Trump, Palantir e controlo do poder político

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A Palantir Technologies Inc – cofundada por Peter Thiel, apoiante e financiador (100 milhões de dólares [MUSD] em 2024) de D. Trump – é uma empresa com reconhecida capacidade para compilar dados de centenas de fontes, que fornece ferramentas de análise de dados com tecnologia de IA a uma variedade de clientes comerciais e governamentais. A progressiva integração da Palantir com várias agências do governo dos EUA tem expandido constantemente o alcance da vigilância governamental.

Segundo várias mídias, uma ordem executiva de Trump obrigando a “remover as barreiras desnecessárias ao acesso dos funcionários federais aos dados governamentais e promover a partilha de dados entre agências” visa criar as condições para uma maior colaboração da Administração Trump com a Palantir, fundindo o poder do governo com a tecnologia de vigilância privada para construir um sistema único que consolide dados biométricos, comportamentais e de geolocalização numa base de dados nacional centralizada, contendo informações privadas de cidadãos e residentes nos EUA.

No atual governo Trump, o volume de negócios da Palantir com agências federais (o ICE, o DoD, o DHS e o IRS), de acordo com registos públicos referidos pelo New York Times não para de crescer, ascendendo a 113MUSD; a que convém acrescentar um novo contrato de 795MUSD celebrado recentemente com o Departamento de Defesa. Nos últimos 12 meses, as ações da Palantir valorizaram 482%.

Com fundamento em “integração de dados” e “segurança pública”, esta parceria com a Palantir permite implantar sistemas aprimorados por IA para vasculhar tudo, desde feeds de reconhecimento facial e leitores de matrículas de veículos, até postagens em redes sociais e metadados de computadores e telemóveis, abrindo o caminho para uma ditadura digital armada com algoritmos e alimentada por Inteligência Artificial.

Não deixa de ser revelador que esta deriva para uma ditadura digital venha da direita radical americana, que ao longo de décadas tem vociferado contra as tentativas de criação de um mero bilhete de identidade e que, não raro, invoca a necessidade de combater o “Deep State”.

Na realidade, essa direita radical sempre conviveu bem com a criação de mecanismos de violação sistemática e organizada de recolha e tratamento de dados de cidadãos e empresas estrangeiros (em violação de leis de outros países, muitos dos quais aliados), a pretexto da “segurança nacional [externa]”; agora alarga o pretexto à “segurança nacional interna”.

Na situação atual, em que Trump usa e abusa de poderes emergenciais extraordinários, fica claro que o que move essa direita radical não é qualquer preocupação com a segurança nacional ou com os direitos fundamentais dos cidadãos. É uma questão de controlo como tentativa de perpetuação do seu poder político, em parceria com os tecno-oligarcas.

Consultor financeiro e business developer www.linkedin.com/in/jorgecostaoliveira

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