A notícia do falecimento de Francisco Pinto Balsemão, aos 88 anos, foi dada pelo primeiro-ministro Luís Montenegro, durante o Conselho Nacional do PSD, partido de que foi cofundador e militante número um. A triste novidade foi acolhida com uma longa salva de palmas, através da qual os membros do conselho homenagearam o antigo primeiro-ministro (1981-1983), jornalista, fundador do Expresso e da SIC, advogado, empresário e homem de cultura, que deixa um legado de defesa da liberdade e do jornalismo independente.O Governo decretou dois dias de luto nacional e as reações não tardaram a surgir, vindas de diversos quadrantes da sociedade portuguesa. O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que em tempos foi diretor do Expresso e secretário de Estado no governo de Balsemão, e que em setembro o condecorou com a Grã-Cruz da Ordem de Camões, lembrou o homem “visionário” e “pioneiro”, notando que Portugal “perdeu uma das personalidades mais marcantes dos últimos sessenta anos” em várias áreas: “Na política, na sociedade, na afirmação da liberdade de expressão e de imprensa.”O antigo primeiro-ministro de Portugal e atual secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, também recordou Balsemão. Durante o habitual briefing diário à imprensa nas Nações Unidas, o porta-voz adjunto de Guterres, Farhan Haq, transmitiu as palavras do secretário-geral: “Portugal perdeu um estadista notável e uma figura mediática brilhante, e perdeu um amigo querido.”As cerimónias fúnebres realizam-se esta quinta-feira, 23 de outubro, às 13h00, no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, sendo presidida pelo patriarca emérito de Lisboa, D. Manuel Clemente, seguindo-se o cortejo fúnebre para o Cemitério dos Prazeres, onde o corpo será sepultado no jazigo da família. Este momento será reservado à família, mas a missa nos Jerónimos será aberta ao público e espera-se a presença de altas figuras do Estado e de outras personalidades.Negociações com os italianos do MFE prosseguemO desaparecimento do fundador ocorreu no momento em que a holding da família Balsemão está em negociações com o conglomerado italiano MFE, dos herdeiros de Sílvio Berlusconi, para a venda de uma participação maioritária na Impresa. As negociações, anunciadas no final de setembro, visam responder às dificuldades financeiras do grupo detentor da SIC e do Expresso.A operação vai permitir resolver os problemas financeiros da Impresa, que necessita de uma recapitalização estimada em cerca de 80 milhões de euros, de acordo com as contas mais recentes. O montante que o grupo MFE está disposto a investir não foi oficialmente confirmado, mas, ao que o DN apurou, a entrada de capital poderá cobrir uma parte relevante desse valor, desde que seja viabilizada por um perdão parcial (o chamado haircut) da dívida bancária, especialmente junto do principal credor, o BPI.Nos últimos anos, o grupo Impresa tem vindo a reduzir o seu endividamento, passando de 248,6 milhões de euros em 2011 para 148,2 milhões no final do passado mês de junho. Porém, os dividendos que a SIC e o Expresso entregam à casa-mãe já não são suficientes para cobrir o serviço da dívida desta última.No mercado, as negociações com o MFE estão a ser seguidas com atenção. “A mesma questão que se coloca aos italianos também se coloca a qualquer outro interessado, nomeadamente a questão do haircut da dívida”, notou uma fonte do setor dos media, que pediu também para não ser identificada.Ao que o DN apurou, o falecimento de Francisco Pinto Balsemão deverá atrasar as negociações em alguns dias, face ao calendário previsto. Uma das fontes ouvidas pelo DN admitiu que a ausência da sua influência pessoal “não irá tornar mais fácil” a busca de soluções para o grupo, se por alguma razão o acordo com os italianos do MFE não se concretizar. A família Balsemão, agora privada do seu patriarca, enfrenta o desafio de preservar o legado e de garantir a sustentabilidade de um grupo que é um dos principais pilares da comunicação social em Portugal. Neste contexto, o papel da viúva do fundador, Mercedes Balsemão (a quem os próximos tratam por “Tita”), poderá ser muito relevante, por conservar muitos dos contactos e ligações que o casal construiu no país e no estrangeiro, ao longo de mais de meio século, defendeu uma fonte próxima, que pediu para não ser identificada, dada a sensibilidade do assunto.“Começamos a acreditar que o pai era eterno”Numa carta enviada esta quarta-feira aos trabalhadores do grupo Impresa, a que a Lusa teve acesso, os filhos de Francisco Pinto Balsemão destacaram que o legado do pai é “eterno” e que dele fazem parte todos os que colaboram com o grupo.“É um dia muito difícil para todos nós. Achámos que não chegaria porque começámos a acreditar que Francisco Pinto Balsemão - pai, marido, avô, jornalista, empreendedor - era eterno. Como todos se recordarão, as frases sobre o futuro eram iniciadas pelo fundador da Impresa com a expressão ‘Se eu um dia morrer…’. Mas o seu legado é eterno. E o seu legado somos todos nós”, disseram os filhos na carta.Para os filhos Mónica, Henrique, Francisco Maria, Joana e Francisco Pedro, a morte de Francisco Pinto Balsemão é também uma perda para todo o setor da comunicação social - onde foi uma “figura ímpar e visionária” -, e para o país, que destacam como “um dos pais fundadores” da democracia.Um construtor da democraciaUm defensor da Liberdade, um construtor da democracia, lutador incansável, empresário assertivo. Os adjetivos positivos sucederam-se, desde a noite de terça-feira passada, para recordar e elogiar uma figura incontornável do país, em termos sociais, políticos, empresariais e jornalísticos. Até ao fecho desta edição continuavam a ser libertadas notas de pesar, que chegaram de todos os quadrantes políticos e setores da sociedade. “Um estadista notável” e “uma figura mediática brilhante”, disse António Guterres, secretário-geral da ONU. A Confederação Empresarial de Portugal (CIP) salientou como Balsemão “cultivou sempre, em todas as atividades políticas, empresariais e jornalísticas a que se dedicou, os valores da liberdade, da tolerância e do liberalismo”, enquanto os candidatos presidenciais António José Seguro, Gouveia e Melo e Marques Mendes realçaram o papel de Francisco Pinto Balsemão na construção da democracia nacional e na revisão Constitucional de 1982.Com o país a viver dois dias de luto nacional, por determinação do Executivo, as cerimónias fúnebres do empresário e antigo primeiro-ministro tiveram início ontem, ao final da tarde, no Mosteiro dos Jerónimos, onde o corpo permanecerá até esta quinta-feira, onde se realizará uma Missa de Corpo Presente, às 13h00. A celebração eucarística, informou a família Balsemão, será presidida pelo Cardeal Patriarca de Lisboa Emérito, D. Manuel Clemente.As reações à morte de Francisco Pinto BalsemãoMarcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República“Portugal perdeu uma das personalidades mais marcantes dos últimos sessenta anos."Lídia Jorge, escritora e conselheira de EstadoImagine-se o que “poderia ter acontecido se Francisco Pinto Balsemão, enquanto empresário e enquanto homem do jornalismo, não tivesse agido”.Ramalho Eanes, antigo Presidente da República“Pela sua ação decisiva em prol do País, nomeadamente na defesa da liberdade política e da democracia - enquanto deputado da Ala Liberal, fundador do PSD e Primeiro-Ministro - e na defesa da liberdade de opinião e independência da imprensa - com a criação de órgãos de comunicação social de referência, como o Expresso e a SIC -, Pinto Balsemão merece lugar de destaque na memória dos Portugueses e na história do nosso País”.Marco Galinha, presidente do Grupo BEL (acionista do Diário de Notícias)“Francisco Pinto Balsemão deixa-nos o desafio de continuarmos a fazer avançar Portugal. Sentidos pêsames à família, amigos e colaboradores."Visconde Rothermere, ‘chairman’ do grupo de media britânico Daily Mail and General Trust“Ele era um amigo muito leal, cujos conselhos eram sempre sinceros, inteligentes e sábios”.Cavaco Silva, antigo Presidente da República “Pioneiro na comunicação social livre, mesmo antes de a Liberdade vingar, Pinto Balsemão mostrou ousadia perante o antigo regime”.Durão Barroso, antigo primeiro-ministro“Fundador da democracia”, destaca-se o legado de liberdade daquele que considero ter sido o “político português mais cosmopolita da sua geração”.António Horta Osório, administrador do Grupo Impresa“Francisco Pinto Balsemão foi um baluarte da democracia portuguesa e um defensor intransigente da liberdade de imprensa”..Marcelo e Montenegro juntos no velório de Pinto Balsemão. Passos fala de uma “figura marcante da democracia”.As muitas vidas de Francisco Pinto Balsemão