Com a economia da Alemanha a cair, logo no primeiro trimestre deste ano, 0,5%; a de Itália a tombar 0,4% e a de França a tentar esgatanhar-se para um crescimento abaixo de 1%; com a União Europeia a anunciar previsões para a Zona Euro de uma subida do PIB de apenas 0,8%..Com os preços dos combustíveis a voltarem a máximos incríveis, com os automobilistas portugueses a pagarem à volta de 2 euros por litro..Com o Banco Central Europeu a achar que é necessário combater inflações inferiores a 4% através de sucessivas subidas de taxas de juro, que encarecem até ao insuportável os financiamentos das pessoas (em especial as que pagam as suas casas aos bancos) e das empresas..Com a guerra na Ucrânia a tornar-se uma rotina, uma doença crónica, a transformar-se num estado permanente de depressão e de morte na Europa, tal como acontece na Palestina há um ror de anos....Com a Assembleia Geral das Nações Unidas a discutir a reformulação do Conselho de Segurança, do FMI e do Banco Mundial, as instituições criadas após a II Guerra Mundial que garantiram o domínio dos países ocidentais sobre o resto do mundo..Com a ONU a ser incapaz de implementar as políticas necessárias para inverter a crise climática, entalada, de um lado, pelos países mais desenvolvidos que transformaram esse combate pela sobrevivência humana num gigantesco negócio lucrativo e, no outro lado, com a recusa dos países menos desenvolvidos em caírem na morte económica se abandonarem, sem alternativas ou apoios, os combustíveis fósseis (e com estados ricos como a Inglaterra a pensarem em, simplesmente, desistir...).Com a fome no mundo a chegar a 735 milhões de pessoas, a insegurança alimentar a espalhar-se por todo o planeta e o propalado objetivo de eliminar esse problema até 2030 a transformar-se numa trágica anedota....Com os Estados Unidos da América a preferirem espalhar o caos a perderem a liderança internacional para a China..Com os direitos humanos em regressão..Com professores, médicos, enfermeiros, jovens licenciados, diversos técnicos qualificados, em Portugal e em inúmeros outros países, a não encontrarem emprego, a emigrarem quase sempre para o insucesso..Com a acumulação de riqueza numa pequeníssima minoria com poder global a subir sem aparente limite enquanto todos os outros à sua volta empobrecem - apesar de todas as crises, apesar de todas as indignações, apesar de todas as promessas..Com os maiores bancos (muitos deles salvos, há apenas meia dúzia de anos, da falência e com a ajuda dos contribuintes) a registarem lucros históricos sem dar qualquer alívio na pornográfica engenharia de spreads, taxas e comissões com que aquecem o seu comércio financeiro....Com avanços tecnológicos espantosos e acelerados, mas que prometem à humanidade mais novas ameaças do que novos progressos..Com, por todo o lado, serviços públicos degradados, segurança social enfraquecida, hospitais em colapso, poder de compra deteriorado, salários debilitados..Com a irritação permanente, o debate político futebolizado, a mentira dominante, a demagogia viralizada e a mistificação transformada em programa político..Com a dimensão esmagadora dos problemas mundiais e nacionais a encherem-me a mente de preocupações, quando vislumbro enormes mudanças cuja qualidade anseio perceber, quando me parece que a humanidade aparenta ter entrado num procedimento suicidário... constato que não sou capaz..Peço, por isso, desculpa aos eventuais leitores interessados, mas não vou comentar os dois factos políticos geralmente considerados pelos media cá do burgo como os mais relevantes na política nacional da última semana: outro livro de Cavaco Silva e outra moção de censura ao governo apresentada pelo partido Chega. Fica para a próxima.. Jornalista