Um novo conceito estratégico europeu

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Primeiro, as surpreendentes declarações do presidente francês acerca do eventual envio de militares da União Europeia para a frente russo-ucraniana. Depois, a realização dum Conselho Europeu sobre Segurança e Política Externa. Por fim, também as palavras de Emmanuel Macron, a anunciar a necessidade de um novo conceito estratégico europeu. 

Ora, toda esta sequência coloca na ordem do dia, não apenas a disponibilidade dos europeus para se sacrificarem na guerra como, e sobretudo, a urgência de uma nova arquitetura de europeia de segurança.

Contudo, infelizmente, hoje já não é apenas a perspetiva de uma guerra europeia a convocar, a exigir, uma grande estratégia mobilizadora, o tal novo conceito estratégico credível de que fala Macron. É que, ao risco da frente europeia a Leste, se juntou a guerra em Gaza, que, para agravar a ansiedade ocidental, acabou por alastrar transformando-se numa guerra aberta entre as duas potências rivais no Médio Oriente, Israel e Irão.

É certo que a Europa não pode continuar a confundir os seus conflitos e respetivas consequências, com o que acontece no resto do mundo. Mas a verdade é que todos estes acontecimentos, a que poderemos adicionar a incerteza sobre rumo dos Estados Unidos da América após as eleições de novembro, se revelam verdadeiramente impactantes no futuro dos europeus.

Ter um conceito estratégico europeu credível, que volte a garantir a paz na Europa e o seu papel no mundo, significa que os europeus tem de estar disponíveis para combater pelo seu chão sagrado e pela sua liberdade, numa ordem planetária cada vez mais agónica e poliárquica, inclusive, tomando posição fora do seu espaço vital, contra uma qualquer Eurásia dominada pela Rússia, pela China ou num Levante desafiado pelo Irão e seus parceiros.

Assim, será necessário e possível ter um exército europeu, uma nova indústria europeia de defesa, munições europeias? Mas como, com que meios, estruturas e resultados no curto prazo? Quem assumirá os custos desses investimentos, quem gerirá a novas realidades? Os Estados nacionais, a União Europeia, a NATO? Ninguém sabe dizer com ao certo. 

Todavia, no meu entendimento, uma grande estratégia, um conceito estratégico europeu credível, pelo menos no médio prazo, deve continuar, quer por razões práticas e logísticas quer por razões simbólicas, assente nos respetivos Estados, ainda que coordenados no âmbito da União Europeia em parceria estratégica com a NATO. 

Já vai distante o tempo em que se considerava a Europa um império de virtudes, um paraíso de regras, paz e comércio, uma terra de pombas, rodeado de um mundo hostil, dominado pela força, polvilhado de falcões. A realidade mudou.

É por isso que os nossos candidatos às eleições europeias do próximo dia 9 de junho não podem deixar de fazer este debate existencial. E os portugueses, quando votarem para escolher os seus representantes no Parlamento Europeu, devem também conseguir enxergar para além da espuma dos dias e ter plena consciência da nova realidade europeia e internacional.

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