Maria João Ruela responde aos deputados no Parlamento.
Maria João Ruela responde aos deputados no Parlamento.Leonardo Negrão / Global Imagens

Maria João Ruela confirma contactos com filho de Marcelo Rebelo de Sousa. Mas volta a reiterar que não houve diferença entre casos

A assessora para os Assuntos Sociais e Comunidades Portuguesas admite que trocou e-mails com Nuno Rebelo de Sousa. Mas, a partir de certa altura, o filho do Presidente passou a falar diretamente com o chefe da Casa Civil. E reitera: não houve distinção no tratamento entre casos semelhantes.
Publicado a
Atualizado a

Maria João Ruela, assessora da Casa Civil para os Assuntos Sociais e Comunidades Portuguesas, confirma: houve contacto direto com Nuno Rebelo de Sousa, filho do Presidente da República.

e-mail que reencaminhou para o chefe da Casa Civil, Fernando Frutuoso de Melo, falava no paradeiro da família das gémeas, referia que já tinha havido um contacto com um hospital e que haveria "vários casos" a ser analisados.

Ouvida esta tarde na CPI, Maria João Ruela é tida como uma das intervenientes que agilizaram contactos entre a Presidência e Nuno Rebelo de Sousa. 

Mas não houve "outra diligência ou contacto relacionado com o assunto", garante. No entanto, Nuno Rebelo de Sousa insistiu, Maria João Ruela pediu instruções e passou a mensagem a Fernando Frutuoso de Melo -- com quem o filho de Marcelo passou a falar diretamente. E, segundo a assessora, Nuno Rebelo de Sousa "lamentou-se" pela "inação" de Maria João Ruela, que garantiu ainda não ter falado ao telefone com o filho do Presidente.

Tal como Fernando Frutuoso de Melo já dissera na véspera, este processo foi tratado de forma "idêntica a todos os outros". Só depois de ser noticiado em novembro de 2023 é que, diz Maria João Ruela, percebeu que "tinham sido tratadas no Santa Maria e não no Hospital Dona Estefânia". Além disso, assegura ainda que não foi ouvida noutras circunstâncias -- apenas nesta CPI. 

Questionando diretamente Maria João Ruela, o deputado João Almeida, do CDS-PP, pergunta "qual o interesse" em obter os contactos da família, se não houve um contacto direto (como dissera a asessora). Em resposta, a ex-jornalista disse que "numa primeira fase", parecia-lhe a opção mais correta, e que só depois entendeu "não haver necessidade de contactar as pessoas em causa".

Na mesma ronda, recusou ainda ter dado qualquer expectativa a Nuno Rebelo de Sousa de que iria contactar a família. "Se tirou algum tipo de expectativa, terá de ser ele a esclarecer", apontou.

Reitera -- tal como fizera Frutuoso de Melo -- que o caso foi tratado como outros semelhantes. Mas, em resposta a João Almeida, diz que o processo de recolha "de informação genérica" deve ter sido feito por telefone. "Não lhe consigo dizer com quem falei em concreto, apenas que o objetivo foi recolher informação genérica" sobre os medicamentos. E que hospital contactou para obter essa informação? Maria João Ruela diz não ter o registo de quem deu a informação, mas, admite, pode ter sido o Dona Estefânia. "A única coisa que nos foi transmitida é que é uma decisão inteiramente médica", apontou.

António Rodrigues, do PSD, pede que Maria João Ruela descreva as funções "em pormenor", e a assessora responde que só teve intervenção "nos primeiros dois dias". "Fiz o que faço em muitos outros casos", respondeu.

O PS pede depois que Maria João Ruela dê um exemplo de outro caso em que tenha havido um tratamento igual -- e a assessora refere existirem "vários", lembrando que a Casa Civil já agiu para ajudar cidadãos.

Segue-se depois um momento de tensão entre a assessora presidencial e o Chega, com várias trocas de acusações e de omissão de documentos por parte de Maria João Ruela, que chega mesmo a pedir a Ventura: "Não me acuse de mentir. Isso atinge a minha honra."

Joana Cordeiro, da IL, diz querer livrar-se desse "ruído" causado pela intervenção anterior, apesar de concordar que é necessário acesso a um e-mail que está em falta. Recorda também o "desconforto" assumido por Frutuoso de Melo com o facto do pedido ter sido feito por Nuno Rebelo de Sousa. Maria João Ruela responde não estar na CPI "para dar opiniões" e reitera, mais uma vez, que o caso foi tratado "como qualquer outro". A deputada questiona ainda qual a intenção de Nuno Rebelo de Sousa, ao que Maria João Ruela aponta que essa pergunta deve ser feita ao próprio.

Segue-se depois Joana Mortágua, do Bloco de Esquerda, que pergunta qual seria o modo de atuação da assessora num caso destes. Maria João Ruela diz que "cada caso é um caso" e que, se fosse hoje, voltaria a ligar ao hospital, apresentando-se e perguntando como são tratados casos destes. Mas quem contactaria dentro do hospital? Maria João Ruela diz não ter contactos do hospital, e que muitas vezes vai pelo número "que vem no Google". "Não tenho pruridos em ligar para o geral e dizer que sou assessora da Casa Civil. Não me caia nada na lama", aponta.

Paulo Muacho, do Livre, pergunta como se processa, em abstrato, a receção de um pedido de auxílio em Belém. É sempre "aberto um processo", com um número, e as comunicações são arquivadas em conjunto, diz Maria João Ruela. No entanto, afirma não ser a pessoa mais adequada para responder com detalhe a esta questão.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt