Ramstein, 20 de janeiro de 2023. O ataque é a melhor defesa
Mykailo Podolyac, Conselheiro do Presidente ucraniano Zelensky, não se cansa de pedir aos países ocidentais a entrega de tanques pesados, sejam os ingleses Chalenger 2, ou os alemães Leopard, de 70/ 80 toneladas, destinados a reforçar o sistemas de defesa ucranianos.
Dir-se-á que as características destes tanques os inserem na componente militar ofensiva e podem ser considerados por Moscovo como um envolvimento mais ativo do Ocidente na guerra da Ucrânia. Por outras palavras, há o perigo de uma escalada do conflito.
Seguramente que sim! É um risco! Com certeza que sim! Mas será que resta outra alternativa aos países ocidentais que não seja fornecerem à Ucrânia sistemas e ferramentas militares que lhe possibilitem uma vitória? Não está já o Ocidente envolvido, inevitavelmente, na guerra da Ucrânia de tal modo que não pode correr o risco de "perder a face", com uma derrota de Kiev e a possibilidade da Rússia alimentar ambições imperialistas em relação aos países mais próximos da fronteira russa como os bálticos, a Polónia ou mesma a Finlândia.
No próximo dia 20 de janeiro, 50 países ocidentais vão reunir-se na base aérea alemã de Ramstein para decidirem como vão continuar a apoiar a Ucrânia. O que têm em cima da mesa como decisão vital é, justamente, a configuração do tipo de material bélico que vão entregar a Kiev. Sistemas defensivos ou evoluir para meios mais ofensivos, de maior alcance, que possibilitem à Ucrânia reconquistar partes ocupadas do seu território e atingir alvos russos ali situados.
O que está em causa na guerra da Ucrânia não é apenas a segurança dos tratados internacionais que conferem aos países a sua soberania e a inviolabilidade das suas fronteiras. Estão em causa também os valores que marcam as sociedades ocidentais, como os princípios democráticos, a liberdade de imprensa, o primado da paz e da concórdia entre os povos. Ora convenhamos que é isto tudo que a atitude russa põe em causa, ao invadir um a país soberano com um povo com forte sentimento patriótico.
Há alguns sinais que a 20 de janeiro, em Ramstein, os 50 países ocidentais podem atribuir à Ucrânia os meios militares de nível superior que esta necessita para aspirar a uma vitória sobre as forças de Moscovo.
O Reino Unido disponibilizou já cerca de 10 tanques Chalenger 2. Por outro lado, a Polónia estará, igualmente, disponível para fornecer a Kiev, 14 blindados Leopard, através da instituição de uma coligação internacional. Veremos o que Portugal vai fazer, dado possuir também tanques Leopard. A Alemanha será decisiva neste assunto. Enquanto fabricante original, possui direitos de reexportação. Por outras palavras, Berlim terá de autorizar, previamente, o envio de tanques Leopard para a Ucrânia, originários de qualquer outro país.
O Ocidente não pode continuar a dar sinais de excessiva prudência perante as constantes ameaças de Moscovo. Não pode temer a permanente narrativa de Moscovo, com as suas cíclicas ameaças. Ou "encolher-se" quando Putin preside á cerimónia de envio da fragata Gorshkov, equipada com mísseis nucleares hipersónicos "Zircon", com capacidade para atingirem qualquer capital europeia. Fragata que vai andar a passear-se nos Oceanos Atlântico, Índico e no Mar Mediterrâneo.
Deste modo, de Ramstein, no dia 20 de Janeiro, terá de sair uma decisão que dê aos ucranianos todos os instrumentos necessários à sua defesa e à sua vitória. Sejam eles defensivos ou de características mais ofensivas. Se assim for feito estará adotada a velha máxima popular de que, muitas vezes, o ataque é a melhor defesa. E parece ser isso que os ucranianos querem. Atacar para melhor se defenderem.
Jornalista