Agradecer a Aníbal Cavaco Silva “pelo exemplo” e pela inspiração que foi “legada”, que exige ao Governo “estar à altura da responsabilidade”, é “uma honra”. Foi assim que Luís Montenegro, Primeiro-Ministro, quis assinalar os 40 anos da tomada de posse (que acontecem esta quinta-feira, 6 de novembro) do X Governo Constitucional, liderado por Aníbal Cavaco Silva.Na cerimónia que decorreu no palacete de São Bento, residência oficial do primeiro-ministro, Luís Montenegro disse ser com “profunda satisfação e imensa gratidão” que recebeu Cavaco Silva, assinalando os 40 anos daquilo a que chamou “o início do ciclo governativo mais proveitoso e profundo” da democracia portuguesa. De acordo com o chefe do Governo, esse “período” continua a ter “marcas” significativas na “realidade do país”, com um impacto “em muitas gerações”.Num discurso marcado por vários elogios ao trabalho de Cavaco Silva, Luís Montenegro olhou para a ação do também antigo Presidente da República, considerando-o uma “personagem central” do regime democrático português, tendo tomado “decisões corajosas” em prol da sociedade portuguesa, que “reformou”. Com isso, “construiu as bases de um Portugal moderno, virado para o futuro, que finalmente almejou estar ao nível dos mais desenvolvidos na Europa”, refletiu o primeiro-ministro.Enquanto Montenegro discursava na sala da residência oficial, Aníbal Cavaco Silva ouvia-o atentamente, sentado na primeira fila ao lado da sua mulher, Maria Cavaco Silva. Também presente esteve a esposa do atual primeiro-ministro, Carla Montenegro, bem como os membros do atual Governo (que tinham estado reunidos desde as 9h30 em Conselho de Ministros, realizado no mesmo local). Outros rostos ligados ao PSD, como o candidato presidencial Luís Marques Mendes ou Leonor Beleza (atual conselheira de Estado e antiga ministra da Saúde de Cavaco Silva), marcaram igualmente presença na homenagem ao também antigo presidente social-democrata..No discurso que fez, de pouco mais de 15 minutos, Luís Montenegro assinalou ainda as transformações do cavaquismo em áreas como a educação, a saúde, o sistema fiscal ou as infraestruturas. Isto levou-o a concluir que “há um Portugal antes e depois de Cavaco Silva”. E são essas mudanças que, segundo o também líder do PSD, levam a que o Governo olhe para o cavaquismo como uma referência. Se é certo que os executivos de Cavaco e o atual têm uma “inspiração sá-carneirista”, no que diz respeito à “inspiração governativa” a principal referência “é Aníbal Cavaco Silva”. “Com ele”, o Governo sente “a responsabilidade de ser um farol”, garantiu Montenegro, destacando algumas áreas que, como há 40 anos, são prioridades da execução governativa: “a criação de infraestruturas”, a diminuição da “carga burocrática” e a “garantia de uma verdadeira igualdade de oportunidades”. E, na habitação, “o investimento que está a ser feito só encontra proximidade com o que foi realizado nos governos de Aníbal Cavaco Silva”.Depois desta comparação - que já tinha sido feita pelo próprio Montenegro noutros contextos - o primeiro-ministro não terminou sem antes deixar uma ‘bicada’ aos críticos de Cavaco. “Quando os portugueses foram chamados às urnas, sem intermediários, foram claros e disseram: ‘é em si que confiamos’”, rematou.Antes de ser inaugurada uma exposição fotográfica da autoria de Rui Ochoa, foi a vez do próprio Aníbal Cavaco Silva discursar, assumindo-se desde logo “sensibilizado” pela homenagem feita pelo Governo..Cavaco Silva já não tem “nenhuma” influência, mas ainda é intocável como “principal referência do PSD”.Num discurso muito marcado pelo revisionismo do período em que foi Primeiro-Ministro, Cavaco Silva começou por recordar que o seu primeiro Governo “gozava de apoio minoritário” e que Manuel Alegre, deputado do PS, “disse que era um Governo com data para morrer, que não durava mais de seis meses”. “As previsões dos analistas às vezes falham”, frisou - acabou por ser primeiro-ministro durante dez anos (1985-1995).Reconhecendo que chefiar um Governo é uma função “muito dura, exigente e trabalhadora”, Cavaco Silva destacou dois exemplos da sua governação: um negativo (a remodelação do Executivo entre 1989 e 1990, um momento “muito solitário”) e um positivo (a revisão constitucional feita com Vítor Constâncio, na altura secretário-geral do PS, que foi “decisiva” para dar continuidade à “integração europeia”).Olhando para o passado, houve ainda espaço para um mea culpa, refletindo sobre as características que, no seu entender, perfilam um bom Executivo. “Um bom Governo é aquele que tem uma verdadeira equipa, uma estratégia para alcançar os objetivos definidos e que é capaz de garantir uma boa articulação entre os ministérios. Não consegui que assim fosse plenamente. Para um Governo, por mais que se esforce, é impossível evitar falhas e erros. Costumo dizer: nobody’s perfect [ninguém é perfeito]. Em política, os erros de um Governo não podem ser escondidos”, considerou Cavaco Silva..Cavaco Silva: "Os erros cometidos por um Governo não podem ser escondidos”.“Não havia divagações”: O que era governar com Cavaco Silva, segundo Miguel Cadilhe