reservou o final do discurso, centrando-se na mensagem de que "a direita não cumpre as suas promessas". Algo que se traduz em "reformas que pretende impor ao país e que visam sempre a mesma coisa: redução de direitos". E também na possibilidade de o nunca nomeado PSD de Luís Montenegro levar consigo para a esfera do poder o Chega de André Ventura, após garantir que "não fará acordos com a direita populista, racista e xenófoba".
Também houve referências à necessidade de "defender um legado que muito custou a erguer" no que toca à escola pública e ao Serviço Nacional de Saúde, cujos presentes problemas não foram mencionados pelo candidato, que tratou várias vezes aqueles que o ouviam por "camaradas" e que recordou ser esta "a primeira vez que poderemos eleger um líder que já nasceu livre". Algo que o nascido a 13 de abril de 1977 sublinhou na altura em que apelava à "renovação da esperança de Abril" aquando do 50.º aniversário da Revolução.
O presidente do Conselho Económico e Social, Francisco Assis, chegou com Pedro Nuno Santos e teve direito a ser o primeiro nomeado nos agradecimentos quando o candidato à liderança do PS iniciou o discurso.
Apesar de ter defendido que não estava em causa uma contenda entre "moderados" e "radicais", o antigo ministro das Infraestruturas teve em Assis o melhor aval que poderia desejar depois das últimas declarações do rival José Luís Carneiro sobre os riscos de uma candidatura "com o pressuposto de uma aliança à esquerda", tendo em conta as posições de Bloco de Esquerda e PCP "em relação aos nossos deveres" para com a NATO e a União Europeia.
Também na sala, a abarrotar de militantes socialistas, destacavam-se Eduardo Vítor Rodrigues, presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia (e principal autarca do PS, tendo em conta o estatuto de independente de Basílio Horta, edil de Sintra), igualmente à frente da Federação do Porto do PS, aquela a que José Luís Carneiro pertence e que já presidiu. Rodrigues era apenas um de muitos líderes distritais que foram esta segunda-feira ao Largo do Rato prestar apoio. A candidatura reivindica o apoio de nada menos do que 16, como Duarte Cordeiro (Lisboa), Frederico Castro (Braga), Jorge Sequeira (Aveiro), João Portugal (Coimbra) e Hugo Costa (Santarém). De fora desta lista ficou António Mendonça Mendes, presidente da Federação de Setúbal e secretário de Estado-Adjunto do Primeiro-Ministro.
Entre os apoiantes também estiveram o secretário-geral da Juventude Socialista, Miguel Costa Matos, segundo a ser referido no discurso de Pedro Nuno Santos, o deputado e líder da Concelhia do Porto Tiago Barbosa Ribeiro e André Pinotes Baptista, o sindicalista José Abraão, e o ministro da Educação, João Costa, bem como o ex-secretário de Estado Hugo Santos Mendes.