Joaquim Miranda Sarmento é um dos 20 atuais deputados do PSD que têm regresso ao Parlamento garantido. (António Pedro Santos / Lusa)
Joaquim Miranda Sarmento é um dos 20 atuais deputados do PSD que têm regresso ao Parlamento garantido. (António Pedro Santos / Lusa)

Grande substituição de Luís Montenegro corta dois terços dos deputados do PSD

Grupo parlamentar social-democrata terá revolução maior do que se previa. Saem 45 dos 76 deputados escolhidos por Rui Rio, com Joaquim Miranda Sarmento entre os poucos que ficam. Voltam figuras do passado recente, ao lado de muitos independentes, nas listas da Aliança Democrática.
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Dois em cada três atuais deputados do PSD não irão regressar à Assembleia da República seja qual for o resultado da Aliança Democrática nas legislativas de 10 de março, pois 45 dos atuais 76 parlamentares sociais-democratas nem sequer aparecem nas listas de candidatos apresentadas por Luís Montenegro e aprovadas na noite de segunda-feira. A esse número soma-se Tiago Moreira de Sá, que renunciou ao lugar inelegível que lhe foi reservado em Lisboa, e outros seis deputados relegados para o fundo das listas, incluindo Sofia Matos, que encabeçara o partido no Porto em 2022.

A revolução no grupo parlamentar social-democrata, que fora antecipada na edição de sábado do DN, acabou por surpreender pela amplitude. Além de serem afastados praticamente todos os deputados mais próximos do anterior presidente do PSD, como Adão Silva, André Coelho Lima, Isabel Meirelles, José Silvano, Mónica Quintela ou Paulo Mota Pinto, também saíram “históricos” que chegaram à Assembleia da República muito antes da liderança de Rui Rio. Foi o caso de Duarte Pacheco e de Fernando Negrão.

A renovação da bancada do PSD leva a que dos 13 atuais eleitos por Lisboa só vão ficar em lugares elegíveis o líder parlamentar Joaquim Miranda Sarmento, o presidente da Juventude Social Democrata Alexandre Poço, e o representante dos Trabalhadores Sociais-Democratas, Pedro Roque, que transita para o Porto. De igual modo, entre os 14 deputados eleitos pelo Porto, só Germana Rocha, Andreia Neto e Hugo Carneiro têm o regresso ao Parlamento garantido, tal como em Braga voltarão apenas metade dos oito deputados (Clara Marques Mendes, Jorge Paulo Oliveira, Carlos Eduardo Reis e Carlos Cação). Já em Aveiro Paula Cardoso é a única de sete com lugar elegível, tal como Hugo Patrício Oliveira é caso único em Leiria, sendo que em Viseu, em Coimbra, em Setúbal e na Madeira nenhum dos atuais membros do grupo parlamentar voltará.

Em declarações a jornalistas, no final do Conselho Nacional do PSD em que as listas da coligação, com  dois lugares elegíveis reservados para o CDS-PP (ver texto na página ao lado) e vários independentes em lugares de destaque, foram aprovadas com duas abstenções e dois votos contra, Luís Montenegro referiu que as escolhas de candidatos a deputados “satisfazem uns e não satisfazem outros”.

O líder do PSD, que encabeça a lista da AD por Lisboa, com o antigo bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, a aparecer na primeira posição no Porto, e o secretário-geral do PSD, Hugo Soares, como cabeça de lista por Braga, fez a defesa da abertura a “pessoas de reputada qualificação” que espera serem mais-valias no confronto com o PS em áreas como a Saúde e a Economia. “Estamos a dar um sinal do Portugal que queremos, o Portugal que conta com todos e não se esgota nos partidos, se abre à sociedade e vai buscar os melhores para connosco construírem um Portugal novo”, disse o líder social-democrata.

Novidades e regressos

Essa abertura foi visível em algumas das principais novidades nas listas da AD, com o economista do Banco de Portugal João Valle e Azevedo a aparecer em quinto lugar na lista de Lisboa e o professor da Faculdade de Economia do Porto Óscar Afonso como quarto candidato pelo círculo do Porto. Em Santarém o cabeça de lista é o ex-presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal, Eduardo Oliveira e Sousa, enquanto Ana Paula Martins, ex-presidente do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte, também ex-bastonária da Ordem dos Farmacêuticos (e que chegou a ser vice-presidente do PSD num dos mandatos de Rui Rio), é a terceira por Lisboa. Outras figuras com que a coligação conta são o especialista em Educação Alexandre Homem de Cristo, oitavo por Lisboa; a ex-presidente da Federação Académica do Porto, Ana Gabriela Cabilhas (12.ª pelo Porto); a advogada Rita Alarcão Júdice, coordenadora da área da habitação no Conselho Estratégico Nacional do PSD e cabeça de lista por Coimbra; e a professora universitária especializada em Relações Internacionais Liliana Reis, que encabeça a AD em Castelo Branco.

Mas também haverá outros regressos à Assembleia da República, com os ex-ministros sociais-democratas José Pedro Aguiar-Branco e Teresa Morais a serem cabeças de lista em Viana do Castelo e em Setúbal. O primeiro vai enfrentar o ex-deputado do PSD Eduardo Teixeira, que ontem revelou ser o cabeça de lista do Chega pelo distrito, enquanto a segunda enfrenta algumas resistências internas, com militantes a falarem de “paraquedismo” num distrito que pouco terá a ver com o seu perfil. Na sua lista terá o ex-deputado Bruno Vitorino, um de entre muitos regressos promovidos por Montenegro. O mesmo acontece com Emídio Guerreiro (quinto em Braga), Cristóvão Norte (segundo em Faro, só atrás do vice-presidente do PSD e da Câmara de Cascais, Miguel Pinto Luz) ou Alberto Machado (quinto pelo Porto, onde preside à concelhia social-democrata). E também com os “históricos” José Cesário e Carlos Gonçalves, que tentarão retomar a vantagem do centro-direita nos círculos da emigração, com Cesário como cabeça de lista por Fora da Europa e Gonçalves pelo círculo da Europa.

Também há lugar nas listas para autarcas sociais-democratas. Na lista de Aveiro o cabeça de lista é o presidente da Câmara de Santa Maria da Feira, Emídio Sousa, com o  homólogo de Ovar, Salvador Malheiro, em quarto lugar, naquilo que está a ser encarado como uma rara exceção ao que muitos dentro do PSD chamam “limpeza política” de resquícios da liderança de Rui Rio. Enquanto isso, em Bragança é o presidente da autarquia da capital do distrito, Hernâni Dias, a assumir a tentativa de suplantar o PS, com Leiria a ter desta vez como cabeça de lista o ex-presidente da Câmara de Óbidos, Telmo Faria, e a lista da Madeira terá em primeiro lugar o edil de Câmara de Lobos, Pedro Coelho.

Números

Entradas e saídas levam a que quase tudo mude no grupo parlamentar do PSD. E, caso a coligação consiga formar Governo depois de 10 de março, tudo ainda pode mudar mais.

20 Resistentes

Dos 77 eleitos sociais-democratas, que passaram para 76 quando Maló de Abreu se tornou não-inscrito, ficam agora em lugar elegível apenas 20. É o que acontece ao atual líder parlamentar Miranda Sarmento, ao líder da JSD, Alexandre Poço, e aos dois únicos cabeças de lista “repetentes”: Paulo Moniz (Açores) e Sónia Ramos (Évora).

45 Excluídos  

Todos sabiam que haveria uma revolução no grupo parlamentar, mas poucos esperavam que tantos ficassem de fora. Entre os 45 há próximos de Rui Rio (André Coelho Lima, Isabel Meirelles e José Silvano) ou históricos como Duarte Pacheco e Fernando Negrão.

2 Ex-ministros

Com Luís Montenegro, Hugo Soares e António Leitão Amaro de volta às listas, regressam também ministros de Governos anteriores:José Pedro Aguiar-Branco (Viana do Castelo) e Teresa Morais (Setúbal).

4 Vices de fora

Dos seis vice-presidentes do PSD, só Leitão Amaro (Viseu) e Miguel Pinto Luz (Faro) são candidatos. Ficam de fora Inês Ramalho, Margarida Balseiro Lopes, Paulo Cunha e Paulo Rangel.

SAIBA MAIS

Independentes ganham preponderância com quatro cabeças de lista

A aposta de Luís Montenegro em personalidades independentes, procurando emular o peso que o Movimento dos Reformadores teve na Aliança Democrática de 1979, ficara patente quando Miguel Guimarães foi o primeiro a falar na cerimónia que lançou a coligação. E confirmou-se na apresentação das listas de deputados, visto que o ex-bastonário da Ordem dos Médicos é cabeça de lista pelo Porto, enquanto o ex-presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal, Eduardo Oliveira e Sousa, lidera a lista de Santarém, a advogada Rita Alarcão Júdice é a primeira por Coimbra e Liliana Reis, especialista em Relações Internacionais, fica em primeiro por Castelo Branco. Também em destaque estão os economistas João Valle e Azevedo (quinto por Lisboa) e Óscar Afonso (quarto pelo Porto), tal como Alexandre Homem de Cristo (oitavo por Lisboa), especialista em Educação.

Nuno Melo ainda vai escolher segundos e terceiros do CDS-PP em Lisboa e Porto

Enquanto o PSD apresentou todos os nomes dos sociais-democratas nas listas da Aliança Democrática, o CDS-PP limitou-se a apresentar os cabeças de lista, o que significa os que estão melhor posicionados em cada distrito, com o presidente Nuno Melo (segundo pelo Porto) e o vice-presidente Paulo Núncio (quarto por Lisboa) garantidos na Assembleia da República. Têm pela frente missões praticamente impossíveis os restantes nomes já revelados, como Maria do Céu Marques (Aveiro), Durval Ferreira (Braga), Ana Birrento (Setúbal) e Hélder Amaral (Viseu). Assim, a esperança do CDS-PP em ter um grupo parlamentar maior reside nos candidatos em 16.º lugar por Lisboa e Porto. Nuno Melo tem mandato do Conselho Nacional para escolher (e convencer) até ao final da semana figuras para esses lugares - e os seguintes, que chegarão a São Bento se Melo e Núncio forem para o Governo.

Tiago Moreira de Sá renuncia após ser relegado para o meio da lista da capital

As listas da Aliança Democrática, aprovadas pelo Conselho Nacional do PSD na noite de segunda-feira, tiveram uma baixa logo na manhã seguinte, com o atual deputado Tiago Moreira de Sá a anunciar a sua renúncia. Coordenador do PSD na Comissão de Negócios Estrangeiros, o professor universitário foi colocado no 25.º lugar por Lisboa. Não só a sua eleição seria quase impossível - mesmo que vários deputados do círculo transitassem para um eventual futuro Governo - como seria uma flagrante despromoção para o sétimo por Lisboa em 2022, aceitando o convite do anterior líder do PSD, Rui Rio. Mas não foi caso único: Lina Lopes passou de sexta para 47.ª em Lisboa e Fernanda Velez desceu de terceira para décima em Setúbal.

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