No final da sua primeira Festa do Avante! (a 3 de setembro do ano passado), Paulo Raimundo olhava para dois “desafios eleitorais”: as regionais da Madeira, que aconteciam no dia 24 desse mês; e as europeias de junho. A ambição, dizia o secretário-geral do PCP, era ter “mais partido”, “mais força”, “mais votos e mandatos” para “aumentar condições de vida do povo e ter uma vida melhor”. No entanto, os resultados não foram favoráveis. Na Madeira, os comunistas perderam a representação parlamentar que tinham, e no Parlamento Europeu ficaram apenas com um deputado (João Oliveira) e perderam mais de 60 mil votos. Pelo meio, houve ainda umas legislativas antecipadas e, aí, o partido perdeu dois deputados e foi apanhado pelo Livre em mandatos. Ou seja: o desígnio de Raimundo não se cumpriu e a quebra do PCP aconteceu em todas as eleições que disputou desde aí..Esta sexta-feira, arranca mais uma Festa do Avante! (termina no domingo, dia em que Paulo Raimundo falará pelas 18h00), e há mais desafios no horizonte. O próximo será já em 2025, com as autárquicas. E aí o PCP (que concorre enquanto CDU, coligado com o PEV) é o partido que mais câmaras tem no limite do mandato (12 em 19, ou seja, 63%). Aqui incluem-se autarquias como Cuba (Beja), Évora (liderada por Carlos Pinto de Sá, um “dinossauro” comunista que já foi autarca também em Montemor-o-Novo), Avis (um bastião comunista no distrito de Portalegre), Grândola (Setúbal) e Silves (no distrito de Faro, foi conquistada ao PS em 2013). No entanto, esta não é uma perspetiva animadora, uma vez que, historicamente, quando esta limitação de mandatos acontece, 40% das câmaras muda de partido..Além dos comícios e dos discursos políticos, a Festa do Avante! é também conhecida pelo convívio - e não só entre militantes e simpatizantes comunistas. Durante três dias, a Quinta da Atalaia, no Seixal, enche-se de pessoas para assistirem a concertos de artistas nacionais e internacionais e também para conviver. O DN esteve no recinto na quinta-feira, onde se ultimavam os pormenores para a Festa, que arranca esta sexta-feira e termina no domingo, dia em que Paulo Raimundo vai discursar no Palco 25 de Abril, pelas 18h00. (Fotomontagem DN).Há depois outros casos, como em Setúbal, em que a autarquia pode estar em risco devido à própria força da oposição. Na cidade setubalense, a governação de André Martins poderá vir a ser contestada por Maria das Dores Meira, ex-autarca da CDU, que venceu a Câmara Municipal com três maiorias absolutas (2009, 2013 e 2017). Em 2021, fez campanha pela eleição de André Martins, que acabaria por conquistar a câmara com apenas mais três mil votos do que o PS..Num horizonte mais longínquo estão as Presidenciais (que acontecem em janeiro de 2026). Há cerca de uma semana, o tema voltou estar em cima da mesa, com o secretário-geral do PCP, a não se excluir da corrida a Belém. .Numa visita ao recinto da Festa do Avante!, Paulo Raimundo afirmou que se vê a desempenhar “todos os papéis que forem necessários para ajudar o povo e os trabalhadores”..Mas o assunto não é preocupação nas hostes comunistas - pelo menos para já. Afinal, disse o próprio líder comunista, o país ainda está “longe das Presidenciais” e o foco do partido está em enfrentar “os baixos salários, as baixas reformas e o drama do acesso à habitação”..Ucrânia e Venezuela: alvo de críticas.Outro dos temas que tem colocado o PCP debaixo dos holofotes é a política externa. Primeiro, foi a invasão da Ucrânia por parte do regime russo, cujo posicionamento do partido foi dúbio. A própria Maria das Dores Meira deixou críticas. Numa entrevista ao Expresso, a ex-militante comunista questionava: “A Ucrânia não foi invadida? Dizerem que não houve invasão? Pessoas minimamente livres e inteligentes não podem compactuar com isto. De todo.”.Por outro lado, as eleições na Venezuela também isolaram o PCP, com o partido a saudar a “importante jornada democrática, em que participaram milhões de venezuelanos e cujos resultados reafirmaram o apoio popular ao processo bolivariano”..Em reação a este comunicado, Domingos Lopes, outro ex-PCP, afirmava que esta posição, tal como outras, “foi um bocado precipitada”. No entanto, ressalvava que a “celebração do PCP até pode vir a estar certa. São tantas desgraças que, na lógica desta vitória do Maduro, isto pode constituir um certo regozijo em relação ao inimigo, que são os Estados Unidos”.