Se alguém pode ser considerado um dos principais focal points do populismo mundial, esse alguém é o actual primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban..Ainda que seja primeiro-ministro de um país membro da Nato e pertencente à União Europeia, a agenda de contactos internacionais de Viktor Orban revela bem a orientação política que tem assumido, contrária ao que são os objectivos mais imediatos da política externa europeia e também, naturalmente, da norte-americana e ocidental..O modo como a 1 de julho de 2024 assumiu a presidência húngara da União Europeia revela a desfaçatez como desvaloriza os objectivos diplomáticos europeus e segue um rumo contrário ao Tratado de Amesterdão que refere que “ os Estados devem abster-se de qualquer acção contrária aos interesses da União Europeia ou susceptível de enfraquecer a sua eficácia no que respeita à coesão nas relações internacionais”.Tudo isto é letra morta para Viktor Orban que, no início da Presidência Húngara da União Europeia resolveu marcá-la com uma suposta Missão de Paz para a guerra na Ucrânia que, até ao momento, ninguém conseguiu perceber os seus contornos. Perante a passividade dos países da União Europeia e dos seus representantes, Viktor Orban abriu a presidência húngara da EU com visitas a Zelensky, Putin e Xi Jinping. Naturalmente, que os dois últimos o receberam de braços abertos, sem que contudo se conheçam os resultados práticos da missão de paz para a Ucrânia que o levou a estes países. Aliás, a pretensa Missão de Paz de Orban ficou, tristemente, assinalada quando a 8 de Julho, em Kiev, caíram bombas russas sobre um hospital pediátrico que provocaram a morte a 27 pessoas..Viktor Orban passou, ainda, duas vezes por Mar-a-Lago para cumprimentos de circunstância com Donald Trump, que apoia como candidato à presidência dos Estados Unidos..O comportamento de Viktor Orban só é possível pela passividade e fraqueza revelada pelas instituições europeias que pouco ou nada fazem para impedirem um dos seus membros de seguir uma política externa, totalmente, desalinhada. Ainda que Orban não tenha assinado quaisquer acordos ou compromissos escritos, a projecção mediática das suas visitas deixa “mossa” na credibilidade da política externa europeia..Orban é um “cavalo de Tróia” dentro da União Europeia ou se quisermos usar uma expressão mais próxima da ideologia animal é “uma raposa dentro do galinheiro”. Alguém cujos “princípios” políticos estão em contramão ao que é, politicamente, a União Europeia..Após o nascimento do Fidez, partido que fundou em 1980 e que, então, já tinha as marcas do liberalismo e conservadorismo, Orban enveredou por uma cartilha ditatorial na Hungria onde não existe liberdade de imprensa e o poder judicial se encontra sob domínio do governo. Numa reforma judicial contestada por sectores da oposição, Viktor Orban afastou juízes, nomeando novos magistrados da sua total confiança politica..A Constituição húngara, durante a vigência dos seus três mandatos como primeiro-ministro foi, igualmente, revista tendo sido acelerados os mecanismos políticos de centralização da sociedade húngara..Autocrata, defensor de restrições na entrada de imigrantes na Europa, responsável pela censura dos meios de comunicação social, pelo conteúdo de programas estudantis universitários rigorosamente controlados pelo Estado, anti-LGBT, com o poder judicial submetido ao poder político. É este homem que se senta junto dos seus congéneres da União Europeia..As sanções que a União Europeia tem aplicado a Viktor Orban pouco mais são que simbólicas e nada têm feito para um realinhamento deste autocrata aos princípios democráticos da União Europeia..A Europa enfrenta, hoje, sérios riscos existenciais enquanto projecto político de liberdade, democracia, de entendimento e tolerância entre os povos..A guerra na Ucrânia, a incerteza do resultado das próximas eleições norte-americanas em Novembro, a pressão das imigrações, a economia que continua numa situação débil. Estes são alguns dos estigmas que marcam, hoje, a realidade da União Europeia..E este é, também, o “caldo de cultura” ideal para a actuação de um populista como Viktor Orban. É caso para dizer que a União Europeia, com amigos destes, não precisa de inimigos