Catarina Martins: "PS tornou-se o padrasto de todo o populismo

A coordenadora bloquista fez este sábado o seu discurso de despedida na convenção do partido, que deverá eleger Mariana Mortágua como a nova líder.
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A coordenadora do BE apelidou o PS de "padrasto de todo o populismo", considerando que os problemas estruturais do país foram agravados porque os socialistas acharam que, com a maioria absoluta, tinha chegado o seu "momento cavaquista".

No discurso de despedida de líder do BE, que terminou com uma ovação de cerca de cinco minutos, de pé, dos delegados da XIII Convenção Nacional bloquista, Catarina Martins apontou à maioria absoluta, acusando o PS de usar "o aparelho do Estado", perder-se "em guerras internas" enquanto Portugal "assiste incrédulo a um governo paralisado e enredado nos seus próprios erros".

"Todos estes problemas estruturais foram agravados porque o PS, com maioria absoluta, achou que chegara o seu momento cavaquista", acusou, considerando que os socialistas quiseram uma "política no avesso da esquerda".

Para a ainda coordenadora do BE, o PS de António Costa pode "vitimizar-se", mas deixou claro que "não foram a covid e a guerra que criaram as dificuldades atuais" nem "nenhuma oposição que criou qualquer dos problemas que os ministros inventam".

"E assim se entretém uma degradação da vida pública em que o PS se tornou o padrasto de todo o populismo", acusou.

Catarina Martins defendeu também que o partido "fez o que tinha a fazer e voltaria" a votar contra o Orçamento do Estado para 2022, apontando que os bloquistas não se arrependem "da coerência".

"Fizemos o que tínhamos de fazer e voltaríamos a fazer o mesmo enfrentamento com o Governo nos Orçamentos a propósito da saúde e dos direitos laborais", defendeu.

No seu discurso de despedida na XIII Convenção Nacional do BE, no pavilhão do Casal Vistoso, em Lisboa, Catarina Martins recuou ao 'chumbo' do Orçamento do Estado para 2022, que levou o país a eleições legislativas antecipadas.

A coordenadora do BE afirmou que se vivem "tempos difíceis" salientando que não se estava a referir ao partido, apesar de reconhecer que "a derrota eleitoral do ano passado deixou feridas".

No entanto, garantiu: "Não nos arrependemos da coerência".

"Que ninguém se engane sobre quem somos e como somos: respeitamos quem tinha votado no Bloco e que, por medo da direita ou por preferir uma maioria absoluta, apoiou o PS há um ano; mas faremos sempre o mesmo que nos disserem para escolher entre uma conveniência partidária e o cuidado que a democracia deve ao SNS ou ao direito de quem trabalha", considerou.

Catarina Martins garantiu que o BE escolhe "a coerência e o compromisso com soluções que salvam vidas, que ajudam quem está doente, que dão ao pobre e ao remediado a garantia de que não deve ser cuidado nos nossos hospitais públicos de forma diferente da pessoa mais poderosa do mundo".

"Se agora estamos a recuperar força é por levarmos o país a sério e levarmos a sério o compromisso de quem confiou em nós. Não cedemos à chantagem e não preciso de vos dizer como é importante que o povo tenha esta certeza de que aqui está gente que nem verga nem quebra", vincou.

Antes, a coordenadora do BE já tinha referido que "foi em nome" da coerência que o partido promoveu e assinou os acordos da geringonça, ajudando "a salvar o país da direita"

"E não nos submetemos nunca à ideia peregrina de que bastaria um 'acordo de cavalheiros' para um compromisso de medidas: tem que haver honra e fidelidade aos acordos na política, mas o povo tem o direito de saber o que vai ser feito, quando e como, e isso é um acordo transparente para toda a gente conhecer", salientou.

Catarina Martins garantiu que o partido foi unitário contra o sectarismo e nunca deixará de o ser, querendo "toda a força da esquerda junta, porque não é demais para enfrentar a casta oligárquica que manda em Portugal".

Lembrando várias lutas e conquistas do partido nos últimos anos, Catarina Martins salientou que o Bloco revelou "escândalos financeiros", denunciou "a pirataria das privatizações e os banqueiros e CEOs que prejudicaram o país" e combateu "a corrupção, o compadrio e o clientelismo".

"E se agora nos dizem que é importante, pois lembrem-se que era o Bloco de Esquerda que Ricardo Salgado tratava como o seu inimigo e tinha toda a razão. É uma honra para nós termos mostrado que o crime é crime e que foram banqueiros quem assaltou os bancos", insistiu.

A coordenadora bloquista, Catarina Martins, disse ainda que no BE as "gerações não se atropelam", mas "reforçam-se", recordando o legado dos fundadores do partido e de João Semedo.

"Sei bem que a camaradagem, a convicção, o debate franco, a luta ombro a ombro não se comemoram. Partilham-se, mas permitam-me que hoje vos diga o quão grata estou pelo privilégio de ter seguido convosco no caminho destes últimos 11 anos e pelo que mais virá", disse Catarina Martins.

Recordando a "enorme generosidade" de Francisco Louçã, que a antecedeu na liderança do partido, a coordenadora do BE enalteceu ainda Luís Fazenda e Fernando Rosas.

"De formas diversas, reinventaram a sua intervenção no Bloco e ensinaram-nos que as gerações não se atropelam nem se substituem, as gerações no BE reforçam-se, acrescentam-se", enfatizou, recordando ainda os ensinamentos que deixou o outro fundador do BE Miguel Portas.

Um dos mais orgulhos de Catarina Martins é, nas suas palavras, a promulgação da lei que despenaliza a morte medicamente assistida.

"Não é o único legado que nos deixa, longe disso, mas esta particular combinação de exigência e tolerância é a Lei João Semedo, e Portugal deve agradecer-lhe a generosidade com que se dedicou a esta causa como ao SNS até ao último dos seus dias", disse.

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