Questões frequentes sobre o cancro da mama

Muito se tem falado sobre a necessidade de um diagnóstico precoce do cancro da mama para um melhor controlo da doença e o aumento da sobrevivência. Igualmente, muito se tem escrito sobre fatores de risco. No Mês de Prevenção do Cancro da Mama venho abordar outras questões que, frequentemente, são colocadas pelas doentes em consulta.
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Segundo dados da Direcção-Geral de Saúde, a incidência do cancro da mama é de 11%, o que significa que em cada 100 mulheres portuguesas, 11 terão um cancro da mama ao longo da sua vida. O cancro da mama tem de facto aumentado desde as últimas décadas do século XX. Atendendo aos dados do Fundo iMM-Laço, este é o tipo de cancro mais frequente na mulher, raramente surgindo antes dos 30 anos de idade, aumentando significativamente a partir dos 45 anos e, principalmente, depois dos 60 anos.

Verifica-se o desconhecimento geral de que o cancro da mama não é uma única patologia, mas sim um grupo heterogéneo de doenças com particularidades próprias e com implicações do ponto de vista terapêutico. Tal leva a algumas incertezas e dúvidas quando as doentes de cancro da mama começam a trocar impressões sobre as suas próprias doenças e sequências de tratamento.

O cancro da mama é agrupado em 4 tipos principais consoante a existência ou não de sobreexpressão à superfície das células tumorais de recetores hormonais de estrogénio e de progesterona, assim como de outros dois fatores: a sobreexpressão de proteínas de superfície HER2 e do índice proliferativo das células. Assim, são classificados em tumores Luminal A ou B, Her2 positivos ou triplo negativos, estes se não tiverem recetores de estrogénio, de progesterona nem Her2. Certo que esta informação pode parecer "técnica de mais", mas a verdade é que são termos cada vez mais abordados em consulta, precisamente para que as doentes percebam as especificidades do seu tipo de cancro.

De acordo com estas características, acrescendo-se a informação sobre o estadiamento da doença (tamanho do tumor, existência de gânglios axilares afetados e/ou de lesões em outros órgãos), da fase da vida da doente (pré ou pós menopáusica), assim se decide qual a sequência ou tipo de tratamento (cirurgia, quimioterapia, hormonoterapia, radioterapia, imunoterapia, terapêutica alvo), podendo não serem necessários ou indicados todos eles.

A quimioterapia, por vezes, é necessária antes da cirurgia (neoadjuvante), outras vezes após, com o intuito preventivo (adjuvante), para além do tratamento em fases mais avançadas da doença. Com frequência, nas fases iniciais do tratamento (neoadjuvante e adjuvante), os médicos são questionados pelos doentes se não é possível efetuar quimioterapia oral.

A ideia geral é de que esta é mais tolerada, com menos efeitos secundários, do que a quimioterapia endovenosa, injetável. Mas, nem sempre é o caso, pois os fármacos de quimioterapia oral não são isentos de efeitos secundários. Não existem citostáticos - substâncias farmacêuticas, geralmente usadas na quimioterapia, que impedem ou dificultam a multiplicação das células - na forma de comprimidos, para o tratamento neoadjuvante da doença, apenas em casos particulares de adjuvância e para a doença avançada. Estas indicações dos fármacos derivam, como em todo o tratamento de oncologia, de resultados analisados estatisticamente em estudos clínicos internacionais que levam a normas de orientação terapêutica aplicadas globalmente pelos oncologistas.

Frequentemente, em consulta, é confundida a hormonoterapia com quimioterapia oral, dado que são fármacos também eles com efeitos secundários, estando descrito que possam dar inclusive, alopecia (perda de cabelo), embora, na prática clínica, aconteça muito raramente. Na realidade, a hormonoterapia pertence a outro grupo de fármacos, que atuam ou diretamente bloqueando os recetores de estrogénio ou interferindo com a sua produção, mecanismo de ação totalmente diverso da quimioterapia.

Para terminar, não posso deixar de referir uma outra pergunta que ouço frequentemente: "Quais as principais localizações da metastização da doença?". A progressão à distância da doença dá-se, principalmente, no osso, no pulmão, no fígado e no cérebro.

Aproveito para deixar um alerta: o que se pretende com um diagnóstico precoce da doença é precisamente evitar a metastização, melhorando a sobrevivência global com a possibilidade de evitar que a doença volte a manifestar-se ao longo da vida da doente, sendo, por isso, muito importante a vigilância regular junto do médico e a adesão ao plano de rastreio nacional.

Especialista em Oncologia Médica no Hospital CUF Tejo - CUF Oncologia

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