'Virtus in medium est'

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Em Ética a Nicómaco, Aristóteles apresenta-nos o conceito de que a virtude está entre o excesso e a falta, ou seja, que a justa medida e o equilíbrio são a base da ética e da moralidade. A chamada doutrina do meio-termo (mesotês). É óbvio que isto tem faltado nos dias que correm entre a maioria dos partidos na Assembleia da República. Isto a propósito das passeatas de Sábado e, naquelas ironias trágicas do destino, da rixa que deu origem a 7 feridos na Rua do Benformoso no dia seguinte. No fundo, de um lado, a Esquerda unida bradava contra a PSP, que apelidava de racista, xenófoba, violenta e dictatorial, num local que não tinha registo especial de confronto (!). Do outro lado, a um grupo que defendia a polícia, também se lhes juntaram vozes contra a imigração.

Após o episódio de Domingo, com 4 dos feridos a pedir ajuda à “racista” PSP, esta mesma Esquerda tentava justificar o acontecimento normalizando o registo, distorcendo a realidade como sendo resultado de desavenças políticas e não como sendo uma luta entre grupos rivais. Imagino como seria o Parlamento se, a cada desavença política, os deputados andassem a trocar cacetadas com barras de ferro ou com facas. Que, como se sabe, são objectos que usamos no nosso quotidiano, junto com o telemóvel, a carteira e os lenços de papel. Esta tentativa de normalizar o que não é de todo normal pode acabar da pior forma. Vejam-se as notícias que chegam do Reino Unido sobre as violações em massa de jovens brancas e pobres por grupos islâmicos de imigrantes durante décadas. Para evitar acusações de racismo e islamofobia ou a ascensão do populismo, a polícia, a elite política e até a comunicação social abafaram o que se passava.

Na realidade, imigrantes que têm um padrão cultural ou uma base de valores semelhantes aos dos países de acolhimento têm tendência a uma integração maior e mais pacífica, atenuando-se o fenómeno de gueto. Recusar ver esta realidade é um passo para não saber como lidar com a questão da imigração. Abrir as portas para um facilitismo de imigração descontrolada como a Esquerda fez durante anos não é saudável para ninguém, nem para quem está, nem para quem vem. Partir do pressuposto que a maioria dos imigrantes é criminosa é igualmente injusto. Nesta questão, urge buscar o pensamento aristotélico de que no meio está a virtude e, com controlo responsável, regras e boa gestão, evitar os extremos.

Numa sondagem (feita antes dos episódios deste fim-de-semana) sobre o acontecimento policial na Rua do Benformoso em Dezembro, 57% concordou com a acção da polícia e 65% não considera que houve racismo. Pelos vistos, o povo no geral é mais moderado que a maioria dos partidos que, de momento, se encontra a representá-lo no Parlamento.

Professora auxiliar da Universidade Autónoma de Lisboa e investigadora (do CIDEHUS). Escreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfico.

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