Permanência de José Luís Carneiro como deputado foi uma das maiores incertezas.
Permanência de José Luís Carneiro como deputado foi uma das maiores incertezas.Foto: Leonardo Negrão

Escolhas de Pedro Nuno Santos para as listas das legislativas geram contestação nos socialistas

Listas de deputados vão ser aprovadas esta quarta-feira na Comissão Política Nacional do PS. Permanência de José Luís Carneiro estava em dúvida.
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As listas de candidatos a deputados do PS, que vão ser aprovadas na noite desta quarta-feira, na reunião da Comissão Política Nacional, foram recebidas com algumas críticas às escolhas de Pedro Nuno Santos, que recuperou próximos, como o seu antigo secretário de Estado Hugo Mendes, enquanto viu afastarem-se pesos-pesados.

Depois de Fernando Medina se autoexcluir da lista de deputados por Lisboa, o maior foco de incerteza passou a ser a manutenção na bancada socialista de José Luís Carneiro, que disputou a sucessão de António Costa com Pedro Nuno Santos, obtendo 36% dos votos. O antigo ministro reuniu-se nesta terça-feira com o secretário-geral do PS no Largo do Rato, em Lisboa, onde participou numa sessão sobre Justiça e Segurança Interna, deixando claro que pretendia continuar a representar o círculo de Braga, pelo qual foi cabeça de lista em 2024, sendo o Porto a única alternativa.

No entanto, a lista de Braga tem a ex-eurodeputada Isabel Carvalhais como cabeça de lista, seguindo Hernâni Loureiro, Pedro Sousa e Irene Costa. De fora fica a atual deputada Palmira Maciel, enquanto Gilberto Anjos desce do sexto para o oitavo lugar. Para aumentar a incerteza, ao que o DN apurou, Isabel Carvalhais disse que só aceitaria ser a segunda candidata, com José Luís Carneiro a manter como primeiro da lista.

Dias antes, o ex-diretor executivo do Serviço Nacional de Saúde, Fernando Araújo, foi anunciado como cabeça de lista do PS no Porto, onde a Aliança Democrática (AD) terá o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel. Pedro Nuno Santos disse que, em contraponto com a ministra da Saúde, Ana Paula Martins, Araújo é “uma figura consensual, que inspira confiança e segurança aos portugueses”.

A atual líder parlamentar Alexandra Leitão vai tentar ganhar a Câmara de Lisboa a Carlos Moedas, pelo que o PS teve de “desviar” para Santarém o até agora vice-presidente da Assembleia da República Marcos Perestrello. Também a mudar de círculo, o madeirense Carlos Pereira, eleito por Lisboa no ano passado, passou para a lista de Setúbal, encabeçada pelo ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Mendonça Mendes. Em 2024 fora a irmã, Ana Catarina Mendes, a ocupar o lugar, mas rumou ao Parlamento Europeu, tal como Francisco Assis e Marta Temido.

Com Pedro Nuno Santos a protagonizar um duelo em Aveiro com Luís Montenegro, que deixou o ministro das Finanças, Miranda Sarmento, como primeiro candidato da AD em Lisboa, a lista socialista no principal círculo eleitoral volta a ser encabeçada por Mariana Vieira da Silva, que terá o provável próximo líder parlamentar, Pedro Delgado Alves, em segundo. Seguem-se Miguel Cabrita, Edite Estrela, Sérgio Sousa Pinto, Pedro Vaz e Isabel Moreira.

A maior surpresa foi a inclusão, no 14.º lugar, do antigo secretário de Estado das Infraestruturas, Hugo Mendes, ligado à indemnização paga pela TAP a Alexandra Reis, e que assinou o despacho, revogado no dia seguinte por António Costa, que previa a construção do aeroporto no Montijo como solução intermédia antes de existir o de Alcochete.

A lista de Lisboa esteve longe de ser unânime, com dez votos contra e dois brancos, num total de 60 participantes, por entre várias críticas às escolhas de candidatos. “Não foi pacífico”, referiram fontes socialistas. De fora ficou Miguel Prata Roque, que no início do ano disputou a Federação da Área Urbana de Lisboa (FAUL) obtendo 29,2% dos votos. Ao DN, o professor universitário disse não ter sido ouvido: “Apesar de representarem 30% dos militantes da FAUL, nenhum ou nenhuma dos meus apoiantes integra as listas.”

Pelo contrário, o líder concelhio de Loures, Ricardo Lima, subiu de 13.º para 8.º, enquanto o líder da concelhia de Lisboa, Davide Amado - que nas legislativas anteriores foi 16.º, entrando no Parlamento só após a saída de Marta Temido -, subiu para 12.º, e o coordenador autárquico, André Rijo, passou de 15.º para 10.º

Com os dois anteriores líderes da Juventude Socialista (Miguel Costa Matos e Maria Begonha) na lista de Lisboa, a atual secretária-geral, Sofia Pereira, conta ser eleita por Viseu, embora possa ser colocada noutro círculo.

Problemas em Coimbra e Aveiro

Em Coimbra, até à noite desta terça-feira, havia várias certezas: “nem uma lista provisória”, “a falta de um cabeça de lista a sério” - Maria Manuel Leitão Marques recusou, e havia uma tentativa de convencer José Luís Carneiro a substituí-la -, “hesitações”, “um [Pedro Coimbra] que foi segundo nas últimas e que agora só vai se o Pedro Nuno Santos o meter na lista”, um líder da distrital [João Portugal] que “queria ir, mas já não se sabe”, um presidente do Politécnico [Jorge Conde] que dizem ser “uma mais valia”.

A lista proposta pela distrital de Coimbra, conhecida na noite desta terça-feira, tinha José Luís Carneiro como cabeça de lista, seguindo-se Rosa Isabel Cruz, Pedro Coimbra, Daniel Azenha e Olga Nunes. O DN tentou confirmar com o antigo ministro se aceitava candidatar-se pelo distrito, mas não teve resposta até à hora de fecho desta edição.

Numa palavra? “Confusão”. Uma “revolta” das “tropas locais” que à semelhança da de Aveiro tem raiz “praticamente igual”: os que estão “desalinhados” com a liderança do PS por “receios” de que, o dizem ser “má estratégia”, afaste os “locais dos eleitos”.

A aprovação da lista de candidatos por Aveiro, como revelado pelo Expresso, que afastou [ainda falta a decisão da Comissão Política Nacional] a deputada Cláudia Santos, no que terá sido a “aprovação com mais votos contra de sempre, ainda por cima numa lista liderada” pelo secretário-geral é outro dos casos.

Ao DN, fonte próxima da professora universitária, doutorada em Ciências Jurídico-Criminais constata que “nas últimas três eleições” Cláudia Santos foi sempre “como independente na quota do secretário-geral” e “em segundo lugar na lista de Aveiro”. Quem com ela lidou de perto elogia “uma das vozes mais capazes” que “talvez tenha cometido o pecado de criticar a desistência do PS na manifestação de interesses como parte das políticas de acolhimento de imigrantes”.

Não irá mesmo ser candidata por Aveiro ou vai mudar de círculo eleitoral? “Essa é uma pergunta que só pode ser dirigida ao secretário-geral do PS”, diz Cláudia Santos ao DN. A dúvida, até ao fecho da edição, não foi esclarecida pela direção do PS. A única certeza é que “não está” na lista de Aveiro.

Ao DN, dirigentes socialistas não escondem a preocupação de que “o PSD ainda vai à maioria se o secretário-geral continuar nisto”. O “nisto” tem tradução: “Insistir nos ataques pessoais” a Luís Montenegro “vai parecer o programa que tem”.

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