Inédito: Governo excluído da Ovibeja. Ninguém foi convidado
Nem António Costa, nem a ministra da Agricultura, nem nenhum membro do governo. Pela primeira vez em 38 anos, ninguém do governo é convidado para estar na Ovibeja que começou esta quinta-feira e termina no dia 1 de maio, segunda-feira. Rui Garrido, presidente da Associação de Agricultores do Sul (ACOS) e da Comissão Organizadora da 39ª Ovibeja, uma das maiores feiras agrícolas do país, explica que "a Direção da ACOS tomou a decisão de não convidar formalmente a senhora ministra da Agricultura para visitar a Ovibeja, tendo em atenção o descontentamento generalizado dos agricultores, bem patente nas várias manifestações realizadas neste último mês".
E como também, argumenta, o primeiro-ministro "não ouve a contestação dos agricultores e teima em manter no governo uma ministra sem qualquer peso político e sem competência para o lugar", e mantém "postura desta índole, não faz, igualmente, sentido, convidar o senhor primeiro-ministro e por consequência, outros membros do atual governo".
Os convites foram apenas para "os partidos com representação parlamentar, CDS incluído", convites "a todos os deputados" e ao Presidente da República que estará no sábado, dia 29, pelas três na tarde na Ovibeja.
"Nós temos muitas críticas a este governo, os problemas têm-se vindo a avolumar de há alguns meses a esta parte. Por exemplo, o desmantelamento do Ministério da Agricultura, que já vem de trás, a integração de alguns serviços nas CCDRs, que nós consideramos que não faz qualquer sentido. Não sabemos se essa ideia vem da ministra da Agricultura ou se se deve à sua falta de peso político e de influência, mas ela é que é a responsável por este ministério e se não concorda com uma medida que eventualmente lhe possa ser imposta, deveria demitir-se. Seria o que eu faria", afirma Rui Garrido numa entrevista publicada no site da Ovibeja.
O presidente da Associação de Agricultores do Sul aponta vários exemplos para explicar porque entende que a ministra se deveria demitir: "Quando falávamos à ministra da agricultura sobre as ajudas à seca, ela respondia-nos sempre com milhões, que nunca chegámos a ver, e dos quais estamos fartos de ouvir falar"; "No que diz respeito às ajudas compensatórias do aumento dos fatores de produção, devido à guerra, já os espanhóis vão no segundo ou terceiro pacote e nós, só há pouco tempo recebemos um pacote, e muito diminuto"; "Depois há a questão do PEPAC [Plano Estratégico da Política Agrícola Comum] que é importantíssima. Alguma vez se ouviu falar que um PEPAC, acabado de negociar e a ser iniciada a sua implementação, precisa já ser alterado? É a primeira vez que ouvimos isto desde que entrámos para a comunidade. Porquê? Houve uma pressa tremenda para sermos os primeiros a ter o PEPAC pronto em Bruxelas para ser aprovado. E agora chegamos à conclusão de que está perfeitamente desajustado. O sector receberá muito menos dinheiro do que recebia anteriormente (...) Isto é fruto, mais uma vez, de desorganização e de incompetência".
Rui Garrido acusa a ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, de não falar, não ouvir nem consultar as associações de agricultores.
"Mas que ministra é esta que não reúne connosco? Nós precisamos de ministros, secretários de estado, dirigentes que falem connosco, que oiçam as nossas opiniões, como forma de conhecerem a nossa realidade. Esta não é a nossa ministra", conclui.
Não é a ministra da Associação de Agricultores do Sul, mas é a ministra da feira Internacional de Agropecuária de Estremoz que decorre exatamente nos mesmos dias da Ovibeja - de 27 de abril a 1 de maio. Maria do Céu Antunes foi convidada pela autarquia socialista de Estremoz.
"A casamento e batizado não vás sem ser convidado", ironiza Rui Garrido em declarações ao DN explicando que não recebeu, "nem esperava receber nenhum sinal de desagrado do governo. Não reúne, não fala, não ouve e agora ia protestar?".