Já se esperava que assim fosse, mas a confirmação só chegou ao fim da tarde: nenhuma das propostas para mudar os estatutos da Iniciativa Liberal conseguiu ser aprovada na Convenção Nacional (que decorre em Santa Maria da Feira). Com duas propostas distintas em cima da mesa, nenhuma conseguiu reunir os dois terços (ou 66,7%)..Primeiro, foi votada a proposta Estatutos +Liberais, cujo primeiro subscritor é Miguel Ferreira da Silva, o primeiro presidente do partido e crítico da atual direção. Nessa ronda, a proposta teve 28,97% de votos favoráveis - bem longe da marca necessária para a aprovação. Desfecho igual teve a apresentada pelo Conselho Nacional, que, no entanto, reuniu mais votos positivo (53,69%). Na segunda ronda, tudo igual: ambas foram chumbadas. Isto ditou o fim dos trabalhos deste sábado da Convenção Nacional. Com isto, mantêm-se em vigor os atuais estatutos..As votações são, porém, o espelho daquilo que tem acontecido nas hostes liberais, onde se fazem ouvir críticas internas em relação ao rumo do partido e à atual direção, presidida por Rui Rocha desde janeiro do ano passado..Uma dessas vozes contestárias do atual funcionamento partidário é Tiago Mayan Gonçalves, antigo candidato presidencial apoiado pelos liberais. Na sua intervenção na reunião magna, o opositor apontou a existência de uma “idolatração pessoal ou sistémica” nas estruturas partidárias..“Cumprir valores liberais é reconhecer as capacidades dos outros e a nossa própria incapacidade. É aceitar que só nos aproximamos da omnisciência e da omnipresença com a colaboração livre e profícua entre todos. Não com idolatração pessoal ou sistémica”, apontou..Já Hugo Condessa, outro dos opositores, criticou a forma como o processo de revisão estatutária foi conduzido. Era necessário que “fosse verdadeiramente participativo, colaborativo, aberto, plural, marcado por uma tentativa alargada de consenso”, mas “isso não veio a acontecer”, apontou..No entanto, Miguel Barbosa (que apresentou a proposta do Conselho Nacional) rejeitou a luta interna. “A nossa concorrência não está aqui. Está lá fora. Provavelmente ávida de que nos limitássemos nós, já que continuamos a crescer contra a sua vontade”, apontou..Perante esta divisão de pensamento, vieram os avisos. Primeiro, foi o ex-líder (e agora eurodeputado) João Cotrim de Figueiredo. Para que a IL possa ter “resultados lá fora” e continuar a crescer é necessário que saiba “evoluir com os tempos”..O ex-líder parlamentar, Rodrigo Saraiva, foi, depois, no mesmo sentido. Criticando a ideia da oposição interna de que “um partido com seis anos e cresceu sempre” está estagnado, o também deputado atirou: “O que nós temos com que nos preocupar é com a estagnação do país, que tem décadas. Percam mais tempo com a estagnação lá fora porque cá dentro essa não existe.” E sobre as críticas à alegada “falta de democracia interna”, também apontada pela oposição, Rodrigo Saraiva confessou ter uma “sensação de déjà vu”, porque as mesmas queixas são feitas noutros partidos..A Convenção Nacional da IL termina este domingo. Depois de ser discutido o programa político, em duas sessões (às 11.00 e às 14.00 horas), Rui Rocha, líder dos liberais, fará a intervenção de encerramento (às 16.00).